A desinformação nas redes sociais tem se tornado uma constante preocupante em nossas vidas. Recentemente, surgiram alegações infundadas de que a pílula do dia seguinte, conhecida como Plan B, estaria escondida dentro de testes de gravidez vendidos livremente. Essas afirmações capturaram a atenção de muitos usuários, levando a um fluxo de compartilhamentos e discussões nas plataformas digitais. Mas afinal, o que realmente há por trás dessa polêmica? Vamos desvendar esta questão e apresentar o que a ciência e os profissionais de saúde têm a dizer.
Nas últimas semanas, várias postagens nas redes sociais, especialmente no TikTok, alegaram que ao abrir um teste de gravidez, seria encontrado uma pílula de contracepção de emergência “escondida” em seu interior. Um vídeo de um criador de conteúdo intitulado Ryan Telfer, publicado em 6 de outubro, alcançou a impressionante marca de 11,1 milhões de visualizações e quase 50 mil compartilhamentos. Nele, Telfer exibe a abertura de dois testes de gravidez, revelando o que ele afirma ser uma pílula do Plan B, criando uma narrativa em torno de um suposto “hack da vida”. Ao afirmar “Esse pode estar salvando muitas vidas”, ele incita a confusão e o pânico.
A realidade, no entanto, é bem diferente. O que Telfer encontrou durante suas investigações não era uma pílula, mas sim um comprimido dessecante, utilizado para absorver a umidade e prolongar a durabilidade dos testes. O fabricante Clearblue, que produz esses testes, já desmentiu publicamente essas afirmações, enfatizando que o comprimido dessecante presente nos produtos não deve ser ingerido. Em seu site, a empresa deixa claro que isso é uma medida padrão de preservação e segurança.
O impacto viral das alegações sobre a pílula do dia seguinte
Conforme relatos de várias fontes, como a CBS News Confirmed, as alegações se espalharam rapidamente nas redes sociais, com várias postagens repletas de informações errôneas. Além do vídeo de Telfer, um médico, Dr. Joe Whittington, fez um post no TikTok em 19 de outubro, desmistificando essas alegações, esclarecendo que “nenhum teste de gravidez vendido sem prescrição contém uma pílula do Plan B”. De forma semelhante, outros educadores e médicos têm utilizado suas plataformas para combater essa desinformação.
Um exemplo disso é Nicholas Russo, um professor de saúde do nono ano em Nova Jersey. Russo publicou um vídeo no Instagram em 25 de outubro, que já conta com 450 mil visualizações, no qual explica a seus alunos o que realmente é o comprimido encontrado nos testes e por que não deve ser ingerido. Os educadores têm um papel crucial nesse cenário; como Russo destacou, “o teste de gravidez custa cerca de 10 dólares, enquanto a pílula do Plan B varia de 40 a 50 dólares”, o que torna a suposta inclusão da pílula em um teste de gravidez logicamente questionável.
A desinformação em torno dos testes de gravidez não é algo novo. As primeiras alegações surgiram em 2019, levando a Clearblue a emitir uma declaração em seu site. Uma porta-voz da empresa mencionou que se tornaram cientes dos vídeos circulando na internet, porém sem saber a origem das alegações em questão. Desde então, os vídeos continuaram a ser disseminados, principalmente após a reversão da decisão Roe v. Wade no Supremo Tribunal, que trouxe à tona discussões sobre direitos reprodutivos e o acesso à contracepção de emergência.
Desmistificando as verdades sobre a contracepção de emergência
Vale ressaltar que, mesmo que uma pílula do Plan B estivesse presente em testes de gravidez, o uso desse contraceptivo de emergência não é eficaz se o indivíduo já estiver grávido. A pílula do dia seguinte é projetada para ser utilizada imediatamente após a relação sexual desprotegida, sendo a eficácia máxima alcançada nas primeiras 72 horas. Testes de gravidez, por outro lado, identificam a presença de hormônios gestacionais na urina, e o resultado positivo geralmente se torna visível apenas após um atraso menstrual, o que é tarde demais para a pílula do dia seguinte ter qualquer efeito. Para mais informações sobre este assunto, clique aqui.
Além disso, os sábados dessecantes encontrados em testes de gravidez e outros produtos de uso comum são predominantemente compostos por sílica. A Clearblue destacou que, embora esses comprimidos não sejam tóxicos, não são para consumo humano. Em casos de ingestão acidental, a empresa recomenda hidratação adequada e consulta médica se houver sintomas.
A desinformação sobre testes de gravidez representa uma oportunidade educativa
Russo também compartilhou suas preocupações com a proliferação dessas falsas alegações nas redes sociais, mas vê um lado positivo na situação: um momento de reflexão e aprendizado. Ele afirma: “Estas situações são oportunidades de ensino. Quis garantir que meus alunos entendessem que não apenas não se trata de contracepção de emergência, mas também que não é seguro para o consumo humano.”
O educador ainda aponta que a escassez de informações precisas e educacionais sobre sexualidade é um fator que facilita a difusão dessas mentiras. Um estudo realizado pelo Guttmacher Institute revelou que apenas 20 estados exigem que programas de educação sexual incluam informações sobre contracepção. Dr. Celine Gounder, colaborador médico da CBS News, acrescenta que essa falta de educação formal sobre saúde sexual resulta em lacunas significativas no conhecimento da população.
Russo enfatiza a importância de desenvolver a habilidade de pesquisar e questionar informações, incentivando seus alunos a resistir à tentação de acreditar cegamente nas informações que encontram online ou nas conversas informais com colegas. Essa abordagem crítica é vital em tempos onde a verdade muitas vezes é ofuscada pela desinformação.