A situação política na Coreia do Sul se tornou ainda mais tensa após a detenção de Kim Yong Hyun, o ex-ministro da Defesa, acusado de recomendar a declaração de lei marcial ao presidente Yoon Suk Yeol, na semana passada. Esta ação, considerada uma medida drástica e sem precedentes, culminou na prisão do ex-ministro, que foi a primeira figura a ser detida neste controverso caso, o que levanta sérias questões sobre a governança e o estado do direito no país.
No último domingo, Kim apresentou-se voluntariamente ao escritório dos promotores em Seul, onde teve seu celular confiscado. Logo após, ele foi detido, e relatan-se movimentações de busca em seu antigo escritório e residência. Com a decisão do presidente Yoon de aceitar a renúncia de Kim, anunciada na quinta-feira anterior, a tensão entre as forças políticas em jogo aumenta, especialmente considerando que a oposição, liderada pelo Partido Democrático, já manifestou sua intenção de apresentar um novo motion de impeachment contra Yoon, que conseguiu evitar por pouco um processo liderado pela oposição durante uma votação no parlamento.
Enquanto isso, a cúpula do Partido da Poder Popular, ao qual Yoon pertence, tem se reunido para discutir a situação do presidente, indicando que um “retorno ordenado” de Yoon ao cargo pode ser uma solução viável para a crise atual. O líder do partido, Han Dong-hoon, e o primeiro-ministro, Han Duck-soo, estavam programados para se reunir para discutir essas questões cruciais. Em uma declaração do Partido da Poder Popular, ficou claro que a discussão sobre a renúncia do presidente está sobre a mesa, o que representaria uma mudança significativa na política sul-coreana.
A declaração de lei marcial proposta por Yoon, que resultou em tropas especiais cercando o prédio da Assembleia Nacional e helicópteros do exército sobrevoando a área, foi rapidamente revogada após o parlamento, em uma sessão unânime, decidir por sua anulação. Esta declaração inédita, sendo a primeira em mais de 40 anos na Coreia do Sul, gerou alarma não apenas na esfera política interna, mas também entre parceiros diplomáticos chave como os Estados Unidos e o Japão, que observam atentamente o desenrolar dos eventos.
Os opositores ao governo, liderados pelo Partido Democrático, caracterizam a imposição da lei marcial como uma “rebelião inconstitucional e ilegal”, protocolando queixas contra pelo menos nove pessoas, incluindo o presidente e o ex-ministro Kim, em relação ao que chamam de rebelião. Kim, em documento de defesa, assumiu total responsabilidade, afirmando que todas as ações relacionadas à lei marcial foram executadas sob suas ordens.
Além disso, o Procurador-Geral Shim Woo Jung indicou que investigações serão realizadas sobre as acusações de rebelião contra Yoon, ressaltando que, enquanto em função, o presidente goza de imunidade, esta não se aplica a alegações de traição ou rebelião. As ações corretivas do Ministério da Defesa foram rápidas e decisivas, suspendendo três comandantes militares seniores sobre suas supostas participações no episódio da lei marcial. Contudo, a situação permanece delicada, com pressão crescente por parte da população.
Yoon, que assumiu o cargo em 2022, enfrenta dificuldades desde seu início, tentando implementar uma agenda em um parlamento controlado pela oposição e permanecendo com índices de aprovação alarmantemente baixos, especialmente à luz de recentes escândalos. Em meio à crise, ele se desculpou publicamente e afirmou que não hesitará em assumir a responsabilidade política e legal quanto à declaração de lei marcial, prometendo uma gestão que respeite os direitos e a governança apropriada no país.
Com a reviravolta atual, no entanto, a política sul-coreana está em um estado de desordem, e o que se observa é um crescimento significativo nas manifestações populares clamando pela destituição de Yoon, o que reflete um clima desfavorável e um apelo à reforma política. Segundo uma pesquisa recente, a maioria dos sul-coreanos apoiam o impeachment do presidente, e isso pode intensificar ainda mais os protestos nas próximas semanas, levando a um período turbulento de incertezas políticas.
Por fim, a decisão da cúpula do Partido da Poder Popular em descartar o motion de impeachment contra Yoon é vista como um ato de contenção, porém, as fissuras causadas pelas recentes ações do governo podem gerar um efeito dominó, comprometendo a estabilidade política da Coreia do Sul. O desdobramento desta situação continuará a ser monitorado atentamente, tanto local quanto internacionalmente, pois a estabilidade no país pode afetar toda a dinâmica política na região.