A situação em Gaza tem gerado uma onda de tensão e violência, particularmente desde os eventos trágicos de 7 de outubro, quando o grupo militante Hamas lançou um ataque devastador contra Israel. Neste contexto, Yahya Sinwar, líder proeminente da organização, ganhou destaque especial, tornando-se o alvo principal das operações militares israelenses. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que as forças de Israel cercaram a residência de Sinwar, embora ele não estivesse presente no local e as autoridades acreditassem que ele estaria se escondendo em algum lugar subterrâneo em Gaza. Em sua declaração, um assessor sênior de Netanyahu enfatizou que “é apenas uma questão de tempo até que o capturemos”. Esse movimento não apenas destaca a importância estratégica de Sinwar, mas também revela as complexidades do comando dentro do Hamas.
O papel de Yahya Sinwar na estrutura do Hamas e suas repercussões geopolíticas
Yahya Sinwar, que desde 2017 é o líder político do Hamas na Faixa de Gaza e, de acordo com pesquisas do European Council on Foreign Relations, é considerado o líder de fato do Politburo do grupo, é uma figura que tem estado em atividade política significativa. Mencionado como um dos “mentores” do ataque de 7 de outubro, Sinwar é reconhecido não apenas por sua função atual, mas também por seu passado na construção da ala militar do Hamas e por suas novas alianças com potências árabes regionais. No entanto, especialistas salientam que, embora Sinwar possua um perfil elevado, ele é parte de uma estrutura de comando descentralizada que inclui outros líderes importantes, como Mohammed Deif, comandante das Brigadas al-Qassam, e Marwan Issa, seu vice. A presença e as ações de Sinwar, portanto, devem ser vistas em um contexto mais amplo, onde diversas figuras exercem influência sobre as decisões e ações do Hamas.
Desde a sua criação, Sinwar foi associado a uma abordagem violenta e punitiva em relação a suspeitos de traição. Ele começou sua trajetória no Hamas na década de 1980 e, em 1988, foi condenado por seu envolvimento em atos de violência, incluindo o assassinato de dois soldados israelenses. Cumpriu mais de vinte anos de prisão em Israel, período em que afirma ter estudado seu adversário, até ser libertado em 2011, em um acordo de troca de prisioneiros. Sua liberação foi facilitada por seu irmão, que era um dos sequestradores do soldado Gilad Shalit. Desde então, Sinwar assumiu um papel significativo dentro do Hamas e tem sido um dos principais interlocutores nas negociações envolvendo reféns após o recente ataque.
Aperfeiçoando as relações externas do Hamas e suas consequências
Com sua visão estratégica, Sinwar tem sido fundamental para revitalizar as relações do Hamas com países como Egito e Irã. Conforme pesquisas da ECFR, sua habilidade em fortalecer laços com o Cairo, apesar da desconfiança inicial do governo egípcio em relação ao apoio do Hamas ao islamismo político, foi crucial para assegurar financiamento militar. Este aspecto da sua liderança revela a complexidade do Hamas não apenas como um movimento de resistência, mas também como um ator político que busca legitimar sua posição e garantir recursos financeiros, essenciais para sua sobrevivência e operações. Sinwar está profundamente envolvido nas negociações que buscam o retorno dos reféns levados por Hamas durante os recentes ataques, um indicativo de seu papel central nas dinâmicas de poder contemporâneas no Oriente Médio.
A notoriedade de Sinwar não se restringe ao seu papel político; tem sido alvo de severas críticas por sua brutalidade. O pesquisador Harel Chorev destacou que ele é conhecido por sua crueldade, especialmente durante seu tempo no Majd, a inteligência interna do Hamas, onde se afigura ter utilizado métodos tortuosos em relação a supostas traições. Apesar de seu histórico e imagem pública, Chorev adverte que a estrutura do Hamas é descentralizada, o que implica que a eliminação de Sinwar não seria sinônimo de extinção da organização. No entanto, a crescente pressão sobre seu governo e a crescente retórica em torno de sua figura, frequentemente comparado a Osama bin Laden, denotam o quanto ele se tornou um símbolo não apenas de liderança, mas também de resistência e antagonismo na visão israelense.
Assim, enquanto Sinwar é identificado como o “homem morto caminhando” por oficiais israelenses, seu papel e influência dentro do Hamas continuam a ser moldados por diversas forças e contextos. A eliminação de figuras como Sinwar pode ser uma estratégia militar, mas especialistas garantem que não se pode garantir a derrocada do Hamas apenas com tais ações. O que se delineia no horizonte é um panorama onde a fragmentação do poder entre os líderes do Hamas poderá, de fato, continuar coexistindo, mesmo diante de uma operação de grande escala contra seu comando e suas bases. Portanto, a destituição de Yahya Sinwar, embora significativa, não será a panaceia para os desafios que Israel enfrenta na busca pela segurança e estabilidade na região.