Nova Iorque
CNN
A gigante do varejo Macy’s se encontra em uma situação financeira complicada, levantando questionamentos sobre seu futuro e viabilidade como empresa. De acordo com uma análise recente, muitos especialistas acreditam que a empresa poderia ter um valor de mercado maior caso simplesmente fechasse suas portas e vendesse suas propriedades como um todo. Essa assertiva foi fortalecida pelos argumentos apresentados pela Barington Capital, uma empresa de investimentos ativistas, junto com a Thor Equities, uma firma de private equity, que na última segunda-feira apresentaram uma proposta pedindo mudanças significativas na estratégia de negócios da Macy’s para melhorar seu valor acionário.
Segundo os investidores, o problema identificado é que a Macy’s possui um valioso portfólio imobiliário que, na verdade, supera o valor total da empresa em si. Esse cenário é considerado insustentável e, de acordo com eles, mascara o verdadeiro patrimônio da Macy’s. Atualmente, as lutas enfrentadas pela companhia tornaram suas ações tão pouco atrativas que elas possuem um valor inferior à soma de seus ativos individuais, um alerta para investidores e analistas. A solução proposta pelos investidores? Desmembrar a empresa. Como afirmou Barington em uma apresentação que foi disponibilizada publicamente, “a Macy’s possui ativos imobiliários valiosos. O mercado está sugerindo que as operações de varejo da Macy’s são essencialmente sem valor”.
Um exemplo marcante desse valor oculto é o icônico edifício da Macy’s localizado na Herald Square, em Nova Iorque, cujos ativos poderiam alcançar o valor de até 9 bilhões de dólares no mercado aberto — um valor quase duas vezes maior do que a capitalização de mercado da Macy’s, que fechou em 4,7 bilhões de dólares na segunda-feira. Os investidores acreditam que a Macy’s pode gerar mais valor imobiliário, se optasse por alugar a propriedade para uma subsidiária que controlasse os ativos, além de considerar a venda de espaços para desenvolvimento de hotéis, apartamentos ou escritórios.
A Macy’s opera com um total de 720 lojas no país, incluindo a renomada Bloomingdale’s e a rede de beleza Bluemercury. Este valor de suas propriedades não é uma descoberta recente; há muito tempo, investidores e desenvolvedores têm mostrado interesse em construir sobre o local da Herald Square. Inclusive, a Macy’s já chegou a apresentar propostas para erguer um arranha-céu de escritórios acima da loja.
A resposta da Macy’s aos proponentes foi rápida. A companhia reafirmou seu compromisso em “promover um crescimento sustentável e lucrativo, além de alavancar o valor para os acionistas”. A administração da Macy’s acredita em sua estratégia atual, que inclui o fechamento de lojas menos lucrativas e um investimento substancial nas 50 principais lojas, visando melhor atendimento e novas mercadorias.
Nesta onda de reestruturação e reavaliação dos modelos de negócios, grupos de investidorios como fundos de private equity e hedge funds têm adotado estratégias de aquisição de varejistas em dificuldades, com a pretensão de reviravoltas que acabaram não resultando em sucesso. Exemplos como Sears e Toys “R” Us trazem à tona o receio de que um movimento semelhante possa levar à extinção da Macy’s. Mark Cohen, ex-diretor de estudos de varejo da Columbia Business School, sugere que a Macy’s deve rejeitar essa proposta, alegando que os investidores não têm interesse na viabilidade a longo prazo do negócio, afirmando, “Se deixados a seu próprio critério, esses investidores estrangularão a empresa”.
A incerteza em torno da proposta dos investidores permanece, uma vez que não houve resposta imediata de Barington e Thor às solicitações de comentário da CNN. A trajetória sugerida pelos investidores guarda semelhanças com a tomada de controle de Sears e Kmart, resultando em grandes vendas de ativos e desmembramento das operações. Dentre as referências em falência, estão marcas icônicas que, após o interesse de fundos de private equity e grupos de hedge funds, acabaram por fechar suas portas, como Lord & Taylor e RadioShack. Outras, como Toys ‘R’ Us e Payless Shoes, também enfrentaram o mesmo destino em uma jornada repleta de dificuldades financeiras.
Macy’s e suas batalhas no varejo contemporâneo
O desempenho da Macy’s não está isolado, pois a empresa está lutando contra a concorrência feroz de varejistas online como Amazon, além de grandes redes com ofertas de produtos variados, como Walmart e Target, e lojas de desconto, como TJ Maxx e Marshalls. Ao longo da última década, o valor das ações da Macy’s despencou em em torno de 70%, refletindo as mudanças no comportamento do consumidor e o predomínio das compras online.
Vale destacar que esta não é a primeira vez que investidores ativistas tentam influenciar a Macy’s este ano. Em julho, a administração da empresa encerrou conversações com grupos de investidores que pretendiam comprar a Macy’s e, possivelmente, reestrutura-las em unidades separadas. A proposta mais recente surge em um momento em que um escândalo contábil obrigou a Macy’s a atrasar seu relatório trimestral de rendimentos, com um funcionário tendo omitido até 154 milhões de dólares em despesas ao longo de quase três anos. A próxima apresentação financeira da companhia será realizada na quarta-feira, e muitos do mercado estarão atentos aos desdobramentos.