O impacto da solidão na Geração Z e as soluções emergentes
Amy Wu, fundadora do aplicativo de saúde mental baseado em inteligência artificial chamado Manifest, apresentou uma previsão ousada para a próxima onda de inovações tecnológicas. De acordo com Wu, além da tendência crescente da inteligência artificial, existe uma epidemia de solidão que está afetando especialmente os integrantes da Geração Z. Ela destaca que, enquanto as discussões sobre tecnologia evoluem, há um reconhecimento crescente de que muitos jovens estão sofrendo com a solidão, afirmando que “não há dúvida em minha mente de que surgirão unicórnios que abordarão essa epidemia de solidão”. Embora a Manifest ainda não tenha alcançado o status de unicórnio, estando em fase inicial com um investimento recente de $3,4 milhões, ela se vê como parte de uma nova linha de produtos destinados a mitigar a crescente solidão entre os jovens.
Aos 29 anos, Wu está na linha tênue entre os Millennials e a Geração Z, o que lhe confere uma compreensão das dificuldades enfrentadas por esta geração. Um relatório da Cigna revela que três em cada cinco adultos relatam sentir solidão de forma ocasional ou constante, sendo que esse índice se eleva para 73% entre os jovens de 18 a 22 anos. Esse dado reforça a urgência de soluções que ajudem a lidar com esse estado emocional e reforça a relevância do Manifest, um aplicativo que a fundadora gostaria de ter tido durante sua graduação em Stanford, onde navegou por um ambiente competitivo e intimidante.
Como o aplicativo Manifest funciona e suas abordagens diferenciadas
Ao abrir o aplicativo Manifest, o usuário se depara com um orbe em cores pastel no centro da tela. É possível interagir com o aplicativo de duas maneiras: segurando o botão para falar ou tocando-o para digitar, em resposta a perguntas como “O que está em sua mente?”, “Sobre o que você está preocupado?” ou “O que seria útil discutirmos?”. A inteligência artificial do aplicativo, então, reflete a linguagem utilizada pelo usuário e transforma suas respostas em afirmações que podem ser convertidas em meditações personalizadas por áudio. Por exemplo, se um usuário expressa dificuldade em se sentir orgulhoso após completar uma corrida de 5Km, o Manifest pode gerar afirmações como “Eu me esforço para apreciar meu progresso, não importa quão pequeno” ou “Confio que meu compromisso com esse processo levará ao meu crescimento, tanto físico quanto mental”. Embora essas palavras geradas pela inteligência artificial possam ser úteis, é importante ressaltar que o Manifest não se apresenta como uma solução definitiva para problemas de saúde mental, tampouco como um substituto para tratamentos profissionais de saúde.
Wu enfatiza que o aplicativo é projetado para que os jovens utilizem em momentos breves do dia, contribuindo para que se sintam um pouco mais equilibrados. A proposta que está na essência do Manifest é tornar a interação com a saúde mental uma prática simples e agradável, dissociando-a de uma obrigação desgastante. Em um contexto em que os jovens estão frequentemente sobrecarregados pelo barulho incessante das redes sociais, utilizar a tecnologia, particularmente algo que pode parecer impessoal como a inteligência artificial, para enfrentar a solidão pode parecer paradoxal. No entanto, Wu acredita que, se a Geração Z já está conectada em seus dispositivos móveis, é fundamental que as soluções de bem-estar também estejam disponíveis nesses ambientes digitais.
O aplicativo Manifest foi lançado de forma discreta no último verão e, até agora, os usuários geraram impressionantes 18,7 milhões de “manifestações” dentro da plataforma. Contudo, como qualquer aplicativo voltado para a saúde mental, o Manifest precisa lidar com desafios éticos que envolvem a criação de um produto de saúde mental sem respaldo médico. Wu assegura que existem salvaguardas no sistema de inteligência artificial do Manifest, como a redireção de usuários a linhas de ajuda em casos de autolesão mencionados nas interações. Há certos tópicos que o Manifest se recusa a abordar, considerando a responsabilidade que um aplicativo dessa natureza deve ter no cuidado com seus usuários.
Desafios éticos e a abordagem diferenciada em saúde mental
Esta abordagem cuidadosa pode se mostrar vantajosa para o Manifest, uma vez que utilizar uma inteligência artificial experimental para tratar de questões tão delicadas quanto a prevenção da autolesão é arriscado. Em contraste, outras startups que também buscam combater a solidão, como a Nomi AI, adotam uma abordagem diferente. No momento em que os usuários da Nomi AI compartilham pensamentos sobre autolesão, os companheiros de inteligência artificial não interrompem a conversa, mas sim tentam desescalar a situação, auxiliando o usuário a lidar com seus sentimentos. Alex Cardinell, fundador da Nomi AI, argumenta que simplesmente interromper uma conversa e fornecer um número de linha de ajuda pode ser alienante para aqueles que buscam conexão. Ele enfatiza a importância de fazer os usuários se sentirem ouvidos em seus momentos difíceis, uma forma eficaz de promover abertura e reflexão sobre seus pensamentos.
Ao observar esses contrastes, Wu ressalta que o Manifest, ou qualquer aplicativo semelhante, não deve ser considerado como a primeira escolha de assistência para pessoas que realmente necessitam de atendimento médico. Entretanto, é evidente que muitos jovens estão recorrendo a esses recursos na falta de acesso a cuidados médicos tradicionais. Caso Wu esteja correta em sua previsão sobre a iminência de startups unicórnios que se propõem a combater a epidemia de solidão, será crucial que essas empresas, incluindo a Manifest, atuem de maneira consciente e responsável nesse espaço emergente.