Thierry Frémaux, renomado diretor do Festival de Cannes, apresentará uma coleção primorosa de filmes restaurados no Red Sea International Film Festival. O foco do festival será o novo documentário de Frémaux, intitulado Lumière! A Aventura Continua, uma obra que promete explorar profundamente as origens da sétima arte.

Esta nova produção é uma continuação do documentário anterior, Lumière! A Aventura Começa (2016). O filme será exibido como parte da seleção especial International Spectacular do festival. Com cerca de 100 curtas-metragens restaurados de forma meticulosa, o documentário traz a genialidade dos irmãos Lumière, pioneiros do cinema, à tona, permitindo ao público uma rara visão de suas obras, preservadas pelo Instituto Lumière, onde Frémaux desempenha um papel essencial como diretor.

A importância técnica dos Lumière, inventores do cinematógrafo, com sua revolucionária tecnologia de filmagem e projeção, é amplamente reconhecida. Contudo, neste novo filme, que Frémaux também narra, ele busca examinar a visão artística dos irmãos Lumière, que, desde os primórdios, estabeleceram os fundamentos da “gramática cinematográfica”. Frémaux destaca como eles souberam capturar a simplicidade e a observação direta, características que, segundo ele, ainda são valiosas para os realizadores contemporâneos. “Lumière é o último dos inventores, mas o primeiro dos cineastas”, afirma Frémaux. Ele observa que os primeiros curtas-metragens criados pelos Lumière moldaram elementos essenciais da expressão cinematográfica, incluindo o enquadramento e a luz. Ele também faz uma reflexão sobre a simplicidade necessária na arte do cinema, constatando que muitos cineastas modernos poderiam aprender com a obra dos Lumière.

Durante uma entrevista, Frémaux explica que, em sua busca por inovação e conhecimento sobre a origem do cinema, ele se deparou com muito material inédito e raro disponível no acervo do Instituto Lumière. “A filmografia de Lumière é vasta, composta de 1.500 exibições oficiais e mais 500 que não estão catalogadas. Na sequência anterior, havia cerca de uma centena de curtas, e nesta nova produção, mantemos essa média. Contudo, ainda há muito a desvendar, pois muitos dos curtas desta nova edição são inéditos”, revela ele, cheio de entusiasmo.

Frémaux descreve o encanto que as obras de Lumière lhe causam, afirmando que mesmo as versões mais deterioradas surpreendem pela qualidade estética. Nos últimos anos, a equipe do Instituto Lumière e o Centre National du Cinéma (CNC) se uniram em um esforço de restauração de 500 filmes de sua coleção. “Os filmes são maravilhosos, e escolher as obras para o documentário foi um desafio, pois cada uma delas possui uma beleza única”, observa Frémaux, que menciona que 2025 marcará o 130º aniversário do cinematógrafo Lumière. Ele acrescenta que a história do cinema é vital para compreendermos melhor o presente e a visão artística contemporânea.

O diálogo entre as raízes do cinema e as práticas contemporâneas também é crucial para Frémaux. Ele indica que seu novo filme possui um componente filosófico mais forte em comparação com o primeiro, apresentando uma reflexão sobre a evolução do cinema: “Estamos em 2024; o cinema não é mais uma arte jovem, é uma arte que já possui história. Contudo, há tanto a aprender com o cinema inicial, especialmente no que se refere à simplicidade. Cito Godard: ‘Se quisermos reinventar a gramática, devemos nos deparar com os analfabetos do cinema’”, enfatiza Frémaux, referindo-se à ousadia criativa dos Lumière foi fundamental para a evolução da linguagem cinematográfica.

A qualidade do trabalho dos Lumière ressurge com força nas palavras de Frémaux quando questionado se elementos dos primórdios do cinema ainda se refletem em diretores contemporâneos. Ele menciona o impacto de cineastas como Carl Theodor Dreyer e Jean Renoir, além de diretores mais recentes como Aki Kaurismäki, cujos trabalhos possuem elementos narrativos que ressoam com a técnica dos Lumière. Ele observa que, embora a influência não seja explícita, a inspiração que seus filmes proporcionam ainda é inegável, criando um traço estilístico que percorre a história do cinema.

Por fim, Frémaux conclui a conversa reafirmando a importância do legado dos Lumière para o cinema contemporâneo: “Se considerarmos os Lumière apenas como pioneiros tecnológicos e não examinarmos sua visão artística, corremos o risco de perder uma parte vital da história cinematográfica”, filosofa ele, ao enfatizar que a maneira como Lumière fez cinema continha a linguagem que é fundamental para muito do que vemos hoje em dia. Ele convida todos a revisitar esses clássicos e a redescobrir a essência do cinema, que é a capacidade de contar histórias através de imagens, e cuja simplicidade pode ser a chave para um futuro mais rico na sétima arte.

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