A Flutterwave, uma das startups de fintech mais proeminentes da África, surgiu como um exemplo paradigmático de sucesso no ecossistema de tecnologia do continente desde seu lançamento em 2016. Com a rápida ascensão, a empresa conquistou status de unicórnio em 2021, alcançando uma avaliação superior a um bilhão de dólares, e, no ano seguinte, levantou uma impressionante quantia de 250 milhões de dólares, elevando sua valorização a três bilhões de dólares. O CEO Olugbenga “GB” Agboola foi amplamente reconhecido por sua liderança visionária e considerado um pioneiro no setor de fintech africano, oferecendo serviços de pagamento digital para empresas em toda a população do continente. Entretanto, a trajetória da Flutterwave não esteve isenta de turbulências. No final de 2022, a empresa enfrentou uma série de graves alegações que incluíam assédio no ambiente de trabalho e acusações de lavagem de dinheiro no Quênia, o que provocou um abalo significativo na sua reputação. A Flutterwave negou qualquer indício de impropriedade financeira, afirmando que buscou resolver alegações de assédio de maneira amigável, além de manter uma postura de zero tolerância em relação ao bullying. No entanto, a confiança do público foi severamente abalada. Apesar disso, Agboola acredita que a empresa superou essas adversidades e saiu mais robusta.
Em novembro de 2023, autoridades do Quênia limparam a empresa de todas as acusações relacionadas à lavagem de dinheiro. Além disso, uma ex-funcionária que processou a Flutterwave por danos à reputação e sofrimento emocional teve seu apelo negado ao solicitar uma compensação de 900 mil dólares, embora um valor inicial de 2.500 dólares, que lhe havia sido concedido por um tribunal queniano, tenha sido mantido. Através de sua primeira grande entrevista após as controvérsias, Agboola declarou à CNN que a Flutterwave se comprometeu a reconstruir a confiança e fortalecer suas práticas de governança. “A confiança é o nosso negócio”, afirmou Agboola, ressaltando que a equipe tem trabalhado incansavelmente para recuperar essa confiança perdida.
Desde setembro, a Flutterwave anunciou a nomeação de Mitesh Popat, ex-executivo do Citibank, como seu novo diretor financeiro. Popat, que possui vasta experiência e conhecimento no contexto africano, expressou que o principal desafio é encontrar um equilíbrio, de modo que possa adicionar a estrutura necessária à empresa enquanto mantém a agilidade típica de uma startup, essencial para continuar inovando e crescendo. A empresa também se deparou com incidentes de segurança, mas reafirmou seu compromisso em garantir a segurança do sistema financeiro na África. A Flutterwave mencionou sua parceria com a Comissão de Crime Econômico e Financeiro da Nigéria como parte de seus esforços, além de ter investido consideravelmente em segurança em todos os seus produtos, contando com uma equipe de talentos renomados nas áreas de finanças, riscos, legalidade e conformidade.
A especialista em conformidade e prevenção à lavagem de dinheiro, Bawo Egbakhumeh, que não está conectada à Flutterwave, comentou que o crescimento acelerado da empresa evidenciou vulnerabilidades em suas estruturas de governança e gestão de riscos, revelando controles internos inadequados. “O sucesso inicial se concentrou mais na entrega de serviços ao cliente e, assim, superou a capacidade da empresa de implementar estruturas internas sólidas, deixando-a vulnerável a fraudes e a uma supervisão inadequada na governança,” acrescentou Egbakhumeh, observando, entretanto, que a Flutterwave tem respondido ao reforçar sua governança, aprimorando seus programas de conformidade e aumentando a transparência e responsabilidade.
No último ano, Agboola afirmou que a Flutterwave obteve novas licenças de pagamento em países como Gana, Zâmbia, Uganda e Ruanda, além de mais de 20 nos Estados Unidos, por meio de um importante banco parceiro, facilitando transações transfronteiriças entre os EUA e a África. Embora a empresa tenha mencionado anteriormente planos para uma oferta pública inicial (IPO), Agboola destacou que o foco atual está na expansão e aprofundamento da penetração no mercado de pagamentos corporativos, considerando o IPO como uma entre muitas oportunidades futuras de crescimento.
Além das melhorias em governança e estrutura, Agboola vislumbra um futuro em que os diversos sistemas de pagamento da África estejam integrados em um mercado unificado. “A África hoje não é um país, mas queremos que pareça uma,” ele disse, ao abordar os desafios associados à navegação nos sistemas de pagamento fragmentados do continente, como o M-Pesa no Quênia e as transferências bancárias na Nigéria, que complicam as transações transfronteiriças. Ele exemplificou dizendo que uma transferência de dinheiro da Nigéria para Gana pode levar até três dias. “Nossa missão é garantir que empresas e consumidores possam transacionar pelo continente com a mesma facilidade que em suas transações locais,” declarou Agboola.
Com sede em São Francisco, mas com um forte enfoque no mercado africano, a Flutterwave anunciou recentemente uma parceria com o MainStreet Bank, o que possibilita acesso a 49 estados dos EUA e permite transações transfronteiriças para empresas africanas por meio do aplicativo Send. Agboola enfatizou que essa colaboração, juntamente com a integração da American Express na rede de pagamentos da Flutterwave, representa uma conquista significativa para as empresas africanas, permitindo-lhes alcançar milhões de novos clientes globalmente. “Essas parcerias são transformadoras,” ele ressaltou, observando que, ao trabalhar com o MainStreet Bank, a Flutterwave não está apenas conectando a África aos EUA, mas facilitando pagamentos mais rápidos e confiáveis tanto para comerciantes quanto para consumidores em ambos os continentes. Além de parcerias estratégicas, a empresa está investindo consideravelmente em novas tecnologias, como inteligência artificial, para fortalecer ainda mais sua infraestrutura de pagamentos. “Estamos comprometidos em nos manter à frente, aproveitando a IA para aprimorar nossa conformidade, monitoramento e gestão de riscos,” finalizou Agboola.