Na última quinta-feira, 5 de dezembro de 2024, a OpenAI deu um passo ousado ao lançar o ChatGPT Pro, um serviço que promete revolucionar a interação com chatbots por meio de seu novo plano de assinatura que custa $200 mensais. Enquanto muitos especialistas e usuários estão debatem suas funcionalidades e utilidade, uma questão persiste: quem realmente estaria disposto a desembolsar essa quantia por um chatbot? A resposta a essa pergunta é mais complexa do que pode parecer à primeira vista.
O novo plano ChatGPT Pro oferece acesso ao que é chamado de “modo o1 pro,” que segundo a OpenAI, permite que a IA use mais capacidade computacional para fornecer as melhores respostas às perguntas mais desafiadoras. Este modo atualizado da versão padrão do modelo de raciocínio o1 foi projetado para oferecer respostas que são supostamente mais precisas e abrangentes em áreas como ciência, matemática e programação. No entanto, a empolgação inicial logo foi acompanhada de ceticismo por parte da comunidade de inteligência artificial e dos usuários em potencial.
Após o lançamento, rapidamente surgiram nas redes sociais diversos exemplos de usuários tentando explorar as capacidades do o1 pro, desde pedidos criativos como desenhar unicórnios até projetar um computador baseado em caranguejos. No entanto, as promessas da OpenAI logo foram colocadas à prova, e muitos se questionaram se os $200 realmente valiam a pena quando o modelo não parecia atender às expectativas criadas. O cientista da computação britânico Simon Willison, por exemplo, fez uma indagação pertinente: “A OpenAI compartilhou exemplos concretos de solicitações que falham no o1 padrão, mas são bem-sucedidas no o1 pro?”
A dúvida levantada por Willison destaca uma preocupante lacuna na proposta de valor da OpenAI. Embora o serviço prometa a remoção de limites de taxa e acesso ilimitado a outros modelos da OpenAI, a falta de exemplos tangíveis que demonstrem uma melhora significativa no desempenho deixou muitos forçando-se a questionar a validade da nova assinatura, especialmente considerando que $2.400 por ano não é uma quantia desprezível.
Além disso, surgiram rapidamente relatos de falhas do o1 pro, incluindo problemas na resolução de quebra-cabeças de Sudoku e dificuldades em entender piadas visuais que qualquer ser humano acharia simples de decifrar. Grupos de usuários começaram a compartilhar esses fracassos nas redes sociais, evidenciando um desempenho que alguns consideram insatisfatório para um modelo que se propõe a resolver problemas complexos. Os próprios benchmarks internos da OpenAI sugerem que o desempenho do modelo o1 pro é apenas levemente superior ao modelo padrão em problemas de programação e matemática.
O CEO da OpenAI, Sam Altman, teve que reverter as expectativas de que o ChatGPT Pro seria indispensável para todos, reafirmando que “a maioria dos usuários ficará muito satisfeita com o o1 na camada Plus do [ChatGPT]”, mantendo a noção de que a versão gratuita ou a Plus seriam as opções mais adequadas para o público geral.
Isso levanta uma questão válida: quem, de fato, se beneficiaria deste novo e caro recurso? Ao que parece, talvez apenas uma fração muito específica da população de usuários. Para aqueles que simplesmente desejam explorar curiosidades ou solicitar ensaios leves, como “escreva um ensaio de três parágrafos sobre morangos sem usar a letra ‘e'” ou resolver problemas matemáticos, pagar $200 por mês pode parecer excessivo, especialmente quando o modelo padrão é capaz de fornecer respostas satisfatórias na maioria das situações.
Em busca de uma análise mais profunda, entrevistei Ameet Talwalkar, professor associado de aprendizado de máquina na Carnegie Mellon. Ele expressou sua preocupação sobre os riscos envolvidos ao aumentar o preço de um serviço em dez vezes, sugerindo que em algumas semanas teremos uma noção mais clara sobre o interesse do público por essas funcionalidades avançadas. Em outro ponto de vista, Guy Van den Broeck, cientista da computação da UCLA, opinou que o preço do serviço parece desproporcional e ponderou se plataformas de raciocínio caras se tornarão a norma no futuro.
Uma interpretação generosa da situação seria encarar o lançamento como um erro de marketing. Descrever o o1 pro como “o melhor para resolver os problemas mais difíceis” não fornece informações suficientes aos clientes em potencial sobre sua utilidade real. Comentários vagos sobre a capacidade do modelo em “pensar mais longe” e demonstrar “inteligência” não contribuem para estabelecer um argumento convincente sobre o valor do serviço. O que se espera são exemplos concretos que justifiquem a proposta de pagamento elevado.
Quem estaria realmente disposto a investir tanto dinheiro em uma ferramenta que promete resultados excepcionais, mas não oferece garantias definitivas de desempenho superior? Em última análise, a OpenAI já indicou que seu público-alvo são especialistas e pesquisadores em áreas críticas, como a Medicina, onde diagnósticos e respostas precisas são fundamentais. A empresa planeja fornecer acesso gratuito ao ChatGPT Pro a um punhado de pesquisadores em instituições de prestígio, já que, no campo da saúde, a margem para erros é mínima.
No entanto, a elevada etiqueta de preço coloca a barra alta para o desempenho esperado. E, conforme demonstrado nas reações iniciais nas redes sociais, o ChatGPT Pro pode não ter conseguido conquistar a adesão desejada dos usuários, evidenciando que, antes de se comprometer a pagar, é vital que os interessados pesem os prós e contras com cuidado.