Investigação independente faz recomendações para reforma urgente da agência de proteção
Uma análise rigorosa conduzida por um painel independente a respeito da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump durante um comício em Butler, Pennsylvania, em julho, revelou falhas “profundas” na atuação do Serviço Secreto. As conclusões deste estudo, que foram divulgadas em um relatório na quinta-feira, enfatizam a necessidade de uma “reforma fundamental” na forma como a agência desempenha seu papel de proteção a altas figuras governamentais. Os membros do painel afirmaram que erros a nível operacional e problemas mais abrangentes relacionados à cultura e à estrutura da instituição exigem atenção imediata.
O relatório constatou que durante o comício, no dia 13 de julho, ocorreram “numerosos erros” que culminaram na tentativa de assassinato, além de revelarem problemas sistêmicos que devem ser abordados com urgência. A carta que acompanhava o relatório, assinada por todos os quatro membros do painel, expressou que “se não houver essa reforma, o Painel de Revisão Independente acredita que outra situação como a de Butler pode e irá se repetir.” Os integrantes do painel prestaram homenagens às vítimas do incidente, dedicando seu trabalho a Corey Comperatore, que foi mortalmente ferido, e a James Copenhaver e David Dutch, que ficaram feridos, assim como às suas famílias.
Os membros identificaram seis falhas principais conectadas ao ataque: a ausência de pessoal designado para garantir a segurança do edifício AGR, que serviu de ponto de tiro para o ofensivo Thomas Matthew Crooks; a falta de uma abordagem proativa para lidar com a ameaça que o prédio representava; problemas de comunicação entre o Serviço Secreto e as forças de segurança locais; e ainda a ineficiência em identificar o atirador, que foi avistado mais de 90 minutos antes de abrir fogo. A inação do Serviço Secreto em informar os líderes da proteção de Trump sobre o incidente também estava entre as falhas graves apontadas, junto com a incapacidade de detectar um drone controlado pelo atirador horas antes do ataque.
Além dessas falhas, o painel levantou preocupações sobre a falta de clareza na definição de responsabilidades de segurança nas localidades onde os protegidos se encontram. Também indicou uma “atitude cultural corrosiva” em relação aos recursos e expressou uma “preocupante falta de pensamento crítico” entre os funcionários do Serviço Secreto, tanto antes quanto depois da tentativa de assassinato. O painel criticou a liderança do Serviço Secreto por não responsabilizar adequadamente a segurança planejada e executada durante o comício em Butler.
Com vistas a mitigar os problemas identificados, o painel recomendou a designação de uma nova liderança para o Serviço Secreto que venha de fora da agência, além de um reenfoque nas suas “missões de proteção essenciais”. O relatório enfatizava que “o Serviço Secreto deve ser a principal organização governamental de proteção do mundo”, e lamentou que, no seu estado atual, essa função não está sendo cumprida adequadamente.
Faltas na comunicação e planejamento levam a falhas de segurança
O estudo detalhou o planejamento que antecedeu o comício, começando com uma reunião realizada pelo Serviço Secreto com a policial local e estadual no dia 8 de julho. O atirador disparou oito tiros de um rifle semiautomático antes de ser neutralizado por um atirador de elite do Serviço Secreto. O agente do Serviço Secreto designado para coordenar os trabalhos de segurança em Butler havia se formado na academia do Serviço Secreto em 2020 e se juntou à equipe de segurança do ex-presidente em 2023, mas o relatório destacou que sua experiência prévia no planejamento de segurança era mínima, e inadequada para um evento da magnitude de um comício presidenciais.
O painel concluiu que a vulnerabilidade do edifício AGR, que não foi devidamente assegurado, representa uma falha de segurança crítica, especialmente considerando que havia pessoal disponível para isso. As falhas de comunicação entre o Serviço Secreto e as esferas de autoridade locais e estaduais foram notificadas como “inconsistentes e variáveis”, gerando um “caos” nas interações entre os agentes, que utilizavam rádio, telefone celular e email de forma desigual. O relatório lamentou que o atirador nunca foi abordado, mesmo após ser visto repetidamente e comportando-se de forma suspeita, algo que deveria ter acionado uma intervenção policial no local.
Três funcionários do Serviço Secreto souberam que o atirador estava no telhado do edifício AGR instantes antes de eclodir o tiroteio, mas, conforme as investigações, a equipe de Trump nunca foi informada sobre a presença do atirador. Isso gerou indignação no painel, que evidenciou a falta de reflexão crítica da equipe após a tentativa de assassinato, que quase encurtou a vida de uma figura política importante e culminou na morte de um eleitor presente ao comício.
Além das recomendações apresentadas, um ponto relevante que emergiu do relatório é a necessidade premente de mudança de liderança na agência, uma responsabilidade que provavelmente recairá sobre o próximo presidente, dadas as iminentes eleições presidenciais. O relatório destaca que, se a situação não mudar, é inevitável que novas incidentes de segurança grave voltem a ocorrer, reiterando a urgência de reformas que visam fortalecer a proteção conferida pelo Serviço Secreto. Caiu sobre a instituição uma pressão significativa, com congressistas clamando por aumentos no orçamento do Serviço, embora o painel tenha concluído que a falha em Butler ocorreu independentemente da quantia de recursos disponíveis.
O tiroteio no comício de Butler levantou uma onda de investigações adicionais, incluindo aquelas conduzidas pelo FBI e diversas comissões do Congresso, que não apenas buscaram entender a dinâmica do evento, mas também as falhas estruturais do Serviço Secreto. Tais indagações são recebidas em um clima tenso, considerando que as investigações about acesso à segurança e proteção reforçam a necessidade de uma agência que cumpra suas obrigações de modo eficaz, garantindo que eventos similares nunca mais se repitam.