No dia 1º de dezembro, a Netflix anunciou a remoção de quase todos os seus programas interativos do catálogo. A decisão, que afetou diretamente obras queridas pelos fãs, como os shows baseados em Jurassic World, Carmen Sandiego e Boss Baby, gerou uma onda de descontentamento. Entretanto, em meio a este cenário desolador, interagindo no espaço virtual, surgiu um grupo de dedicados fãs que, juntamente com alguns ex-colaboradores desses programas, estão determinados a manter viva a essência dessas experiências interativas, mesmo após a plataforma ter desligado o sinal.
Entre os poucos programas que permaneceram após a poda estão quatro títulos que ainda capturam a atenção do público: “Black Mirror: Bandersnatch”, “Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy vs. the Reverend”, “Ranveer vs. Wild with Bear Grylls” e “You vs. Wild”. A paixão por esses conteúdos interpôs um grupo de fãs que não deixaram o desânimo consumir sua esperança e se uniram em torno da iniciativa de arquivar e preservar o material que, a partir da decisão de Netflix, começou a desaparecer.
De acordo com reportagens da 404 Media, antes da data fatídica de 1º de dezembro, fãs organizaram-se por meio do Discord, um aplicativo que se popularizou entre gamers e grupos online, com o objetivo de gravar e arquivar o máximo possível dos programas que estavam prestes a ser removidos. Algumas pessoas, motivadas pela nostalgia e pela vontade de resgatar conteúdos que, de outra forma, seriam perdidos para sempre, se dedicaram também a reverter a engenharia dos mecanismos que a Netflix utilizava para criar essas experiências interativas inovadoras. Pixel, um dos apoiadores da causa, confessou à 404 Media que não poderia permitir que esse trabalho fosse desperdiçado. “Estamos falando de mais de 100 horas de vídeo e aproximadamente mil horas de dublagem”, afirmou.
Os esforços têm surtido efeito. Algumas produções já estão completamente emuladas e podem ser desfrutadas através de players de vídeo alternativos, enquanto outras foram carregadas no YouTube. Lá, a interatividade que caracterizava as sessões de Netflix é emulada com a utilização de links e cartões na tela, similar às campanhas promocionais exibidas pela plataforma sobre esses mesmos programas no passado. Entretanto, para garantir que essas iniciativas continuem a prosperar, a equipe organizadora decidiu manter em sigilo alguns detalhes sobre o canal de Discord e outras plataformas utilizadas para esses arquivamentos, uma vez que existe uma preocupação de que a Netflix possa intervir caso esses métodos alternativos se tornem muito conhecidos publicamente.
De acordo com Pixel, os shows interativos dependiam de um “vídeo interno” que continha todos os diferentes caminhos e finais possíveis. Para alcançar isso, foram utilizados dois arquivos JSON que controlavam as decisões e as etapas a serem puladas nos vídeos, além de puxar assets usados em botões. “Atualmente temos um emulador em prova de conceito rodando a partir de um script Python que usa os JSONs para fazer decisões funcionais, embora precise de alguns ajustes e imagens de botões que estão apresentando falhas no momento”, detalhou Pixel. A equipe conta com um membro na Turquia que se encarrega de armazenar os arquivos assim que o emulador estiver operando em uma página da web.
O principal desafio enfrentado pelos fãs nesse momento é manter um controle sobre a vasta quantidade de informações e conteúdos que estão sendo arquivados. “Temos muitas pessoas contando conosco”, disse Pixel, “E recebo muitos DMs de pessoas perguntando como jogá-los.” Essa mobilização, impulsionada pela comunidade e pela paixão por essas produções, mostra que, embora a Netflix tenha decidido encerrar essa fase, a essência e a experiência interativa que estas obras proporcionaram continuam a viver no coração de seus fãs. É fascinante ver como a tecnologia e a determinação podem unir as pessoas em prol de um propósito comum, mesmo diante de decisões corporativas que parecem irreversíveis.
Diante de todo esse cenário, podemos nos perguntar: até onde podemos ir para preservar as experiências que marcam nossas vidas? A iniciativa desses fãs nos ensina que a cultura e as paixões nunca devem ser esquecidas, e que, a despeito de medidas corporativas, a força da comunidade pode reviver o que se pensava perdido.
Para mais informações sobre a situação dos programas interativos da Netflix e as iniciativas de arquivamento, confira este link.