Washington — A investigação sobre as tentativas de assassinato contra o ex-presidente Donald Trump trouxe à tona importantes preocupações sobre a “cultura do silêncio” que, segundo o representante Jason Crow, democrata do Colorado e líder da equipe bipartidária da Câmara encarregada do caso, tem permeado as operações do Serviço Secreto. Crow denunciou que tal cultura impede que agentes relatem irregularidades em momentos críticos, criando um ambiente onde vozes que deveriam ser ouvidas permanecem silenciosas.

“Fiquei impressionado com os relatos sobre as ações específicas de oficiais e agentes no dia dos ataques”, comentou Crow durante uma entrevista no programa “Face the Nation” com Margaret Brennan. “Enquanto alguns deles agiram de forma heroica, houve muitos exemplos de pessoas que perceberam que algo estava errado e não disseram nada”, destacou o congressista.

A tarefa não tem sido fácil para essa força-tarefa recém-criada pela Câmara dos Representantes, que foi estabelecida no início do ano. Nos dias recentes, a equipe concluiu seus trabalhos focando nas falhas de segurança relacionadas à tentativa de assassinato que ocorreu em Butler, Pensilvânia, no dia 13 de julho, e na tentativa frustrada do dia 15 de setembro, em West Palm Beach, Flórida. O Serviço Secreto, após as tentativas, enfrentou um intenso escrutínio que levou à demissão de seu diretor.

Na última semana, o diretor interino do Serviço Secreto, Ronald Rowe, depo-filou diante do painel investigador em sua audiência final, reconhecendo que a agência falhou em assegurar adequadamente a área em Butler. Rowe também mencionou “lacunas críticas” nas operações da agência, afirmando: “Não atendemos às expectativas do público americano, do Congresso e dos protegidos.” O interino diretor enfatizou que sua “prioridade singular” tem sido trazer as reformas necessárias ao Serviço Secreto.

De acordo com Rowe, o Serviço Secreto está “operando em um ambiente de ameaças elevadas, com requisitos de proteção em expansão.” Ele argumentou que as responsabilidades da agência são críticas para a segurança nacional dos Estados Unidos, adicionando que “nossa agência não é definida por um fracasso, mas por nossa capacidade de aprender com os erros”.

Além disso, o presidente da força-tarefa, o republicano Mike Kelly, que representa a região de Butler, expressou que o Serviço Secreto carece da liderança necessária para a proteção adequada. Durante sua participação no mesmo programa, Kelly argumentou que a inclusão da agência no Departamento de Segurança Interna resultou na perda de sua identidade, tornando-a parte de uma equipe maior e menos exclusiva.

Reps. Mike Kelly and Jason Crow on 'Face the Nation with Margaret Brennan.'
Reps. Mike Kelly e Jason Crow no programa “Face the Nation com Margaret Brennan.”CBS News

Referente ao ataque em julho, Kelly apontou que houve falhas em “cada passo do caminho”. Ele criticou que a equipe responsável pela segurança não realizou uma reunião anterior ao evento e destacou que a polícia local não foi incluída na coordenação dos planos, o que poderia ter ajudado a evitar a situação crítica. “Em 13 de julho, houve uma falta de profissionalismo, de preocupação e de coordenação. A capacidade de se comunicar é algo que eu nunca entenderei. Se você sabia que não poderia se falar, por que ainda assim avançaram com os planos?”, questionou Kelly.

O representante Crow provocou questões importantes sobre o atirador envolvido no ataque em Butler, assim como o potencial atirador que foi frustrado em West Palm Beach, observando que a força-tarefa solicitou informações ao Departamento de Justiça e ao FBI sobre suas motivações, mas que essas solicitações foram constantemente negadas. Ele rotulou essa situação como “inaceitável” e acusou as agências de tentar “barrar” as investigações do Congresso.

Crow abordou a questão de que, embora existam “vários agentes e oficiais extraordinários” no Serviço Secreto, a investigação indicou uma “falha na missão” em Butler. Ele argumentou que a estrutura e o pessoal da agência permanecem essencialmente os mesmos ao longo dos anos, mesmo com as exigências sendo maiores. “Estamos pedindo a eles que realizem tarefas que não faziam há uma década. O ritmo do trabalho não permite que os agentes tenham tempo para o treinamento adequado. Não estamos desenvolvendo suas habilidades e sua formação, e eu acho que isso se reflete nos resultados que estamos vendo atualmente”, concluiu Crow.

Por outro lado, Kelly enfatizou que a força-tarefa tem trabalhado arduamente desde o início para tentar restaurar a confiança no Serviço Secreto, que, segundo ele, está provavelmente em seu “ponto mais baixo” na história. Ele reconheceu também a pressão incessante sobre o Serviço Secreto e a necessidade de preparo constante. “Você deve estar pronto a cada momento para qualquer coisa que possa acontecer. É uma tarefa difícil? Sim. É quase impossível? Sim. Mas o que não é impossível é nosso compromisso de fazer o melhor que pudermos todos os dias para que o povo americano tenha a fé e a confiança que precisa em nós”, destacou Kelly.

A contínua investigação sobre as falhas do Serviço Secreto ilustra a importância de uma agência responsável pela proteção do mais alto dignitário do país. Ao ressaltar esses desafios e a crítica à cultura do silêncio, fica claro que a transparência e a comunicação são fundamentais para a eficácia das operações em situações de risco. O clamor por reformas e melhorias nos processos é um passo necessário para restaurar a confiança do público em uma instituição que desempenha um papel tão crucial na segurança nacional.

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