No último fim de semana, o Haiti foi palco de um grave incidente de violência, resultando na morte de ao menos 184 pessoas em sua capital, Porto Príncipe. O aumento da violência, exacerbado por confrontos entre gangues, levou o número total de mortos em 2024 a impressionantes 5 mil, alarmando autoridades de direitos humanos e a comunidade internacional. O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, reportou que a escalada da criminalidade está colocando o país em uma situação crítica, refletindo uma crise de segurança que se arrasta há anos e que parece estar fora de controle.
O massacre nas ruas do bairro de Cité Soleil, uma das áreas mais empobrecidas de Porto Príncipe, foi atribuído ao líder da gangue Wharf Jeremie, identificado como Monel “Mikano” Felix. Segundo informações, Felix teria recebido orientação de um sacerdote de vodu que o convenceu de que os idosos na região eram responsáveis pela morte de seu filho, acusado de ter sido ferido por feitiçaria. Baseando-se nessa crença, o gangue de Felix armou uma ação brutal, resultando na morte de um número alarmante de pessoas, todas com mais de 60 anos, utilizando facões e facas. O massacre, ocorrido em meio a um histórico de impunidade nas ações das gangues, chocou ainda mais a sociedade haitiana e o mundo.
De acordo com a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (RNDDH), a cena de horror em Cité Soleil foi o culminar da escalada da violência no bairro, que há muito tempo convive com a ação violenta dos grupos criminosos. A falta de segurança efetiva por parte das forças policiais, assim como a dificuldade em controlar a situação, se mostram como desafios constantes para o governo haitiano. A região, marcada por sua alta densidade populacional e condições de vida precárias, se transformou em um verdadeiro campo de batalha entre gangues rivais, enquanto a população civil se vê refém do terror cotidiano.
Por trás deste aumento na violência, encontramos um contexto político instável que tem se perpetuado ao longo dos anos no Haiti. O sequestro do estado por gangues armadas não apenas aumentou a violência nas ruas, mas também impediu que a polícia mantivesse a ordem pública, mesmo após a chegada de um contingente de policiais do Quênia. As operações de segurança têm se mostrado ineficazes para retomar o controle das áreas dominadas por essas facções armadas.
A instabilidade levou diversas companhias aéreas internacionais a suspenderem voos para o Haiti. Com a recente onda de violência, incluindo incidentes em que aviões foram atingidos por disparos, como ocorreu em novembro, empresas como American Airlines, Spirit Airlines e JetBlue Airways decidiram interromper totalmente suas operações no país, resultando em uma severa limitação na mobilidade dos haitianos e de visitantes. A American Airlines anunciou que não planeja mais retomar seus voos como previsto anteriormente, enquanto os protocolos de segurança continuam sendo uma preocupação primária para todos os envolvidos.
A situação atual no Haiti é alarmante e exige urgência em uma resposta internacional. O crescente número de mortos e a escalada da violência colocam em risco não apenas a vida dos cidadãos haitianos, mas também a estabilidade da região como um todo. Com a ONU e outras organizações humanitárias alertando sobre a necessidade de uma ação coordenada, o futuro do Haiti permanece incerto em meio a um cenário de dor e incerteza. Uma questão que fica no ar é: até quando essa crise continuará a se agravar sem um diálogo efetivo e uma solução sustentável para um povo que sofre há tanto tempo?
O que será necessário para que o Haiti encontre um caminho para a paz? O clamor por ajuda e a necessidade de intervenção internacional se tornam cada vez mais urgentes, exigindo o olhar atento da comunidade global e um compromisso real em buscar alternativas que possam garantir a segurança e a dignidade aos haitianos. A construção de um futuro melhor depende do reconhecimento e enfrentamento das raízes do problema estruturais que têm assombrado a nação caribenha.