Após uma série de eventos marcantes, ficou evidente que o presidente eleito Donald Trump está decidido a fortalecer a indústria de criptomoedas, ao mesmo tempo em que mantém uma pressão antitruste sobre gigantes da tecnologia como Amazon, Meta e Google. Essa estratégia não apenas visa reduzir regulamentações sobre criptomoedas, mas também trazer alívio aos seus principais financiadores em Silicon Valley, que clamam por uma abordagem menos rigorosa em relação ao setor. O resultado disso? Um carteiro dos investidores de capital de risco se sentindo valorizado, e quem não gostaria de ver seus amigos do setor em posições de poder.
No último dia 6 de dezembro, Trump anunciou sua intenção de nomear Paul Atkins para liderar a Comissão de Valores Mobiliários (SEC) e Gail Slater à frente da divisão antitruste do Departamento de Justiça, duas escolhas cruciais que teriam grande peso nas relações de sua administração com o setor tecnológico. Atkins é um defensor da criptomoeda e figura proeminente na Token Alliance, uma associação significativa de comércio de blockchain. Slater, por sua vez, atuou como assessora econômica de JD Vance, o vice-presidente eleito, e possui uma vasta experiência em investigações antitruste e políticas de tecnologia, acumuladas durante mais de uma década no Federal Trade Commission (FTC).
Embora as escolhas de Trump possam parecer menos conhecidas em comparação com nomes de destaque como o ex-representante dos EUA Matt Gaetz, indicado para o cargo de procurador-geral, ou o ex-apresentador da Fox News Pete Hegseth para secretário de Defesa, suas implicações podem ser imensas. Em meio a uma crescente expectativa de uma administração favorável às criptomoedas, o preço do Bitcoin, por exemplo, ultrapassou pela primeira vez a marca de US$ 100.000 em uma rápida ascensão, mostrando que o mercado estava otimista com as perspectivas para o futuro digital.
Gene Kimmelman, ex-funcionário antitruste do DOJ, comentou sobre a agenda que Trump parece estar adotando: “Isso é, de fato, uma espécie de política industrial”. Na mesma linha, Trump fez questão de deixar claro que pretende se afastar da forte regulação do setor de criptomoedas favorecida pelo presidente Joe Biden e seu presidente da SEC, Gary Gensler. Ao mesmo tempo, a crítica à Big Tech deve continuar sob a liderança de Slater.
Em uma publicação recente no Truth Social, Trump criticou abertamente a Big Tech, afirmando que há anos “eles operam à vontade”, sufocando a competição e abusando de seu poder de mercado em detrimento de muitos americanos, assim como das pequenas empresas. Em sua visão, a combinação das nomeações e a pressão antitruste seguirá seu curso dentro da nova administração e por meio da equipe de Slater.
O reflexo das prioridades dos investidores de capital de risco nas escolhas de Trump
A escolha de Trump em se dirigir à “Pequena Tecnologia” deve pacificar investidores influentes como Marc Andreessen e Ben Horowitz. Durante a campanha, eles ajudaram a popularizar o termo e canalizaram milhões para um super PAC favorável a Trump. Tal escolha não é mera coincidência, mas evidencia o crescente poder dos investidores de capital de risco na esfera política. Vance, por exemplo, também traz toneladas de capital e experiência do setor tecnológico. O movimento em direção a uma agenda focada na Pequena Tecnologia, como a defendida por Andreessen Horowitz, que muito criticou a fiscalização do governo sobre as startups de tecnologia, é bastante explícito em ações como estas.
Num manifesto publicado anteriormente, Andreessen criticou o que chamou de “captura regulatória” por monopólios, pedindo uma abordagem mais leve do governo para os novos empreendimentos tecnológicos. O apelo à liberdade de mercado como solução para a maioria dos problemas sociais tem sido a espinha dorsal da defesa de muitos no setor tecnológico, aqueles que agora vêem em Trump um aliado em potencial.
A nova posição de Trump em relação às criptomoedas
O consensus entre os especialistas antitruste é claro: Slater dará continuidade ao trabalho da administração Biden em processos judiciais contra as tecnologias. Com duas grandes ações contra o Google em andamento, bem como a luta contra a Apple e LiveNation, é evidente que o ataque ao poder monopolista não deve arrefecer. Slater é amplamente reconhecida como uma candidata qualificada no campo do direito e da política de competição, e sua posse promete um rigor ainda maior em relação aos gigantes tecnológicos.
As políticas de Atkins em relação às criptomoedas são amplamente esperadas, e suas opiniões anteriores sugerem uma visão otimista sobre o futuro do setor, com uma regulamentação mais flexível que, segundo ele, poderia facilitar o acesso do público americano a plataformas de criptomoedas, reduzindo a dependência de trocas internacionais. A questão que fica é: Trump, que até pouco tempo se referia às criptomoedas como uma “farsa”, agora gera polêmica ao lançar sua própria empresa de criptomoedas e mesmo tendo tentado vender cartões de negociação virtuais — como podemos ver, as voltas do destino são sempre surpreendentes!
A capacidade de Donald Trump de aproveitar as conexões que cultivou no setor de tecnologia em seu governo pode ser uma ferramenta poderosa, mas também um desafio contínuo. O melhoramento das relações entre seus financistas e a política de antitruste pode ser o que ele precisa para reforçar seu apoio, ao mesmo tempo em que mantém uma narrativa que luta contra as injustiças da Big Tech. O grande dilema será equilibrar esses interesses de forma que o resultado final beneficie tanto suas ambições políticas quanto as promessas feitas ao seu eleitorado e aos doadores.
Essas escolhas de Trump podem transformar a paisagem do setor tecnológico e das criptomoedas por gerações. Portanto, enquanto os investidores seguram seus chapéus, a verdadeira questão será: qual será o papel de Trump na urdidura do futuro das criptomoedas na América?