Na manhã de segunda-feira, uma tragédia abalou a cidade de Topeka, Kansas, quando Roger Golubski, um ex-detetive policial com um passado manchado por graves acusações e prestes a ser julgado, foi encontrado morto em sua residência. A notícia foi confirmada por fontes próximas ao caso, que indicaram que sua morte foi resultante de suicídio. O ex-policial, de 71 anos, não compareceu à seleção do júri em seu aguardado julgamento, que deveria tratar de acusações de sequestro e estupro de duas mulheres, crimes cometidos há décadas.
Quando questionados pelo juiz sobre a ausência de Golubski, seu advogado, Chris Joseph, expôs durante a audiência que seu cliente estava desolado devido à cobertura midiática recente sobre o caso. O advogado não acrescentou mais comentários quando procurado por fontes da CNN.
As acusações que pesavam sobre Golubski eram particularmente graves e preocupantes, com relatos de que ele utilizava seu cargo para aliciar, sequestrar e abusar sexualmente de mulheres negras vulneráveis ao longo de várias décadas. Documentos judiciais revelaram que as vítimas foram escolhidas a dedo por Golubski, acreditando que seriam desacreditadas devido ao seu perfil social.
Embora Golubski tenha negado veementemente as alegações, seus advogados insinuaram, em documentos apresentados ao tribunal, que os acusadores estavam inventando suas histórias ou repetindo rumores antigos não confirmados. Contudo, o quadro das investigações era sombrio e complexo, uma vez que a Procuradoria Federal havia elaborado indiciamentos contra o ex-detetive na outono de 2022, revelando um segundo caso em que ele estava supostamente associado a um traficante de drogas no tráfico sexual de meninas menores de idade.
Os crimes atribuídos a Golubski emergiram durante um processo civil em que ele e seu antigo departamento foram acusados de incriminar um adolescente de Kansas City por um duplo homicídio em 1994. Lamonte McIntyre, que passou mais de 23 anos na prisão, foi libertado em 2017, e o caso foi encerrado em 2022 após um acordo que resultou no pagamento de 12,5 milhões de dólares pela administração do condado, sem que Golubski ou seu departamento assumissem qualquer responsabilidade legal.
Essas alegações, que remontam aos anos 1980, levantaram sérias discussões na cidade e culminaram em uma nova lei estadual sobre a má conduta sexual no âmbito policial. O escândalo associado ao nome de Golubski foi amplamente coberto pelo Kansas City Star, um dos jornais locais, e rendeu prêmios significativos a colunistas que investigaram o caso, incluindo um Prêmio Pulitzer pela excelência em jornalismo.
O caso ganhou ainda mais notoriedade quando a organização sem fins lucrativos de justiça social Team Roc, do rapper Jay-Z, lançou um anúncio de página inteira no Washington Post, caracterizando a situação como “um dos piores exemplos de abuso de poder na história dos EUA”. É uma afirmação que ressoa com a gravidade das acusações e o impacto que tiveram na comunidade local.
Diante de toda essa turbulência e controvérsia, os promotores admitiram em documentos de pré-julgamento que, apesar da extensa investigação do FBI, tinham escassas evidências além do testemunho das vítimas de Golubski para sustentar suas alegações. Nas palavras dos promotores, a credibilidade das vítimas seria o “centro” do caso.
Assim, estava claro que o julgamento de Golubski se pautaria diretamente pela percepção e confiabilidade das vítimas, conforme detalhado em uma declaração formal apresentada ao tribunal no ano passado, que enfatizava que estes “fatos e histórias serão fundamentais para o desfecho do caso”.
A morte de Golubski gerou uma reação imediata e um novo lamento sobre a impossibilidade de um julgamento público justo. A Procuradoria Federal emitir uma declaração após o falecimento, apontando que, embora o processo não tenha ocorrido, “é sempre difícil quando um caso não pode ser plenamente e justamente ouvido em um julgamento público”. A declaração continuou expressando solidariedade às vítimas e suas famílias, desejando-lhes paz e a oportunidade de cura à medida que lidam com essa nova realidade.
As reverberações desse caso não se dissiparão rapidamente e marcarão a história da aplicação da lei em Kansas. O legado deixado por Golubski se entrelaça com episódios de injustiça que desafiam a confiança do público nas instituições que deveriam protegê-los, e resta saber como as comunidades afetadas continuarão a buscar justiça em um cenário onde, lamentavelmente, a possibilidade de um julgamento público já não existe mais.