Mitchell Green, um seleta figura de Wall Street, com uma carreira que inclui cargos no setor bancário e como analista de investimentos, decidiu seguir um caminho distinto após fundar a Lead Edge Capital em 2011. Ele não apenas começou sua própria empresa, mas também acumulou um portfólio impressionante ao longo dos anos, gerenciando atualmente investimentos de mais de 700 indivíduos ao redor do mundo, somando cerca de 5 bilhões de dólares. Isso é um feito notável que levanta a questão: qual o segredo por trás desse sucesso?
Green atraiu um público diversificado, incluindo nomes de destaque como Anne Mulcahy, ex-CEO da Xerox, David Pottruck, ex-CEO da Charles Schwab, e Dan Schulman, ex-CEO do PayPal. O sucesso inicial de sua empresa não se deve apenas ao investimento em gigantes tecnológicos como Alibaba e Bumble, mas também ao que ele descreve como um “estratégia de clima perene”, que implica em um direcionamento crescente de seus investidores para negócios de controle dentro de empresas que muitos capitalistas de risco consideram “supervalorizadas”. Exemplos desse novo foco incluem uma empresa de software de monitoramento cardíaco da Flórida e uma firma de planejamento tributário no Texas.
A Lead Edge Capital, com um longo histórico como investidora em grandes empresas da China, continua a direcionar parte de seus investimentos para a ByteDance, a empresa-mãe do TikTok. Apesar das incertezas regulatórias nos Estados Unidos que poderiam levar a um eventual banimento da plataforma, Green mantém uma perspectiva otimista, prevendo uma enorme saída na eventual realização de um IPO. Mesmo que o TikTok enfrente dificuldades, Green acredita que a ByteDance possui uma base sólida para um retorno considerável, o que demonstra sua visão de longo prazo em relação a empresas de tecnologia.
Durante uma conversa recente em sua suíte de hotel em Las Vegas, onde se encontrava para o Grande Prêmio de Fórmula 1, discutimos sua visão sobre a evolução do mercado de tecnologia e seu impacto nas decisões de investimento. Green, que tem um passado como esquiador alpino classificado nacionalmente, expressou sua perspectiva sobre a Ant Group, que estava a poucos dias de seu IPO antes de ser bloqueada pelo governo chinês. Ele afirmou que, embora o negócio continue a ser significativo, a Lead Edge atualmente não possui planos de venda ou aquisição adicionais da Ant Financial, além de manter seu investimento atual.
Embora o foco em empresas de tecnologia principalmente na Califórnia ainda seja comum, Green revelou que apenas 9% das suas participações estão localizadas na Bay Area. O que realmente lhe interessa são negócios que ainda estão em crescimento, mesmo em locais menos tradicionais, como Sarasota, Florida, onde recentemente a Lead Edge se tornou a primeira investidora de uma empresa chamada Pacemate. Com um time de analistas jovens e dinamicamente criativos, Lead Edge avalia aproximadamente 10.000 companhias por ano, utilizando critérios específicos para identificar oportunidades de investimento.
Um ponto crucial discutido foi o movimento da Lead Edge em direção a uma abordagem mais semelhante a um private equity. Green destacou que, independentemente do percentual de participação de capital, o que importa é o crescimento do negócio. A Lead Edge procura parcerias que permitam transformar empresas com receita anual de 20 milhões de dólares em entidades que podem alcançar 100 milhões de dólares, independentemente de serem 21% ou 75% seus acionistas. Este modelo de crescimento está cada vez mais em evidência na atual paisagem de investimentos, onde muitos venture capitalists estão levando em conta a supervalorização das empresas.
A respeito do cenário competitivo, Green mencionou a saturação do mercado com capital excessivo em busca de um número limitado de empresas, o que resulta em avaliações extremadamente elevadas. Ele criticou a mentalidade percebida de capitalistas de risco que, em vez de buscar fundamentos sólidos, se alimentam de informações e tendências discutidas nas redes sociais. Esta abordagem, segundo Green, leva a um ciclo vicioso que prejudica a saúde do ecossistema de startups e inovações.
Em relação ao futuro, Green compartilhou sua visão cautelosa sobre os primeiros modelos de empresas de inteligência artificial. Ele expressou preocupações de que muitos negócios desse segmento correm o risco de fracasso, uma vez que a evolução e implementação do AI poderão seguir um caminho mais demorado do que o esperado. Ele comparou o cenário atual seja para o AI e outras inovações tecnológicas às transformações que ocorreram na revolução digital e nos custos de desenvolvimento de websites, enfatizando a necessidade de cautela ao investir em alto risco e crescimento, especialmente em um ambiente onde múltiplos extremos de avaliação são comuns.
Ao final, a Lead Edge Capital parece estar se posicionando de forma estratégica no panorama atual, afastando-se das táticas tradicionais de venture capital e explorando novas oportunidades em setores que consideram substancialmente mais viáveis e menos supervalorizados. À medida que o mercado evolui, será interessante observar como Mitchell Green e sua equipe continuarão a moldar sua abordagem e responder a um cenário econômico em constante mudança, enquanto almejam resultados que beneficiem tanto seus investidores quanto as empresas nas quais eles decidem investir.