Recentemente, a Austrália deu um passo significativo em direção à proteção dos jovens na internet, ao aprovar uma legislação que proíbe o uso de mídias sociais por menores de 16 anos. Essa decisão não apenas reflete uma crescente preocupação com o bem-estar das crianças em ambientes digitais, mas também coloca as tecnologias de verificação de idade sob os holofotes globais, uma vez que essas inovações se tornam cada vez mais necessárias para o cumprimento das novas regras.
A nova lei, que entrará em vigor em novembro de 2025, exige que plataformas de mídias sociais adotem medidas consideradas “razoáveis” para verificar a idade dos usuários e evitar que menores tenham acesso a seus serviços. Contudo, a legislação foi aprovada sem que determinados detalhes, como a definição do que constitui essas “medidas razoáveis”, tenham sido claros, deixando dúvidas quanto à sua implementação.
O Provedor de Segurança Electrónica da Austrália (eSafety Commissioner) irá conduzir uma fase de testes com tecnologias de verificação de idade no próximo ano, com o intuito de estabelecer parâmetros que serão utilizados para garantir a conformidade com a nova legislação. Essa fase de testes certamente despertará interesse internacional, visto que preocupações semelhantes sobre o impacto das mídias sociais na saúde mental das crianças são evidentes em diversas partes do mundo. À medida que outros países observam os eventos na Austrália, não seria surpresa se surgissem legislações semelhantes, estimulando o crescimento do setor de tecnologias voltadas para a verificação de idade.
Empresas que atuam nesta área incluem nomes renomados como a norte-americana Entrust, que adquiriu a startup britânica Onfido; a startup alemã IDnow; a empresa Jumio, originariamente focada em pagamentos online; a estônia Veriff e a Yoti, uma das pioneiras no Reino Unido. A Yoti já confirmou que participará do teste australiano, levando tecnologia de estimativa de idade por reconhecimento facial, aplicativo de ID digital, e verificação de documentos de identidade.
A tecnologia de “liveness” é um aspecto importante na verificação de identidade digital, que identifica se a pessoa que aparece em um documento de identidade é, de fato, a mesma que está tentando acessar um serviço. Essa verificação normalmente faz uso de análises baseadas em inteligência artificial que avaliam feeds de vídeo do usuário. A variedade das abordagens de verificação reflete uma nova era de segurança online, mas também levanta questões sobre privacidade e como as informações dos usuários são geridas.
Três principais métodos de verificação de idade destacam-se em debate global
A fase de testes da Austrália está sendo supervisionada pelo Age Check Certification Scheme (ACCS), uma organização não lucrativa do Reino Unido dedicada a garantir que os sistemas de ID e verificação de idade funcionem corretamente. Tony Allen, CEO da ACCS, explica que a organização é um corpo de avaliação de conformidade independente que testa sistemas de verificação de identidade, verificação de idade e estimativa de idade em todo o mundo.
A verificação de idade pode ser dividida em três áreas principais: verificação de idade, estimativa de idade e inferência de idade. A verificação de idade reflete a confirmação exata da data de nascimento, a estimativa fornece uma faixa ou uma média e a inferência considera outras informações confirmadas que podem indicar que uma pessoa é maior de idade, como a posse de cartões de crédito ou contas bancárias. Enquanto isso, métodos simples, como um questionário de data de nascimento, não serão suficientes para atender aos requisitos da nova legislação australiana, já que crianças podem facilmente contornar essas barreiras.
As medidas mais robustas e inteligentes, que levam em conta fatores comportamentais, deverão ser as escolhidas para garantir a conformidade, tanto na Austrália quanto em outras nações. Por exemplo, a autoridade reguladora britânica, Ofcom, está pressionando as plataformas para que implementem verificações de idade mais eficazes, enquanto a Comissão Europeia está utilizando a Lei de Serviços Digitais para incentivar sites de conteúdo adulto a adotar medidas de verificação de idade. As metodologias precisas que serão empregadas na Austrália ainda estão sendo definidas, aumentando a expectativa sobre os resultados de testes realizados com empresas que já disponibilizam verificação de idade.
Privacidade em meio a um cenário de vigilância
Tony Allen ressalta a crescente consciência sobre privacidade como um aspecto fundamental nas novas formas de verificação de idade. Embora as tecnologias de verificação existam há décadas, a necessidade de protegê-las surgiu apenas recentemente, especialmente considerando o aumento das preocupações sobre o compartilhamento não autorizado de dados. Ele aponta que, na maioria dos casos, os provedores de serviços de verificação de idade limitam seu retorno de dados a respostas binárias, minimizando assim os riscos associados à privacidade.
Contrariando especulações de que essas tecnologias poderiam facilitar a vigilância em massa na web, Allen argumenta que tais preocupações são mal fundamentadas e que os sistemas de verificação não criam nenhum banco de dados centralizado que possibilite esse tipo de rastreamento. O potencial para a tecnologia de verificação de idade se expandir em popularidade parece ser vasto, especialmente à medida que cresce a exigência por maior segurança e proteção em ambientes online.
Com o aumento da atenção dos legisladores, espera-se que mais tecnologias de verificação de idade e empresas surgirão nos próximos anos, revelando novas formas e possibilidades de proteger os jovens em um universo digital em rápida evolução. Ao mesmo tempo, as inovações estão potencialmente se preparando para enfrentar outros desafios que possam surgir. A forma como a sociedade se adaptará a estas tecnologias inovadoras e sua interação com as normas de privacidade e proteção de dados será um tema de crescente relevância e discussão em todo o mundo.