A Glovo, uma das principais plataformas de entrega de refeições e produtos da Espanha, sob a propriedade da alemã Delivery Hero, acaba de sinalizar uma mudança significativa em suas operações no país, atendendo às exigências da chamada Lei dos Ciclistas. No último dia 6 de novembro, a empresa anunciou planos para contratar cerca de 15 mil novos ciclistas, que, até então, atuavam como autônomos. Essa decisão surge em meio a uma crescente pressão por parte do governo e da sociedade civil em relação aos direitos trabalhistas no setor de entregas.

A legislação que reconhece os ciclistas e motociclistas que prestam serviços para plataformas de entrega como empregados foi aprovada em 2021. Contudo, a Glovo continuou sua operação com uma maioria de seus entregadores fora de seus registros formais, mantendo a prática de subcontratação para evitar as imposições legais. Agora, com a necessidade de se adequar a uma nova realidade jurídica e social, a Glovo declarou, em um comunicado, que seu objetivo é “evitar mais incertezas legais” e mostrar-se alinhada com as normas trabalhistas.

As mudanças na Glovo não ocorrem em um vácuo. A empresa já enfrentou uma série de penalidades financeiras devido a infrações trabalhistas que ocorrem antes da implementação da Lei dos Ciclistas, o que destaca um histórico conturbado no cumprimento de regulamentações. Além disso, o CEO e cofundador da Glovo, Oscar Pierre, está agendado para comparecer ao tribunal nesta semana para responder a acusações relacionadas a supostas infrações das leis trabalhistas. A situação se complica ainda mais com um processo judicial de concorrência movido pela concorrente Just Eat, que busca uma indenização de €295 milhões por danos.

Em resposta a esse contexto, a Ministra do Trabalho da Espanha, Yolanda Díaz, comentou sobre a mudança de postura da Glovo em uma publicação na rede social X (anteriormente conhecida como Twitter): “As empresas não estavam acostumadas a ouvir ‘não’. A Glovo pensou que poderia agir fora da lei.” Esse comentário reflete o sentimento crescente de que as empresas de tecnologia e as startups devem não apenas inovar, mas também cumprir os requisitos legais que garantem os direitos dos trabalhadores.

Além das questões legais, a decisão da Glovo pode ser vista como uma tentativa de recuperar a confiança do público e dos trabalhadores, que se tornaram cada vez menos tolerantes em relação às práticas de trabalho precárias. A empresa está passando por uma reavaliação de sua estratégia, o que não é apenas uma resposta às pressões legais, mas também uma tentativa de se adaptar a um novo ambiente social onde a responsabilidade corporativa e o bem-estar dos funcionários estão cada vez mais em evidência.

Contudo, resta saber se essas mudanças serão suficientes para melhorar a imagem da Glovo entre os trabalhadores e a população em geral. Historicamente, empresas de entrega como Glovo, Uber e Deliveroo enfrentaram resistência em seus mercados, especialmente em relação a questões trabalhistas. Com o aumento das acusações de exploração e condições de trabalho injustas, o chamado para uma mudança estrutural na maneira como essas empresas operam tornou-se mais forte.

A implementação da nova legislação e a decisão da Glovo em contratar ciclistas como funcionários podem ser um passo positivo não apenas para a empresa, mas para a indústria como um todo. A adaptação não é apenas uma questão de conformidade legal; é uma oportunidade para redefinir o relacionamento com os trabalhadores e garantir que todos tenham condições adequadas de trabalho, remuneração justa e, principalmente, um senso de dignidade que muitas vezes é negligenciado nesse modelo econômico.

Em conclusão, a Glovo parece estar seguindo um caminho de transformação e adaptação que pode finalmente levar a um relacionamento mais saudável com seus entregadores, contribuindo para um ambiente mais justo e equilibrado no setor de entregas na Espanha. Essa reestruturação, no entanto, deve ser monitorada de perto por órgãos reguladores, trabalhadores e pelo público, para garantir que os direitos e a dignidade dos trabalhadores estejam sempre em primeiro lugar.

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