O cenário da guerra civil na Síria deu uma reviravolta significativa na última semana, quando uma coalizão de grupos rebeldes armados, sob a bandeira da “Detenção da Agressão”, capturou Aleppo, a segunda maior cidade do país, em um ataque surpresa que desferiu um golpe considerável ao regime do presidente Bashar al-Assad. Esse movimento não apenas marca uma nova fase no conflito, que estava em grande parte adormecido, mas também destaca o fortalecimento de grupos rebeldes que, apesar das suas diferenças internas, se uniram em um objetivo comum: lutar contra Assad, o Estado Islâmico (ISIS) e as milícias apoiadas pelo Irã. Para entender melhor esse panorama, é essencial examinar a natureza e a composição desses grupos rebeldes que estão moldando a nova dinâmica da guerra na Síria.

O ataque que resultou na captura de Aleppo ocorreu em pouco mais de 72 horas e revelou a capacidade dos grupos rebeldes de se organizar e agir de maneira coordenada. O governo sírio, que havia sofrido uma série de derrotas nos últimos anos, viu nessa ofensiva um sinal preocupante de que a resistência armada ainda possui força e determinação. Apesar de várias intervenções estrangeiras, o controle de Aleppo pelas forças rebeldes representa um revés significativo para Assad, que sempre considerou a cidade um bastião de seu poder.

A coalizão rebelde e suas estratégias

Entre os grupos que compõem essa nova coalizão, um dos mais destacados é o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização que evoluiu a partir de Jabhat al-Nusra, o braço sírio da al-Qaeda. Fundado por Abu Mohammad al-Jolani, um veterano de combate que se destacou nas fileiras da al-Qaeda no Iraque, o HTS tem se posicionado como uma força independente, tentando se distanciar das associações terroristas que marcaram seu passado. No entanto, a designação de grupo terrorista atribuída pelos Estados Unidos e outras nações ocidentais em 2018 e a consequente recompensa de US$ 10 milhões por sua captura não abalaram o crescimento da influência de Jolani, que, através de uma estratégia que combina controle econômico e militar, tem conseguido manter uma posição de destaque em Idlib, uma área onde a maioria da população são deslocados internos.

De acordo com analistas, a recente ofensiva em Aleppo foi habilidosamente organizada, com o HTS utilizando seus conhecimentos militares e estruturas organizacionais complexas para implementar um ataque que ninguém esperava. Isso demonstrou não apenas a resiliência dos grupos rebeldes, mas também a fraqueza do regime de Assad, que parece estar perdendo a capacidade de controlar seu território. Nas palavras de Natasha Hall, pesquisadora do Centro de Estudos Estratègicos e Internacionais, “O HTS conseguiu construir esse império controlando a maioria dos setores econômicos em Idlib. Eles são uma força mais independente do que muitos outros grupos”.

O papel do Exército Nacional Sírio na ofensiva

Outro importante ator nessa nova configuração é o Exército Nacional Sírio (SNA), uma coalizão que agrega diversas facções armadas e recebe apoio financeiro e militar da Turquia. O SNA tem se afirmado como um grupo proxy de Ancara e inclui facções como o Front de Libertação Nacional, cujos membros têm a missão declarada de derrubar o regime Assad e estabelecer um estado islâmico regido pela Sharia. No entanto, essa relação com a Turquia tornou-se problemática, já que esses grupos estão cada vez mais focados em conflitos contra as forças curdas, ao invés de concentrar seus esforços contra Assad. Essa mudança de foco levanta questionamentos sobre a eficácia dos combatentes rebeldes, que parecem estar lutando mais pelos interesses turcos do que pelos direitos do povo sírio.

Após a conquista de Aleppo, o tenente-general Ahmed al-Dalati clamou pela proteção de todas as comunidades religiosas e étnicas, destacando a importância de respeitar a diversidade da cidade, que abriga não apenas muçulmanos, mas também cristãos e armênios. Essa postura contrasta fortemente com as táticas extremistas que historicamente marcaram outros grupos rebeldes, oferecendo aos civis uma esperança de estabilidade e respeito – algo que há muito tempo é uma raridade em meio ao caos da guerra civil síria.

Conclusão: As implicações de um novo conflito em Aleppo

A dramática mudança de controle em Aleppo é um forte indicativo de que a guerra civil síria não apenas continua, mas se reinventa à medida que novos atores e alianças emergem. O impacto imediato desse novo cenário será observado nas tensões existentes entre os vários grupos, mas também em como os poderes regionais e internacionais respondem a essa recalibração do poder. À medida que as dinâmicas do conflito evoluem, a comunidade internacional se vê em uma encruzilhada, sendo forçada a reconsiderar estratégias e políticas que há anos são mantidas.

Os desdobramentos futuros de Aleppo e sua importância estratégica terão repercussões não apenas para a Síria, mas para a estabilidade de toda a região. O mundo observa, e o que acontece a seguir poderá fornecer lições valiosas sobre como lidar com conflitos profundamente enraizados que desabrocharam em um panorama global conturbado.

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