No momento em que o mundo se vê expectante em relação aos impactos das mudanças climáticas, especialmente após a superação da marca de 1,5 graus Celsius de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais, a luta contra a emissão de gases do efeito estufa se tornou um assunto urgente e crucial. Esse cenário de aquecimento, reconhecido no Acordo de Paris de 2016, acende um alerta em relação a uma série de consequências potencialmente catastróficas, que vão desde secas extremas e inundações frequentes, até a intensificação de furacões e o crescimento acelerado de doenças infecciosas. Além disso, a biodiversidade, incluindo populações de animais selvagens e peixes, sofre com as repercussões desse aquecimento global. Dentro desse contexto, várias startups de captura de carbono têm surgido com o objetivo de reverter essa tendência alarmante ao remover grandes quantidades de CO2 da atmosfera.

Uma dessas startups, a Heirloom Carbon, anunciou na última quarta-feira um sucesso significativo ao arrecadar $150 milhões em uma rodada de financiamento da Série B, que será direcionado para expandir sua tecnologia de remoção de carbono. A estratégia da Heirloom é construir instalações maiores que consigam capturar uma quantidade significativamente maior de carbono, o que, segundo a empresa, contribuirá para a redução dos custos de remoção de cada tonelada métrica de CO2, atualmente estimados entre $600 e $1.000. Segundo Scott Corielle, porta-voz da Heirloom, a expectativa é que os preços sejam reduzidos para entre $200 e $300 por tonelada métrica até o início da década de 2030, um marco que indicaria uma trajetória positiva em direção à lucratividade.

Apesar de serem preços significativamente mais altos do que os $100 por tonelada que especialistas consideram o ponto ideal para tornar a captura de carbono uma indústria viável, Corielle menciona que a Heirloom está a caminho de alcançar essa meta a longo prazo. Se pensarmos no montante recém-arrecadado, ele poderia se traduzir na compra de créditos de carbono suficientes para cobrir de 150.000 a 250.000 toneladas. Para colocar isso em perspectiva, essa quantidade corresponde a aproximadamente uma década de remoção de carbono da planta da empresa localizada na Louisiana, que está programada para abrir em 2026, embora a rodada de investimento não inclua créditos de carbono para os investidores.

Diferentemente de muitas outras startups que se dedicam à captura direta de ar (DAC), a Heirloom não utiliza líquidos para capturar o dióxido de carbono que está presente na atmosfera. Em vez disso, a empresa trabalha com cal triturada derivada de calcário. Este material é tratado com um composto proprietário que acelera a absorção de CO2. Após a absorção, quando uma quantidade suficiente de gás transforma a cal em calcário, a empresa aquece o material para liberar o dióxido de carbono, que é posteriormente armazenado em outro local.

Ainda que a remoção de carbono seja geralmente vista como uma tecnologia cara para implementação em larga escala atualmente, especialistas em climatologia reconhecem que, nas próximas décadas, esse tipo de tecnologia será necessário à medida que o mundo continuar a queimar combustíveis fósseis sem controle. O financiamento foi liderado por Future Positive e Lowercarbon Capital, com a participação de várias empresas e instituições notáveis, incluindo Ahren Innovation Capital, Breakthrough Energy Ventures, Carbon Direct Capital, além de Japans Airlines, MCJ Collective, Mitsubishi Corporation, Mitsui & Co., MOL Switch LLC, Quantum Innovation Fund e Siemens Financial Services.

Um ponto interessante a se notar é a participação da Japan Airlines nesta rodada de financiamento. Especialistas argumentam que pode ser mais fácil e mais barato seguir com voos usando combustível de aviação baseado em combustíveis fósseis e remover a poluição resultante por meio da captura direta de ar. Isso sugere que as companhias aéreas estão considerando a DAC como uma alternativa viável em comparação com os combustíveis eletrônicos, que ainda permanecem economicamente inviáveis.

Esses avanços da Heirloom Carbon e o crescente investimento em tecnologias de captura de carbono são uma indicação de que o setor privado está começando a reconhecer a importância da inovação no combate às mudanças climáticas. À medida que a necessidade de soluções sustentáveis se torna inegável, iniciativas como a da Heirloom podem desempenhar um papel crucial na estabilização do clima global, possibilitando um futuro onde as emissões de CO2 sejam geridas de forma eficaz. Em tempos de incerteza climática, é inspirador ver que a esperança ainda reside na inovação e na capacidade humana de se adaptar e encontrar soluções criativas para os desafios que enfrentamos. Afinal, quando se trata do futuro do nosso planeta, ninguém quer ficar de fora da solução.

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