No dia 4 de dezembro, o executivo-chefe da UnitedHealthcare, Brian Thompson, tragicamente perdeu a vida em um ataque no coração de Manhattan, em frente ao hotel New York Hilton Midtown. As autoridades policiais qualificaram o episódio como um assassinato deliberado e direcionado, um ato que não só chocou a cidade, mas também enviou ondas de preocupação em todo o setor de saúde. Os cartuchos de bala encontrados na cena estavam gravados com palavras como “negue”, “defenda” e “depôe”, semelhantes a uma frase que caracteriza a estratégia de algumas seguradoras de saúde ao lidarem com pedidos de cobertura, conhecida como “atrasar, negar, defender”. Este trágico evento não apenas ressaltou a vulnerabilidade de líderes corporativos, mas também provocou um debate acalorado sobre a percepção pública da indústria de seguros de saúde.
Embora a motivação do assassinato de Thompson ainda não tenha sido determinada, o impacto sobre a segurança de executivos da área da saúde é imediato. Segundo Matthew Dumpert, diretor-gerente da Kroll Enterprise Security Risk Management, inúmeras solicitações de proteção intensificada chegaram em seu escritório nas 48 horas seguintes ao incidente. “Um executivo é o rosto da organização. Um CEO é um ímã que atrai a ira, independentemente do produto ou serviço oferecido”, afirmou Dumpert em entrevista ao CNBC. Este fenômeno expõe a interação complexa entre a imagem pública de executivos e a tensão crescente entre a população e as corporações, especialmente em um setor frequentemente criticado.
Logo após a morte de Thompson, a UnitedHealthcare, a maior seguradora de saúde privada nos Estados Unidos, retirou as fotos de Thompson e de outros executivos de seu site, embora o motivo para tal ação permanece obscuro. Essa mudança parece estar em sintonia com a preocupação generalizada em relação à segurança pessoal de líderes corporativos, um tema que tem ganhado novo destaque à medida que as empresas enfrentam críticas crescentes, especialmente no setor de saúde.
A necessidade de proteção para executivos de alto perfil cresceu nos últimos anos, refletindo um ambiente de negócios cada vez mais volátil. Contudo, muitas organizações continuam a priorizar outros aspectos da operação em detrimento da segurança, com Rob D’Amico, um ex-agente do FBI, apontando que as recompensas financeiras a curto prazo frequentemente levam à negligência dos investimentos em segurança. “Acho que as empresas de saúde terão que levar isso a sério. Muitas vezes, as companhias não priorizam segurança. É quase sempre uma das primeiras áreas a ser cortada”, disse D’Amico. Ele prevê que o assassinato de Thompson pode, infelizmente, desencadear um aumento das ameaças direcionadas a executivos de alto escalão devido ao clima de descontentamento em relação às decisões das seguradoras.
A reação da sociedade à morte de Thompson tem sido polarizadora. Muitos americanos expressaram seus sentimentos mistos nas redes sociais sobre o ato criminoso, refletindo um descontentamento profundo e abrangente com o sistema de saúde. Leemore Dafny, professora da Harvard Business School e da Harvard Kennedy School, descreveu a resposta online ao assassinato como “horripilante”, enraizada em anos de frustração do consumidor com o sistema de saúde nos Estados Unidos. “Algumas pessoas expressaram que essa é uma consequência inesperada de uma grande antipatia e desconfiança pela indústria de seguros”, observou Dafny. No entanto, ela se apressou em enfatizar que “isto é assassinato. Não é uma expressão de descontentamento com uma indústria”. Essa perspectiva aponta para a complexidade da reação pública, que varia entre aqueles que carecem de suporte e aqueles que reconhecem que a violência não é uma solução para as falhas do sistema.
Dafny destaca que a indústria de seguros de saúde enfrenta um histórico de relações públicas ruins, muitas vezes devido à própria responsabilidade das seguradoras. “Elas não são santas… mas estão longe de serem as responsáveis por tudo o que estamos vivendo na saúde dos EUA”, concluiu, sublinhando que há uma quantidade considerável de culpa a ser compartilhada, enquanto o debate sobre a moralidade e praticidade das seguradoras de saúde continua.
Em uma era de crescente polarização e desconfiança em relação às corporações, a morte trágica de Brian Thompson serve como um alerta para a necessidade imperativa de considerar a segurança de executivos em todos os níveis e numa reflexão mais ampla sobre as práticas e opiniões que envolvem a indústria da saúde. As consequências desse evento ainda estão se desenrolando, e o setor terá que confrontar as realidades de um público que está cansado de lidar com as incertezas e custos desenfreados que caracterizam o atual sistema de saúde estadunidense.