Seul, Coreia do Sul
CNN
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A recente declaração de lei marcial na Coreia do Sul trouxe à tona um episódio inesperado e preocupante. O coronel Kim Hyun-tae, comandante da Força Tarefa Especial 707 do país, fez uma declaração sem precedentes em uma coletiva de imprensa na última segunda-feira. Ele se desculpou publicamente por ter ordenado que suas tropas invadissem o Parlamento nacional, reconhecendo que colocou seus soldados em “grave perigo” durante essa sequência de eventos esplendorosos e caóticos que chocaram a nação.
Colocando-se como um “comandante incompetente e irresponsável”, o coronel Kim detalhou a situação tensa que se desenrolou durante a breve imposição de lei marcial pelo presidente Yoon Suk Yeol. Ele se apresentou como o responsável pelas ordens dadas durante a operação, onde 197 soldados foram enviados ao local. Kim descreveu como ele chegou rapidamente ao edifício do Parlamento, solicitando que os soldados cercassem o prédio, entrassem em confrontos físicos nas portas e quebrassem janelas para invadir os locais das votações.
“Se tais ordens tivessem sido dadas em combate, todos estariam mortos,” afirmou ele, enfatizando o caráter trágico da situação. O coronel Kim defendeu seus homens, que se tornaram as verdadeiras vítimas dos eventos e pediu compreensão para suas famílias que estavam observando tudo de forma angustiada. Ele fez um pedido especial de desculpas aos soldados, reiterando que eles não eram culpados por simplesmente seguirem as ordens de um comandante que falhou em sua liderança.
Além de reconhecer sua própria incompetência, Kim também apontou o dedo para o ex-ministro da defesa, Kim Yong-hyun. O coronel alegou que o ex-ministro “explorou” os soldados durante aquela noite caótica, exacerbando a confusão. Esse evento se desenrolou em um contexto em que os cidadãos sul-coreanos, em um ato de desespero e indignação, se reuniram em protestos subversivos, exigindo a renúncia do presidente Yoon, desafiando a decretação militar.
A noite se tornou um símbolo de resistência quando parlamentares conseguiram furar o cerco de quase 300 soldados que tinham sido designados para o local. Esses legisladores se reuniram em uma votação unânime para revogar o decreto de lei marcial, mostrando que a democracia poderia prevalecer mesmo em momentos de crise. Entre as imagens mais marcantes da noite, destaca-se a cena de um político, An Gwi-ryeong, que foi registrado em vídeo retirando a arma de um soldado à medida que os representantes do povo se confrontavam com os militares.
Enquanto os eventos se desenrolavam, Kim implorou por compreensão e perdão para seus soldados, ressaltando que eles eram os que realmente estavam sofrendo. Ele se comprometeu a aceitar total responsabilidade pelos seus atos e a enfrentar quaisquer consequências legais decorrentes de suas decisões.
Atualmente, a polícia nacional da Coreia do Sul está investigando o presidente Yoon, o ex-ministro Kim Yong-hyun e outros altos funcionários do governo por suposta traição. Este último foi detido por procuradores no último domingo, exacerbação do clima de tensão e incerteza que permeia o governo e a sociedade.
O evento, que durou apenas seis horas, enviou ondas de choque por toda a Coreia do Sul e pela comunidade internacional, lembrando a todos os perigos potencialmente inerentes à governança. A declaração de emergência militar reacendeu memórias dolorosas da história do país, que deixou marcas profundas durante décadas de regimes militares, e trouxe à tona a luta contínua pela democracia que foi conquistada por meio de um longo e sangrento processo nos anos 80.
Embora o presidente Yoon tenha sobrevivido a uma votação de impeachment em um parlamento controlado pela oposição no último sábado, sua sobrevivência política ficou ameaçada. O partido de Yoon manifestou sua intenção de buscar a renúncia do presidente e pediu sua suspensão das funções para proteger o país de “grave perigo”. As consequências dos acontecimentos da noite fatídica permanecem incertas, mas as repercussões já estão sendo sentidas em toda a sociedade sul-coreana, que continua em vigilância constante em relação aos seus líderes e ao futuro da democracia no país.