O novo longa-metragem “Goodrich”, dirigido e roteirizado por Hallie Meyers-Shyer, traz um enredo que, embora tencione explorar as complexidades da paternidade moderna e o impacto do vício nas relações familiares, acaba se perdendo em lugares-comuns e fórmulas narrativas já desgastadas. Com a estreia marcada para 17 de outubro, o filme se vale da atuação carismática de Michael Keaton, que dá vida ao personagem Andy Goodrich, e da presença envolvente de Mila Kunis, embora não consiga superar as limitações impostas pelos clichês que permeiam sua trama.

A história começa com um momento decisivo na vida de Andy Goodrich. Sua esposa, Naomi, interpretada por Laura Benanti, revela que se internou em uma clínica de reabilitação e que planeja deixar o marido e os dois filhos gêmeos, Billie e Mose. Essa revelação, embora desperte uma reação de choque em Andy, reflete muito mais sua desconexão emocional com a família do que a gravidade da situação. Vivendo atormentado por uma rotina de distrações e compromissos de trabalho, Andy, um galerista cuja carreira não vive seu melhor momento, finalmente se vê pressionado a assumir o papel de pai que nunca desempenhou plenamente, especialmente em relação à sua filha mais velha, Grace, que é interpretada por Kunis.

Durante os noventa dias em que sua esposa está em tratamento, Andy tenta dar conta das obrigações parentais, como levar os filhos para a escola, organizar suas atividades e cuidar de suas emoções. Essa jornada o força a confrontar suas próprias falhas, não apenas como pai, mas como ser humano. Keaton, com sua habilidade inata de infundir humor em situações dramáticas, consegue navegar pelas desventuras cotidianas de Andy, como atrasos na entrega dos filhos ou o episódio em que quase provoca uma grave reação alérgica em seu filho, proporcionando momentos de comicidade em meio à seriedade do enredo. Contudo, apesar de sua atuação vibrante, a performance de Keaton não é suficiente para elevar o filme além dos limites de uma narrativa previsível.

A diretora Hallie Meyers-Shyer construiu “Goodrich” visando transmitir conforto e provocar lágrimas, características que são comuns em comédias dramáticas do gênero. No entanto, a dependência excessiva de clichês, como crianças excessivamente precoces e um pai que enfrenta dificuldades, mas sempre acaba se saindo bem, gera uma sensação de familiaridade que se transforma em monotonia. O uso constante de montagens e uma estética visual que parece querer conquistar os espectadores ao invés de narrar uma história, comprometem o ritmo do filme. Embora algumas montagens, como a cena em que Andy tenta encantar um novo cliente em uma exposição de arte feminista, sejam divertidas, outras se sentem deslocadas, como o reencontro com sua ex-esposa, o que evidencia uma falta de confiança na capacidade do público de capturar a nuance emocional das situações.

No desenvolvimento da trama, a relação entre Andy e Grace emerge como um dos aspectos mais significativos do filme. Ao lidarem com o trauma do abandono e as consequências da ausência do pai, há uma oportunidade genuína de explorar o crescimento pessoal e emocional de ambos os personagens. Kunis, ao lado de Keaton, entrega uma performance hábil, mas o espaço dado a essa dinâmica é subaproveitado, especialmente em momentos cruciais onde as revelações emocionais estão prestes a ser reveladas. A atuação de Danny Deferrari, que contracena com Grace como seu cônjuge, acrescenta uma outra camada ao contexto familiar, contrastando a figura de Andy como pai. A interdependência entre Andy e Grace, que se torna ainda mais evidente quando Andy precisa de conselhos em sua nova jornada parental, poderia ter sido aprofundada, permitindo que a trama evoluísse de maneira mais autêntica.

Apesar dos desafios, “Goodrich” tem seus méritos. Keaton, com seu charme característico, e Kunis, com sua capacidade de evocar empatia, são pilares que sustentam o filme mesmo quando este se perde em clichês. O desfecho esperado parece inevitável, mas uma narrativa mais intrincada, repleta de nuances e surpresas, estaria mais alinhada com a profundidade emocional que a obra tenta alcançar. O filme, embora não se destaque como uma obra-prima, oferece uma interpretação acessível das dificuldades enfrentadas na paternidade e das complexidades dos relacionamentos humanos.

Em conclusão, “Goodrich” é um filme que, embora embasado em uma narrativa promissora sobre a luta de um homem para reconquistar sua vida familiar, acaba se afundando em clichês que limitam seu potencial. A habilidade de Keaton e Kunis em trazer leveza e humor à trama é inegável, mas seria desejável que o roteiro e a direção tivessem ousado em explorar caminhos menos convencionais, proporcionando ao público uma experiência mais rica e envolvente. Com a combinação de uma história que toca em temas universais e a promessa de performances memoráveis, “Goodrich” pode agradar aqueles que procuram entretenimento, mas dificilmente será lembrado como uma grande contribuição ao cinema contemporâneo.

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