Washington — Em um emocionante anúncio que reacende a esperança sobre um caso que perdura há mais de uma década, a família de Austin Tice, um jornalista freelance sequestrado na Síria, declarou que informações recebidas indicam que ele está vivo e bem. O anúncio, realizado em uma coletiva de imprensa no National Press Club, expressou não apenas a esperança, mas também uma crescente frustração em relação à inação do governo dos Estados Unidos para trazer Austin de volta para casa.
A mãe de Austin, Debra Tice, afirmou com convicção: “Temos uma fonte significativa, já verificada por várias instâncias de nossa administração, que confirma que Austin Tice está vivo e sendo bem tratado.” O sentimento de alívio e expectativa permeou as declarações da família, que, por mais de doze anos, aguarda notícias sobre o filho desaparecido, enquanto as circunstâncias políticas complicadas da Síria pairam sobre a situação.
Austin Tice, veterano da Marinha e jornalista, colaborou com várias organizações de mídia, incluindo CBS News, Washington Post e McClatchy. Ele desapareceu em 14 de agosto de 2012, enquanto cobria a guerra civil síria. Um breve vídeo que surgiu semanas depois em plataformas como YouTube e Facebook mostrava um Tice angustiados, vendado e cercado por seus aparentemente capturadores; essa foi a última vez que ele foi visto. Desde então, a sua situação gerou uma onda de apelos internacionais pela sua libertação.
Embora ninguém tenha assumido a responsabilidade pelo sequestro, o presidente Joe Biden afirmou que os Estados Unidos têm “certeza de que ele está sob custódia do regime sírio”. Esta afirmação não só destaca a gravidade da situação, mas também a complexidade da diplomacia envolvida no caso. A família Tice acredita que o governo dos EUA está retendo detalhes sobre a condição de Austin, mas a matriarca da família, Debra Tice, sinaliza que “sempre soubemos que ele está sob custódia do governo sírio”.
O pai de Austin, Marc Tice, também compartilhou que a nova informação recebida representa uma mudança significativa em relação às pistas anteriores. “Estamos confiantes de que esta informação é atual. Indica, até mesmo, que Austin está vivo e sendo cuidado”, disse ele, ressaltando a credibilidade da fonte das recentes declarações. Com o apoio da família, Debra Tice confirmou que “quase todas as entidades do governo dos Estados Unidos ligadas à segurança verificaram a veracidade das informações”.
Recentemente, os membros da família Tice viajaram a Washington para se reunirem com autoridades governamentais, em meio a um novo desafio da ofensiva rebelde síria que ameaça o regime do presidente Bashar al-Assad. Vale ressaltar que esta visita já estava sendo planejada desde julho, antes mesmo de se intensificarem os conflitos na região. Durante suas reuniões com o Conselho de Segurança Nacional, incluindo Jake Sullivan, o conselheiro de segurança nacional de Biden, e representantes do Departamento de Estado, a família fez questão de perguntar se a atual situação na Síria poderia ser utilizada a favor da posição de Austin.
Apesar de seus apelos, a família não obteve garantias concretas sobre uma reação do governo dos EUA, com Simon Tice, irmão de Austin, expressando sua frustração sobre a aparente desconexão entre as intenções expressas pelo presidente e as ações realizadas pelas autoridades. “Parece haver uma enorme desconexão entre o que o presidente Biden estabeleceu como prioridade para Austin e o comportamento das pessoas que ocupam posições abaixo dele”, afirmou Simon.
Pela perspectiva da família, há uma mistura de esperança e decepção. Debra Tice, ao comentar sobre a possibilidade de uma mudança no comando político, expressou otimismo quanto à influência que o presidente eleito Donald Trump poderia ter no futuro do caso, uma vez que durante seu mandato anterior, ele se mostrava “obcecado” por trazer Austin para casa, mas seus esforços frequentemente esbarravam em dificuldades impostas por membros de seu próprio gabinete. “Mike Pompeo e John Bolton fizeram o que podiam para evitar que isso acontecesse”, concluiu.
Enquanto a batalha pela libertação de Austin Tice continua, sua família reafirma a determinação de não desistir do filho e nutre a esperança de que qualquer nova informação possa aproximá-los do que esperam: um reencontro emocionante e muito esperado. A situação representa não apenas o drama de uma família, mas também os desafios persistentes que o regime sírio e os conflitos da região perpetuam sobre os jornalistas que se aventuram em buscar a verdade. Afinal, a luta pelo direito à informação pode muitas vezes implicar em altos riscos. O desejo por justiça e pela vida de Austin ressoa em cada declaração realizada por seus familiares, que se tornaram vozes ativas na resistência contra o esquecimento.