Às vésperas de assumir a presidência no próximo mês, Donald Trump, conhecido por suas opiniões contundentes e posturas difíceis, demonstra um certo desconforto diante do cenário internacional volátil que herdará. A situação global, repleta de incertezas e desafios inesperados, não permite que o novo presidente possa voltar sua atenção apenas para os planos domésticos que almeja implementar. Entre esses desafios, a recente queda do regime de Bashar al-Assad na Síria destaca-se como uma questão de grande relevância que exigirá uma abordagem cuidadosa e estratégica por parte da nova administração.
Enquanto Trump se encontra com líderes globais, como o presidente francês Emmanuel Macron, ele expressa a sua perplexidade sobre a dinâmica internacional, afirmando que “o mundo parece estar um pouco louco neste momento.” Essa sensação de caos é intensificada pela inesperada queda da dinastia al-Assad, que gerou novas e traiçoeiras circunstâncias. Com essa mudança abrupta, Trump se vê diante de um teste imediato para seus objetivos e habilidades em política externa logo em seu primeiro mês de governo.
“Este não é nossa briga. Deixe isso acontecer. Não se envolva,” declarou Trump através de suas redes sociais. A declaração reflete uma postura tradicional dos EUA de se afastar de intervenções em conflitos no Oriente Médio, uma tendência que se intensificou após quase duas décadas de guerras na região. Contudo, a realidade de que os interesses americanos podem se manifestar de forma a exigir uma resposta, seja diplomática ou militar, não pode ser ignorada. As nações que desafiam a influência americana estão atentas, e há o perigo de que, ao optar pelo distanciamento, os Estados Unidos permitam que potências adversárias ocupem o vácuo deixado.
O senador Markwayne Mullin, aliado de Trump, argumenta que a intervenção dos EUA deve ocorrer apenas quando envolver a segurança nacional do país. No entanto, é inegável que a desestabilização da Síria e as suas implicações regionais constituem uma ameaça que pode exigir uma reavaliação rápida da política externa americana. Além disso, a reconfiguração geopolítica no Oriente Médio pode criar oportunidades para objetivos internacionais do novo governo, como o enfrentamento renovado com o Irã.
Trump tem um entendimento claro de que a queda do presidente Assad representa uma derrota não apenas para a Síria, mas também para a Rússia, que apoiou Assad para conservar sua influência na região. “A queda de Assad é um duro golpe para o Irã,” afirmou Trump. Essa nova configuração pode facilitar um alinhamento estratégico na busca do presidente-eleito para negociar a paz na Ucrânia, à medida que a Rússia enfrenta desafios em múltiplas frentes e seus aliados se veem em uma posição de fraqueza.
Com a situação na Síria mudando rapidamente, os desafios do novo presidente não se limitam apenas ao Oriente Médio. O complexo cenário da política externa dos EUA se estende de forma abrangente, abrangendo países do Oriente Médio até a Europa Oriental, onde a situação na Ucrânia continua a evoluir. O envolvimento da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia, por exemplo, mostra uma nova dimensão das ameaças globais. Além disso, a crescente parceria estratégica entre Irã, Rússia, Coreia do Norte e China adiciona uma camada de complexidade que Trump terá que considerar ao formar sua abordagem política internacional.
Embora Biden tenha proclamado uma resposta forte à queda de Assad, ressaltando a necessidade de justiça para com o povo sírio e um compromisso com a estabilidade na região, Trump se verá pressionado a, primeiro, avaliar os danos, as consequências e a viabilidade de qualquer intervenção americana no futuro. O legado de agitações e conflitos sangrentos que marcaram o envolvimento americano em guerras estrangeiras influenciará sua percepção sobre a possibilidade de uma nova intervenção na Síria. A lição da história não é nova: o otimismo que ocorre em momentos de transição política frequentemente é efêmero.
Cabe a Trump, ao assumir a presidência, avaliar a situação no terreno e determinar como, ou se, os Estados Unidos devem envolver-se no futuro da Síria. A decisão sobre a manutenção da presença militar dos EUA na região é pendente, e o dilema de como equilibrar a segurança nacional com a necessidade de evitar novos conflitos é uma questão que certamente permanecerá na agenda do novo presidente nos próximos dias e meses. Embora a situação em Síria não ofereça benefícios financeiros imediatos para os Estados Unidos, as implicações geopolíticas da estabilidade ou da instabilidade na região têm o potencial de impactar diretamente os interesses americanos a longo prazo.
Na configuração atual, um Síria unificada e estável pode ser um fator crucial para a segurança israelense, o que, sem dúvida, também está nos planos de Trump. A construção de uma nação que bloqueie os envios de armamentos do Irã para rearmar grupos como o Hezbollah no Líbano poderá alinhá-lo com seus interesses na política externa. Assim, o desafio para Trump será como navegar nesse panorama dinâmico e incerto, tendo em mente que as decisões que tomará poderão levar a desdobramentos significativos na ordem mundial estabelecida.
Finalmente, à medida que Trump se prepara para sua nova administração, ele ficará sob vigilância por parte de aliados e adversários que desejam entender como suas promessas e sua abordagem à política externa se desdobrarão na prática. Enquanto ele reflete sobre a queda de Assad, ele deve assegurar que, em um mundo em mutação, a política externa dos EUA não é apenas reativa, mas sim uma força proativa que busca estabilidade e segurança em um ambiente cada vez mais caótico.