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Bashar al-Assad, o líder autoritário da Síria, se encontra no centro de uma tempestade política que abala as estruturas de poder em uma nação do Oriente Médio que há mais de meio século está sob o domínio da sua família. Desde sua ascensão ao poder em 2000, após a morte de seu falecido pai, Hafez al-Assad, a dinastia Assad construiu um regime famosamente repressivo. A atual crise, que inclui uma onda de rebeliões, intensamente alimentada pela guerra civil que começou em 2011, levanta questionamentos sobre o futuro do governo sírio e a sobrevivência do próprio Assad.
A brutalidade do regime de Assad é lembrada em um contexto de grande devastação que varreu a Síria, transformando-a em um terreno fértil para o grupo extremista ISIS e provocando uma crise de refugiados que viu milhões fugindo de suas casas. Em média, segundo a ONU, há mais de 6 milhões de refugiados sírios fora do país e 7 milhões internamente deslocados, o que faz da crise síria uma das maiores emergências humanitárias do nosso tempo. A maneira como Assad lidou com os protestos pacíficos durante a Primavera Árabe em 2011, que rapidamente se transformaram em um movimento armado, destaca a dicotomia de sua retórica e das suas ações.
O regime de Assad reagiu às manifestações pacíficas com uma brutal repressão, resultando na morte e prisão de milhares em um período surpreendentemente curto. As forças de Assad também enfrentaram um número crescente de acusações de violações dos direitos humanos, incluindo o uso de armas químicas contra a própria população síria. Isso incentivou uma coalizão internacional a exigir a renúncia de Assad, destacando a fragilidade do seu governo e as implicações da sua recusa em se render. À medida que a guerra chegou a um impasse, o regime, que estava sob severas sanções ocidentais e isolado no cenário internacional, se sustentou no poder com o apoio crucial de aliados poderosos como a Rússia e o Irã.
Recentemente, uma série de vitórias rebeldes e a captura de cidades sírias geraram momentos de celebração entre os opositores do regime. Imagens de cidadãos em Homs destruindo retratos de Assad e de seu pai ressoaram lembranças de momentos de revolta de 2011. Este é um claro testemunho do descontentamento popular e da ferocidade das tensões que cercam o governo de Assad, onde os ecos de sua brutalidade se fazem sentir a cada dia. Contudo, com um regime que resiste, amparado por uma estratégia militar implacável e uma forte rede de aliados, a situação continua em um estado restrito de conflito e incertezas.
Ascensão ao poder e governo repressivo
A trajetória de Assad para o poder ocorreu em 2000, quando ele assumiu a presidência em uma eleição sem oposição após a morte de seu pai, Hafez al-Assad, um ex-presidente que construiu um governo autocrático que perdurou por mais de três décadas. A política de Hafez, que frequentemente usou a violência contra qualquer oposição, foi continuada por Bashar, criando um ambiente onde a dissidência era esmagada sem compaixão.
A projeção inicial de Bashar como um governante jovem e promissor rapidamente se dissolveu após sua abordagem dura e inflexível às demandas democráticas. Mesmo a percepção de que sua esposa, Asma al-Assad, poderia trazer um ar de modernidade ao regime logo se desfez quando ele optou por reprimir os protestos do povo. Muitos acreditavam que uma nova era estava por vir, mas o desejo de mudança foi sufocado pelo fogo e pela repressão das forças de Assad. A história evidencia que a esperança de democratização estava fadada ao fracasso.
O governo autoritário de Assad é sustentado por eleições frequentemente considerados fraudulentas, recebendo alegações de manipulação da opinião pública e subjugação da oposição, culminando em sua reeleição a cada sete anos. A última ocorreu em 2021, levando as democracias ocidentais a questionar a validade do processo eleitoral. As persistentes violações de direitos humanos e os resquícios da guerra civil que devastaram a Síria em suas mãos moldaram a trajetória de um dos líderes mais controversos do século XXI.
O legado de brutalidade e conflito
Ao longo do seu governo, Assad ficou notoriamente conhecido pelas táticas brutais que empregou contra a oposição, especialmente durante os primeiros anos da guerra civil. O ataque com armas químicas em 2013, que resultou na morte de mais de 1.400 pessoas, foi um dos eventos que capturaram a atenção global, levando a uma onda de condenação internacional sem precedentes e ao aumento do apoio militar dos EUA a grupos de oposição. Esses episódios solidificaram a imagem de Assad como um ditador que não hesita em massacrar seu próprio povo para se manter no poder.
O conflito se transformou em um campo de batalha de interesses internacionais, com a Rússia e o Irã se posicionando como os principais aliados de Assad. Essa dinâmica complexa tornou a situação ainda mais caótica, com uma luta interna que arrasou a infraestrutura do país e expôs as fraquezas do regime. A guerra que se arrasta há mais de uma década deixa um legado sombrio para futuras gerações de sírios.
Se o futuro de Assad é incerto, uma coisa permanece inegável: o seu governo é um capítulo sombrio da história contemporânea, que moldou a trajetória da Síria e reverberou em todo o Oriente Médio. As lições da brutalidade do regime e da resistência da população agora são um lembrete constante de que as esperanças de um futuro melhor estão frequentemente ligadas a um passado de luta e resistência.