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De acordo com fontes do governo dos Estados Unidos que monitoram atentamente o surpreendente avanço das forças rebeldes sírias, a administração Biden vê com crescente preocupação a possibilidade da queda iminente do regime de Bashar al-Assad, que pode ocorrer dentro de poucos dias. Essa avaliação foi compartilhada por cinco oficiais americanos em conversa com a CNN, revelando uma estratégia de análise que parece se basear na observação direta dos eventos que se desenrolam na Síria.
Caso essa análise se confirme, a queda do ditador sírio representaria uma reviravolta historicamente rápida após uma guerreira civil de 14 anos, que até a semana passada estava em um estado relativamente estagnado. O confronto armado na Síria, marcada por um ciclo interminável de violência e repressão, parece, enfim, estar se aproximando de um desfecho significativo e inesperado, provocando reflexões sobre o futuro político do país e a região.
Apesar das especulações, os oficiais alertaram que uma avaliação formal sobre o destino de Assad ainda não se concretizou. As opiniões entre os analistas variam consideravelmente, e alguns afirmam que a queda do regime não é uma conclusão garantida. Essa incerteza reflete a complexidade da situação política na Síria, um país profundamente dividido por lealdades sectárias, interesses regionais e a influência cada vez mais passiva de potências internacionais, como Rússia e Irã.
Um alto funcionário do governo dos Estados Unidos expressou: “O consenso emergente é de que se trata de um cenário cada vez mais plausível”. A urgência da situação se intensifica com a previsão de que “provavelmente, até o próximo final de semana, o regime de Assad terá perdido qualquer vestígio de poder”, conforme mencionado por um dos assessores. Essa declaração destaca a rápida deterioração das capacidades do regime, uma vez que tropas rebeldes pressionam em direção à capital, Damasco, após derrotas significativas nas principais cidades sírias.
A análise da situação revela que “a única coisa que atrasaria uma conquista rebelde seria um golpe de Estado bem organizado e uma reorganização, mas as pessoas de Assad fizeram um bom trabalho em abafarem quaisquer concorrentes potenciais”, acrescentou o oficial. O clima de incerteza, aliado a uma falta de comando coeso dentro do الجيش, deixou Assad vulnerável e sua posição essencialmente enfraquecida.
Rebeldes estão se movendo rapidamente em direção à capital syria, Damasco, após forçar a retirada das forças governamentais em Hama e Aleppo, duas das maiores cidades do país. Essa ofensiva começou pouco mais de uma semana atrás, e a cidade de Homs, a terceira maior da Síria, agora se posiciona como um destino estratégico crucial em seu avanço para o sul. Os rebeldes buscam não apenas derrotar Assad, mas conquistar territórios que antes eram bastiões do regime.
Em meio a essa insurreição, a administração Biden parece ter sido apanhada de surpresa pela velocidade com que os rebeldes avançam. Num cenário onde as tropas do regime entraram em colapso e desaparecem rapidamente, o exército que resta se tornou uma casca frágil, incapaz de defender o presidente ou a própria Damasco de uma possível queda. Esse colapso do exército sírio levanta questões sobre as tensões sociais e a possibilidade de um novo ciclo de violência que pode surgir das cinzas de um regime em ruínas.
Históricos de decisões de inteligência mal interpretadas por parte dos Estados Unidos, como foi o caso no Afeganistão e na Ucrânia, ecoam nas discussões atuais. No caso da Síria, o governo dos EUA parece estar finalmente despertando para a urgência da situação, após uma revisão das análises de como avaliam a “vontade de lutar” das forças armadas estrangeiras. Essa experiência anterior pode influenciar a forma como a administração lida com as cada vez mais complexas configurações geopolíticas no Oriente Médio.
O impulso rebelde é liderado pelo Hayat Tahrir al-Sham, que as autoridades americanas designaram como uma organização terrorista devido a sua vinculação anterior ao Al-Qaeda. O governo dos EUA expressa receios sobre os objetivos desse grupo e suas implicações para a estabilidade na Síria e região. “Temos preocupações reais sobre os designs e objetivos dessa organização”, afirmou o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan. “Ao mesmo tempo, é claro que não lamentamos o fato de que o governo Assad, apoiado por Rússia, Irã e Hezbollah, enfrente um certo tipo de pressão.”
A presença contínua de Iranianos e Russos, que tiveram um papel vital em manter Assad no poder, não parece indicar uma intenção clara de intervir decisivamente neste momento. As dificuldades que a Rússia enfrenta em sua guerra na Ucrânia, combinadas com os recentes ataques aéreos israelenses que prejudicaram as defesas do Irã e seus proxies na região, como Hamas e Hezbollah, deixaram Assad em uma situação vulnerável, tendo pouco apoio externo para resistir às vitórias rebeldes.
Um dos oficiais dos EUA destacou que o Pentágono, que mantém cerca de 900 soldados na Síria, não está fazendo planos para alterar sua presença militar no país, mas aguarda o desenrolar dos acontecimentos enquanto toma medidas adicionais de proteção. A administração norte-americana tem colaborado com as Forças Democráticas Sírias (SDF), lideradas pelos curdos, em operações específicas contra o ISIS, embora as interações com HTS sejam praticamente inexistentes devido à designação do grupo como uma organização terrorista.
O fato de que HTS não parece ter o suporte explícito do maior adversário de Assad, a Turquia, não impede que analistas dos EUA acreditem que Ancara tenha liberado o grupo para realizar a operação de ataque. Enquanto isso, o ministério da segurança nacional dos EUA expressa um interesse particular em garantir a segurança dos estoques de armas químicas de Assad, que, como é amplamente conhecido, incluem cloro e sarin, substâncias químicas que foram usadas pelo regime em áreas rebeldes, à revelia da comunidade internacional.
O destino de Assad após sua possível queda permanece incerto. As opções incluem um exílio em Moscovo ou Teerã, enquanto a questão de se os rebeldes colocarão seus alvos em Latakia, um enclave da secta Alauíta, à qual Assad pertence, ainda é uma incógnita. Essa situação reflete não apenas a fragilidade do regime de Assad, mas também questiona o futuro político da Síria em um cenário onde os poderes em guerra constantemente redesenham a paisagem da região.