Taipei/Hong Kong
CNN
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Várias formações de embarcações navais e de guarda costeira da China estão se movendo nas águas ao redor do Estreito de Taiwan e do Pacífico Ocidental, de acordo com o Ministério da Defesa de Taiwan, que alertou sobre possíveis exercícios militares por parte de Pequim. Esse cenário acende alertas sobre a crescente tensão na região, especialmente após eventos recentes que elevaram a pressão entre os dois lados.

As Forças Armadas de Taiwan identificaram embarcações do Exército de Libertação Popular da China (PLA) nos Comandos Teatrais Oriental, Norte e Sul, além de embarcações da Guarda Costeira entrando nessas zonas, conforme destacou o ministério em uma declaração oficial.

Essa movimentação militar ocorre dias depois que o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, despertou a ira de Pequim ao realizar paradas não oficiais no Havai e no território guamense dos Estados Unidos durante uma turnê de uma semana pelo Pacífico Sul, que terminou na sexta-feira.

As autoridades chinesas expressaram forte oposição à viagem de Lai, rotulando-o de “separatista”. Sua viagem se deu após a aprovação de novas vendas de armas dos EUA para Taiwan, levando a China a prometer “contra-medidas fortes” em resposta. Essa dinâmica ressalta a complexa relação entre os países, cheia de tensões e interações diplomáticas, jogando luz sobre o papel dos Estados Unidos na segurança da região.

O Partido Comunista da China, que governa o país, reivindica Taiwan como seu território, apesar de nunca ter controlado a ilha, e vê interações não oficiais entre os EUA e Taiwan como uma violação de sua soberania. No entanto, a liderança de Taiwan rejeita as alegações territoriais da China, enquanto Pequim promete “reunificar” com a ilha e não descarta a possibilidade de ações militares.

O Ministério da Defesa de Taiwan afirmou também que iniciou exercícios de prontidão para combater atividades do PLA, mantendo-se em alerta alto para monitorar os movimentos das forças armadas chinesas. Essa preparação não é apenas um reflexo da preocupação com a segurança nacional, mas também uma demonstração da resiliência e determinação de Taiwan frente à crescente pressão militar de Pequim.

“Qualquer provocação unilateral pode minar a paz e a estabilidade no Indo-Pacífico. Abordaremos todas as incursões na zona cinza e garantiremos nossa segurança nacional,” disse o ministério em uma postagem na plataforma de mídia social X. O uso do termo “zona cinza” indica movimentos que não são abertamente bélicos, mas que ainda representam desafios significativos para a estabilidade da região.

Aumento da presença naval da China

Pequim, historicamente, usou exercícios militares como uma forma de intimidar Taiwan em resposta a ações que considera violadoras de suas reivindicações sobre a ilha, parte de uma tendência mais ampla de pressão militar que tem desempenhado um papel no estreitamento da parceria não oficial entre Washington e Pequim.

Um oficial sênior de Taiwan informou à CNN que a atual presença naval da China é maior do que aquelas observadas nas duas rodadas anteriores de exercícios militares ao redor da ilha, realizadas anteriormente neste ano. Essa informação sugere uma escalada da postura militar da China, o que pode ter implicações profundas para a dinâmica de segurança na região.

Em maio, dias após a posse de Lai, a China lançou dois dias de grandes exercícios militares ao redor de Taiwan, que foram considerados uma “punição” por supostos “atos separatistas”. Esses exercícios foram chamados de “Espada Conjunta-2024A” e refletiram a crescente tensão entre os dois lados.

A China, então, realizou os exercícios “Espada Conjunta-2024B” em outubro, após Lai afirmar em um discurso no Dia Nacional que a ilha “não é subordinada” à China. Essa sequência de eventos reacende discussões sobre a capacidade dos EUA de exercer influência nas questões de segurança da região, especialmente considerando a estreita relação de Taiwan com Washington.

O recente movimento militar da China parece diferir das duas rodadas de exercícios anteriores, conforme observado por um oficial de Taiwan. Em vez de cercar Taiwan, os navios da marinha chinesa parecem estar tentando afirmar controle dentro da primeira cadeia de ilhas – uma cadeia estratégica que abrange Japão, Taiwan, partes das Filipinas e Indonésia, conforme destacado pelo oficial.

Adicionalmente, o Ministério da Defesa de Taiwan informou que o PLA designou sete zonas de espaço aéreo reservado a leste de suas províncias costeiras de Zhejiang e Fujian, que ficam ao norte e noroeste de Taiwan, respectivamente. Essas zonas, que são temporariamente reservadas para um usuário específico durante um período definido, ainda permitem a passagem de outras aeronaves desde que haja permissão dos controladores do espaço aéreo, em conformidade com as regras de aviação internacionais.

“Nunca se curvar ao autoritarismo”

Quando questionada sobre as embarcações e as restrições do espaço aéreo mencionadas por Taiwan, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou: “Taiwan é uma parte integral do território da China. A questão de Taiwan é um assunto interno da China. A China defenderá firmemente sua soberania nacional e território.” Essa postura assertiva ilustra a firmeza da China em questões territoriais e a relação conturbada com Taiwan e os Estados Unidos.

Lai realizou paradas no Havai e em Guam durante uma turnê pelas Ilhas Marshall, Tuvalu e Palau, que são alguns dos poucos aliados diplomáticos restantes de Taiwan. Essas escalas não oficiais nos EUA são habituais para os líderes de Taiwan e sinalizam um aceno à sua continuidade nas relações internacionais.

A visita foi o primeiro deslocamento de Lai aos Estados Unidos desde que se tornou presidente em maio. O líder, que há muito enfrenta a ira de Pequim por promover a soberania de Taiwan, utilizou sua viagem para reforçar a solidariedade com democracias afins na região.

Durante sua parada em Guam, Lai fez um apelo a países afins para que “nunca se curvem ao totalitarismo”. Essa mensagem forte de resistência ressoou entre os membros da comunidade taiwanesa no exterior e ilustra a determinação do presidente em assegurar a autonomia e a democracia de Taiwan perante as ameaças externas.

“Espero que todos os nossos compatriotas, não importa onde estejam, façam um compromisso conjunto para continuar a aprofundar nossa democracia e protegê-la,” disse Lai em um discurso para membros da comunidade taiwanesa no exterior, assim como ao governador de Guam, Lou Leon Guerrero, na quinta-feira. Essas palavras ecoam o desejo de Lai de manter o laço forte entre Taiwan e sua diáspora global.

Lai também teve uma conversa telefônica com o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, durante sua parada no território americano, que abriga algumas das bases mais estrategicamente importantes dos EUA no Pacífico. Esta interação enfatiza o significativo apoio diplomático e militar que Taiwan acabou de receber dos EUA, o que pode melhorar sua capacidade de resposta diante das ameaças da China.

Beijing criticou severamente os deslocamentos de Lai durante toda a semana passada, prometendo “medidas resolutas e fortes para defender a soberania e a integridade territorial do nosso país.” Esses avisos indicam uma contínua volatilidade da relação entre Taiwan e China e a possibilidade de que pequenas provocações possam gerar reações muito profundas e potencialmente perigosas. Portanto, a situação permanece tensa, e as pras específicas a serem observadas em relação à posição internacional de Taiwan são cautelosamente monitoradas pelos analistas.

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