Em um mundo cada vez mais interconectado, as questões comerciais ganham maior relevância, especialmente entre potências como China e Estados Unidos. Recentemente, o líder chinês Xi Jinping fez um alerta contundente ao governo norte-americano sobre as consequências de reabrir um conflito comercial, afirmando que uma nova guerra comercial resultaria em perdas para ambas as partes. Xi enfatizou que não haveria “vencedores” nessa disputa, ao mesmo tempo em que reafirmou o compromisso da China em proteger seus interesses econômicos. Essa declaração foi feita em um encontro com representantes de instituições financeiras globais, incluindo o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.
O contexto para a fala de Xi é marcado por tensões comerciais que se acirraram nos últimos anos, especialmente em um cenário onde as relações entre os dois países se tornaram mais frágiles. No dia anterior, autoridades chinesas anunciaram uma investigação antitruste contra a fabricante americana de chips Nvidia, uma ação que muitos interpretam como uma escalada em uma batalha crescente pela dominação em inteligência artificial (IA). Ambos os países reconhecem que essa área é vital para a segurança nacional, tornando a situação ainda mais delicada, especialmente com a expectativa de que Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, possa retornar ao poder.
Durante seu discurso, Xi afirmou que “guerra tarifária, guerra comercial e guerra tecnológica vão contra a tendência histórica e as leis econômicas”, destacando que a divisão entre países apenas traria danos mútuos. Ele ressaltou que construir “pequenos quintais cercados por muros altos” e “desacoplamento” apenas prejudicaria a todos e que um crescimento positivo da China contribui para o bem-estar global, e vice-versa. Essa visão reflete a crença da China de que a prosperidade mútua é necessária para um futuro mais estável e colaborativo.
O Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, já utilizou a expressão “quintal pequeno e cerca alta” para descrever uma estratégia de continuar a maior parte do comércio entre os dois países de forma normal, enquanto impõe restrições em determinados produtos, especialmente aqueles com aplicações militares, como semicondutores. Essa abordagem tem sido uma das tônicas da administração Biden, que na semana passada anunciou um novo conjunto de restrições de exportação, limitando o acesso de Pequim a equipamentos críticos de fabricação de semicondutores e controlando mais de 100 empresas chinesas.
A retórica também está se intensificando com a aproximação das eleições presidenciais nos Estados Unidos, especialmente com comentários recentes de Trump prometendo que a China enfrentaria tarifas mais altas em seus produtos se não tomasse medidas para impedir a entrada de drogas ilegais no país. Esse cenário, aliado à investigação sobre a Nvidia, representa um rompimento significativo em um campo que já está repleto de desconfiança e rivalidade.
Desempenho econômico chinês sob análise
A situação econômica da China também passa por uma fase desafiadora, na qual o país depende fortemente das exportações, especialmente para parceiros comerciais significativos como os Estados Unidos, para estimular seu crescimento. Recentemente, dados oficiais mostraram que as exportações caíram de maneira acentuada, com uma queda inesperada nas importações no mês passado. Em novembro, as exportações cresceram apenas 6,7%, um número muito abaixo da previsão de 8,5% feita por analistas e consideravelmente menor do que o aumento de 12,7% registrado em outubro.
Analistas como Zichun Huang, da Capital Economics, mencionaram que isso não deve marcar o fim do recente aumento das exportações da China. Segundo ele, a expectativa é que as tarifas impostas pelos EUA possam reduzir os volumes de exportação em cerca de 3%, mas os efeitos podem não ser sentidos antes do meio do próximo ano. Enquanto isso, alguns acreditam que a ameaça de tarifas pode, na verdade, impulsionar as exportações, já que empresas americanas aumentam seus pedidos como forma de preparação.
Além disso, o Politburo do Partido Comunista da China anunciou a adoção de uma política monetária “moderadamente solta” para o próximo ano, o que sugere uma relaxação no controle sobre as taxas de juros pela primeira vez desde 2010. Essa decisão parece estar ligada à necessidade de se preparar para “choques externos” e à fragilidade do cenário econômico atual.
Economistas da Citi indicaram suas expectativas de que a China continuará a melhorar suas relações comerciais através de incentivos, como a redução do imposto de reembolso de exportação e regras mais claras, incluindo compras governamentais. A interdependência entre as economias da China e dos Estados Unidos continua a ser um tema central das discussões sobre o futuro do comércio global, e um conflito aberto poderia ter implicações profundas não apenas para os dois países, mas para o cenário econômico internacional como um todo.
Dessa maneira, o que está em jogo é muito mais do que tarifas e produtos; trata-se de um rearranjo das relações internacionais que pode determinar o futuro econômico e geopolítico não apenas da China e dos Estados Unidos, mas de todo o mundo. Por enquanto, a esperança é que a diplomacia e a cooperação prevaleçam sobre a animosidade e o protecionismo, permitindo um caminho mutuamente benéfico para o desenvolvimento econômico sustentável.