Seul
AP
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A turbulência política na Coreia do Sul ganhou novos contornos nesta quarta-feira, com a prisão formal do ex-ministro da Defesa, Kim Yong Hyun. A medida é resultado de investigações sobre sua suposta colaboração com o presidente Yoon Suk Yeol e outros altos funcionários para a imposição de uma lei marcial, que ocorreu na semana passada, levantando questões sobre possíveis crimes de rebelião. Este evento marca uma das mais graves crises políticas que o país já enfrentou em décadas, levando a questionamentos sobre a constitucionalidade das ações do governo.

A lei marcial, a primeira imposta em mais de 40 anos, teve uma duração de apenas cerca de seis horas, mas tornou-se catalisadora de um incêndio político interno, resultando em grandes protestos nas ruas. O presidente Yoon e outros membros de sua administração enfrentam investigações criminais e tentativas de impeachment. Em um movimento sem precedentes, o Ministério da Justiça impediu Yoon e mais oito pessoas de deixarem o país, pois são considerados suspeitos principais no caso da lei marcial. Curiosamente, esta ação representa a primeira vez que um presidente em exercício na Coreia do Sul recebe uma proibição de viagem.

O Tribunal Distrital Central de Seul aprovou um mandado de prisão para Kim Yong Hyun com base em acusações de rebelião e abuso de poder. Kim, que se encontra detido desde domingo, pode esperar até 20 dias para saber se será indiciado. Uma condenação pelo crime de rebelião pode resultar até em pena de morte, o que demonstra a seriedade da situação.

Até o momento, Kim é a primeira pessoa a ser presa neste caso. Ele é acusado de ter recomendado a imposição da lei marcial ao presidente Yoon e de ter enviado tropas ao Parlamento para evitar que os legisladores votassem contra essa decisão. No entanto, uma quantidade suficiente de parlamentares conseguiu entrar na câmara e rejeitou de forma unânime o decreto do presidente Yoon, forçando o governo a revogar a medida antes do amanhecer do dia 4 de dezembro.

Em uma declaração feita na terça-feira, Kim expressou seu arrependimento, afirmando que “apenas ele” deve ser responsabilizado pela imposição da lei marcial e pediu clemência para os soldados que foram destacados para cumprir essa ordem, alegando que eles apenas estavam seguindo suas instruções.

Autoridades relacionadas ao caso afirmam que Kim desempenhou um papel fundamental na rebelião e no abuso de poder, orquestrando um levante para perturbar a constituição em conluio com o presidente Yoon e outros oficiais das forças armadas e da polícia. No entanto, o escritório do promotor público de Seul ainda não conseguiu confirmar essas alegações.

Enquanto a tensão aumentava, o parlamento, controlado pela oposição, aprovou uma proposta para a nomeação de um conselheiro especial independente para investigar Yoon e outros altos oficiais militares sobre a introdução da lei marcial. O principal partido de oposição, o Partido Democrático, argumenta que os promotores públicos não podem ser considerados imparciais na investigação de Yoon, que já foi o procurador-geral do país.

Durante uma audiência parlamentar, Kwak Jong-keun, comandante do Comando de Guerra Especial do Exército, que teve tropas enviadas ao Parlamento, testemunhou que recebeu instruções diretas de Kim Yong Hyun para impedir a entrada de legisladores na câmara principal da Assembleia Nacional. Kwak declarou que a intenção por trás das instruções era evitar que o parlamento, composto por 300 membros, reunisse os 150 votos necessários para revogar a ordem de lei marcial de Yoon.

As implicações dessa crise são vastas e podem repercutir em todo o sistema político do país. Especialistas e partidos da oposição argumentam que a ordem de lei marcial foi inconstitucional. Eles afirmam que, segundo a lei, o presidente pode declarar lei marcial apenas em situações de “guerra, situações de guerra ou outras situações de emergência nacional comparáveis”, o que não se aplicava no momento atual. O uso de tropas para selar o Parlamento e interromper as atividades políticas é considerado por muitos como uma forma de rebelião, uma vez que a constituição sul-coreana não permite que um presidente utilize o exército para suspender o parlamento.

Na sua declaração sobre a lei marcial, o conservador Yoon destacou a necessidade de reconstruir o país, eliminando “seguidores desavergonhados da Coreia do Norte e forças anti-estatais”, referindo-se a seus rivais liberais que controlam o Parlamento.

Após um intenso fim de semana de tensões, Yoon conseguiu evitar o impeachment, uma vez que a maioria dos legisladores do partido governante boicotaram a votação no Parlamento. No entanto, isso não impediu o Partido Democrático de se preparar para uma nova votação de impeachment no próximo sábado.

A situação atual mostra que a política na Coreia do Sul, embora calcada em fundações democráticas, pode ser volátil e imprevisível. Se Yoon for efetivamente impeached, seus poderes presidenciais serão suspensos até que a Corte Constitucional decida se os restaura ou se o remove do cargo, obrigando a realização de novas eleições presidenciais caso ele seja excluído.

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