Insurgentes sírios chegaram aos subúrbios de Damasco em uma ofensiva rápida que permitiu a captura de algumas das maiores cidades sírias. Essas informações foram relatadas por ativistas da oposição e por um comandante rebelde no último sábado. Rami Abdurrahman, que lidera o Observatório Sírio de Direitos Humanos, baseado na Grã-Bretanha e reconhecido como um monitor da guerra da oposição, informou que os insurgentes estão agora ativos nos subúrbios de Damasco, especificamente em Maadamiyah, Jaramana e Daraya. Adicionalmente, os lutadores da oposição estavam marchando de leste em direção ao subúrbio de Harasta, consolidando ainda mais a presença rebelde na região.
Hassan Abdul-Ghani, comandante dos insurgentes, anunciou por meio do aplicativo de mensagens Telegram que as forças da oposição iniciaram a “fase final” de sua ofensiva, cercando a capital. Ele destacou que os insurgentes estavam vindo do sul do país em direção a Damasco, reforçando as expectativas de um cerco iminente.
A retirada das tropas da província de Daraa e Sweida coincide com o envio de reforços significativos pelas forças armadas sírias para defender a cidade central de Homs, a terceira maior do país, que se encontra sob ameaça de cerco rebelde. O avanço acelerado dos insurgentes representa uma reviravolta impressionante nas fortunas do presidente sírio Bashar Assad, que está praticamente sozinho, já que seus aliados no passado estão envolvidos em outros conflitos regionais.
O apoio internacional que Assad costumava ter com a Rússia está sendo consumido com sua guerra na Ucrânia, e o grupo libanês Hezbollah, que enviou milhares de combatentes em suas fileiras em momentos críticos, também se vê debilitado por um conflito prolongado com Israel. Por sua vez, o Irã está lidando com a degradação de seus proxies na região devido a constantes ataques aéreos israelenses.
Com a escalada da guerra civil, milhares de pessoas estão fugindo das áreas afetadas por esse novo ciclo de violência. A escalada, que começou há cerca de duas semanas com uma ofensiva surpresa dos rebeldes, marca uma nova fase do conflito, que estava estagnado nos últimos anos. Portanto, a reorganização das forças insurgentes resultou na tomada completa da cidade de Hama e no controle de Aleppo, até então a segunda cidade mais populosa da Síria.
A dinâmica do conflito e sua repercussão
O líder do grupo HTS, Abu Mohammed al-Golani, em uma entrevista exclusiva à CNN, declarou que o objetivo da ofensiva é depor o governo de Assad. Segundo o Observatório baseado na Grã-Bretanha, as tropas sírias se retiraram de grande parte das duas províncias do sul e estão enviando reforços para Homs, onde um confronto se aproxima. A captura de Homs pelos insurgentes significaria a interrupção da ligação entre Damasco, onde Assad mantém seu poder, e a região costeira que lhe oferece amplo apoio popular.
As forças armadas sírias emitiram um comunicado afirmando que estão em processo de reabastecimento e reposicionamento em Sweida e Daraa após seus pontos de controle sofrerem ataques por parte de “terroristas”. O exército busca estabelecer um “cinturão defensivo forte e coerente na área”, com vistas à proteção de Damasco contra o avanço rebelde do sul. Vale ressaltar que desde o início do conflito em março de 2011, o governo sírio tem referido combatentes da oposição como terroristas.
Em uma reunião realizada no Catar, os ministros das Relações Exteriores do Irã, Rússia e Turquia discutiram a situação síria. A Turquia se destaca como uma das principais apoiadoras dos rebeldes que desejam derrubar Assad. O diplomata mais graduado do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, criticou o governo de Assad por não ter aproveitado a trégua dos conflitos nos últimos anos para atender às necessidades básicas da população. Segundo ele, a rapidez do avanço rebelde representa uma ameaça séria à “integridade territorial” da Síria e advertiu que a guerra poderia “destruir o que resta do país, se não houver uma urgência em iniciar um processo político”.
Atualmente, após a queda de Daraa e Sweida, as forças governamentais sírias ainda controlam cinco capitais provinciais — Damasco, Homs e Quneitra, além de Latakia e Tartus, que se situam ao longo da costa mediterrânea. Importante mencionar que Tartus abriga a única base naval russa fora da ex-União Soviética, enquanto Latakia é lar de uma grande base aérea russa.
No último cenário de reconfiguração do controle territorial, as forças de combate democráticas sírias, apoiadas pelos Estados Unidos, capturaram significativas áreas da província oriental de Deir el-Zour, que faz fronteira com o Iraque, além de sua capital homônima. Essa conquista é um golpe ao poderio iraniano na região, visto que Deir el-Zour serve como uma via crucial que liga o Mediterrâneo ao Irã, alicerçando a linha de suprimentos das forças apoiadas pelo Irã, incluindo o Hezbollah.
Somado ao recente controle do posto de fronteira de Naseeb com a Jordânia pelos insurgentes, a única saída do governo sírio para o mundo exterior permanece sendo a passagem de Masnaa, que faz fronteira com o Líbano. Essa reconfiguração geopolítica emergente revela a fragilidade da posição do governo de Assad e a turbulência contínua no cenário político da Síria.