Análise revela falhas de segurança e cultura organizacional deficientes dentro do Serviço Secreto dos EUA
Um painel independente de ex-oficiais de segurança, instituído pelo Secretário do Departamento de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, apresentou um relatório contundente que recomenda uma reformulação completa da liderança do Serviço Secreto dos Estados Unidos. A revisão, que teve como foco as falhas de segurança que culminaram na quase tentativa de assassinato de Donald Trump durante um comício na Pensilvânia no último verão, expôs uma cultura organizacional dentro da agência caracterizada por complacência e falta de pensamento crítico. O texto do relatório foi divulgado na última quarta-feira e representa uma das avaliações mais críticas que o Serviço Secreto já enfrentou em sua história.
O painel, liderado por Mark Filip, ex-vice-procurador-geral sob a presidência de George W. Bush, e Janet Napolitano, ex-secretária de Segurança Interna durante o governo de Barack Obama, enfatizou a necessidade de substituir a liderança atual da agência por indivíduos externos que possam promover mudanças significativas na cultura do Serviço Secreto. Uma das principais críticas do relatório refere-se à mentalidade de “fazer mais com menos”, que permeou as decisões dos agentes, especialmente nos dias que antecederam o trágico evento em Butler, onde um dos participantes do comício foi fatalmente atingido.
De acordo com o relatório, “o Serviço Secreto se tornou burocrático, complacente e estático, mesmo com o aumento dos riscos e a evolução da tecnologia”. Os membros do painel identificaram diversas falhas críticas no cerco à área do comício, incluindo a falta de barreiras visuais adequadas, a inadequação em proteger os edifícios que o atirador acessou e a ineficácia em responder rapidamente a relatos de um indivíduo suspeito que circulava antes da ocorrência do ataque.
Além disso, o atual diretor interino, Ronald Rowe, que assumiu o cargo após a renúncia da diretora Kimberly Cheatle, não foi especificamente mencionado nas recomendações do relatório, mas simbólica e indiretamente representa a continuidade de uma liderança interna que falhou em prevenir a crise. Rowe, cujas credenciais vêm de sua experiência dentro da própria agência, deve agora enfrentar as alegações de que problemas culturais e operacionais são, em grande parte, atribuíveis à liderança anterior e à manutenção de uma estrutura hierárquica fixada na tradição.
O relatório apontou que uma das falhas mais evidentes do Serviço Secreto foi não intensificar as medidas de segurança auferidas para a proteção de Trump, mesmo após a agência ter recebido informações de ameaças de assassinato oriundas de “um ator de Estado estrangeiro”. Já no período prévio ao ataque, os serviços de inteligência tinham conhecimento de um plano, supostamente vinculado ao Irã, em relação à vida do ex-presidente, porém a agência não conseguiu se adaptar a essa nova realidade de risco aumentado. A falta de experiência e preparação entre os oficiais responsáveis pela segurança do evento foi também uma crítica recorrente, evidenciada pelo fato de que o agente designado tinha uma formação muito recente, concluindo a sua capacitação em 2020.
As falhas comunicativas também foram um ponto central de crítica, conforme destacado no relatório; durante o evento, agentes do Serviço Secreto falharam em articular de forma eficiente com os oficiais da lei locais, que relataram movimentos suspeitos do atirador ao longo do dia. Apesar das promessas de melhorias em sistemas de comunicação integrada, o painel reafirmou que tais problemas já foram reconhecidos pelas autoridades governamentais e que as soluções foram propostas há várias décadas, especialmente após os ataques de 11 de setembro.
Ainda que o relatório tenha destacado a coragem e o esforço dos agentes em proteger Trump após o disparo, ressaltou que “bravura e altruísmo, por mais honoráveis que sejam, não são suficientes para cumprir a missão de proteção inegociável do Serviço Secreto”. O chamado à mudança não diz respeito apenas a uma questão de estrutura, mas acaba por ressoar com a urgência de evolução cultural e operacional na forma como o Serviço Secreto desempenha suas funções de proteção em um ambiente cada vez mais desafiador e perigoso.