Recentemente, o Spotify lançou sua tão aguardada ferramenta anual chamada Wrapped, que revela de maneira detalhada os hábitos musicais dos usuários, revelando suas músicas mais ouvidas, artistas favoritos e muito mais. Mas, ao mesclar as experiências de vários colaboradores do veículo Kotaku, ficou evidente que a forma como cada um escuta música pode variar de maneira extraordinária. A sensação compartilhada foi de que essa individualidade levanta questões intrigantes: seria eu a anomalia ou essa diversidade é apenas uma das várias formas de interagir com a música? Agora, fica a pergunta: até que ponto os hábitos musicais são considerados normais ou peculiares?
Por muitos anos, a tradição do Spotify Wrapped foi uma janela para que os usuários adentrassem em suas próprias experiências auditivas, trazendo à tona não só dados técnicos, mas verdadeiras histórias pessoais que estão ligadas à música que escutamos. Para algumas pessoas, os números apresentados pela plataforma são meramente descritivos, mas, para outros, como os redatores mencionados, essas estatísticas se transformam em reflexões profundas sobre suas identidades e comportamentos.
No caso de um dos colaboradores, sua música mais ouvida foi “Espresso”, da cantora Sabrina Carpenter, com impressionantes 1.582 repetições ao longo do ano. Se isso parece excessivo, é porque, para muitos, a média de escuta de uma música ao longo de 12 meses gira em torno de apenas algumas dezenas de vezes. Além disso, seu tempo total de uso da plataforma atingiu 129.053 minutos, o que equivale a três meses inteiros apenas ouvindo música. Isso levanta uma questão pertinente: será que essa forma de consumir música de maneira tão intensa é realmente peculiar ou é uma forma de expressar um estilo de vida que muitos não entendem?
É claro que esses hábitos não se restringem apenas a escutar uma canção repetidamente. Durante a elaboração do seu Wrapped, a sensação de que muitos não compreendem essa necessidade constante de música e a relação emocional que os indivíduos têm com suas canções favoritas foi clara. Muitos encontram em determinadas músicas não apenas diversão, mas também uma conexão emocional profunda. Essa conexão, que se reflete em números impressionantes, pode ser vista como um reflexo do próprio estado emocional do ouvinte ao longo do ano.
Abertos ao diálogo, os colaboradores discutiram suas experiências e perceberam que, decepcionantemente, o que parecia ser um comportamento normal para alguns era considerado anômalo para outros. A necessidade de ouvir repetidamente uma música específica transforma-se também em um ritual, uma prática que muitos desenvolvem a partir de suas experiências de vida, suas vivências, e até mesmo como uma maneira de lidar com momentos emocionais. Ouvir uma faixa por cinquenta ou até mil e quinhentas vezes pode parecer exagerado, mas para essa pessoa, é uma questão de encontrar conforto, identidade e até motivação nos ritmos e letras que ressoam profundamente sua essência.
Como resultado, a sensibilidade musical se torna um ponto de união — ou de separação — entre diferentes pessoas. Outro colaborador da equipe revelou que, embora tenha escutado mais de 5.232 músicas diferentes em um ano, ele encontrou tranquilidade em composições menos conhecidas, enquanto o primeiro colaborador se dediques a artistas mais populares. O que resulta nessa diferença é uma abordagem distinta que envolve tanto a profundidade quanto a amplitude da experiência musical. Ambos possuem suas respectivas preferências, mas acabam se sentindo isolados em suas escolhas.
Interagindo na plataforma, o colaborador mencionou sobre como ele e sua família lidam com a música. Sua esposa e filho têm um gosto por canções populares, o que muitas vezes levou a um espaço onde o que é ouvido se torna tão repetitivo que chega a ser incômodo. Como resultado, a necessidade de interação e apreciação pessoal pela música se torna um dilema, pois enquanto um busca novas experiências sonoras, os outros muitos preferem o conforto do familiar.
Diante desse quadro complexo que emerge do Spotify Wrapped, surge a reflexão: quem realmente tem o hábito errado? A vastidão da experiência musical parece se dividir entre as vozes que clamam por inovação e aquelas que se seguram às suas canções queridas. Assim, concluímos que o Spotify Wrapped não deve ser visto apenas como uma simples análise de dados ou uma forma de entender nossas escolhas de música. Em vez disso, ele serve como um espelho que reflete a beleza da diversidade humana e nossas distintas maneiras de nos conectarmos com o som que nos rodeia. De um lado estão os que fazem de repetição um estilo de vida, enquanto do outro lado estão os que buscam constantemente a nova onda que está por vir. No final do dia, o que realmente importa é a música — e a maneira como ela nos toca é igualmente válida para todos.
Em um mundo onde a música serve como trilha sonora de nossas vidas, somos todos diferentes, mas nossa busca pela expressão e conexão é universal.