A crescente dependência de dispositivos conectados à internet, como câmeras de segurança e produtos da Internet das Coisas (IoT), levanta questões não apenas sobre privacidade, mas também sobre segurança nacional. Neste contexto, a startup israelense Toka, apoiada pela renomada Andreessen Horowitz, está se destacando ao oferecer serviços que, segundo suas declarações, possibilitam a obtenção e até a eliminação de imagens gravadas por câmeras de segurança, além de trabalhar em outras áreas da tecnologia de comunicação. O aumento do interesse em hackeamento de dispositivos em vez dos tradicionais celulares e e-mails levanta um debate importante sobre a legalidade e ética dessas práticas no cenário atual.

A Toka, que já havia atraído a atenção da mídia em um artigo da Haaretz em 2022, procura agora expandir suas operações para o mercado governamental dos Estados Unidos. A empresa está com vagas abertas para um “Diretor de Cliente EUA”, cargo que requer uma sólida história de vendas de tecnologia dentro do Departamento de Defesa e agências de segurança nacional. A busca por um engenheiro de sucesso do cliente que possa ajudar na implementação e treinamento de seus produtos demonstra a ambição da Toka em se firmar neste nicho delicado.

Embora a Toka tenha se ressaliado de posicionar-se diretamente em questões acerca de suas atividades com o governo dos Estados Unidos, um porta-voz da empresa esclareceu que a companhia vende exclusivamente para forças armadas, organizações de segurança interna, agências de inteligência e polícia em solo americano e aliados próximos, sempre em conformidade com as leis locais. Essa afirmação não apenas visa reforçar a legalidade de suas operações, mas também a intenção de não ser rotulada como um fornecedor de spyware de natureza duvidosa, como o agora sancionado NSO Group.

O hacking de dispositivos IoT não é uma novidade no segredo que permeia as operações de defesa e inteligência. Israel, onde a Toka está sediada, tem ampla reputação nesse domínio, sendo que, em 2023, o Hezbollah até advertiu a população libanesa para desligar suas câmeras de segurança para evitar que as forças israelenses as hackeassem em busca de alvos.

Entretanto, o olhar atento da maioria das pessoas em ambientes comuns faz com que, em vez de um campo de batalha, essa tecnologia possa ser utilizada em situações que afetam o civismo e a privacidade do cidadão. Recentemente, foi noticiado que Ben Horowitz, co-fundador da a16z, tentou fazer uma doação à polícia de Las Vegas para a aquisição de software da Toka, mas sua proposta não foi aceita. Essa recusa e a crescente cautela no uso de tecnologia monitors revelam o tenso equilíbrio entre a segurança pública e os direitos civis.

A Toka já arrecadou até o momento cerca de 37,5 milhões de dólares desde sua fundação em 2018, contando com um portfólio de investidores consistentes, que incluem a Dell Capital e outros. Em 2022, houveram rumores de que a Toka estava à procura de colaborar com as Forças Especiais dos EUA e uma agência de inteligência americana não revelada. No entanto, a empresa permanece discreta sobre seus clientes e continua a monitorar de perto suas vendas internacionais, evitando participação em mercados onde a supervisão de direitos civis é a menos tolerante.

Além disso, a Toka se apresenta como proativa em suas operações ao afirmar que possui uma lista de países com os quais fazem negócios, levando em consideração aspectos relacionados aos direitos civis, corrupção e a regra da lei. Para auxiliar nessa análise, a empresa conta com dois consultores externos de destaque: o professor Peter Schuck da Yale Law School e Jacob Frenkel, atual presidente do JP Morgan Chase International, que têm contribuído com sua vasta experiência e engajamento na supervisão da ética de sanções comerciais.

Por fim, a busca da Toka por um espaço no complexo e delicado setor de segurança pública e tecnologia representa um desafio tanto para organismos que lidam com a segurança quanto para os cidadãos comuns, que devem estar sempre atentos sobre como suas informações e privacidade podem ser impactadas por decisões tecnológicas. À medida que as agências governamentais de segurança utilizam cada vez mais tecnologia avançada, a linha que separa a segurança da privacidade ocorre em um espaço cada vez mais nebuloso. Portanto, a pergunta que permanece é: a tecnologia deve ser uma aliada na segurança ou um potencial infrator dos direitos civis? Este será, sem dúvida, um debate pertinente à medida que entidades como a Toka continuarem a navegar essa nova fronteira.

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