A nova era do financiamento digital está tomando forma, e um dos recentes desenvolvimentos que chama a atenção é o investimento significativo feito por Peak XV e HongShan, duas poderosas firmas de investimento que se separaram da famosa Sequoia no ano passado. Juntas, essas empresas lideraram uma rodada de investimento semente de 10 milhões de dólares na KAST, uma plataforma que promete revolucionar o uso de stablecoins, permitindo que seus clientes realizem transações de maneira simples e segura. O cenário de inovações financeiras é vasto e fascinante, especialmente em um momento em que a adoção de stablecoins está em ascensão.
A KAST, descrita como uma plataforma inspirada em bancos digitais e baseada em dólares, possibilita que os usuários mantenham e gastem stablecoins através de canais de pagamento tradicionais. Além disso, a startup oferece cartões de crédito que se conectam a redes de comerciantes que não recebem criptomoedas, permitindo uma integração harmoniosa entre o mundo das criptomoedas e o comércio convencional. Este aspecto é especialmente importante em mercados emergentes, onde o acesso ao dólar é muitas vezes limitado e os custos de remessa podem ser exorbitantes. É aqui que a KAST entra em cena, apesar de não operar diretamente na Índia ou na China, em virtude das restrições regulatórias que cercam esses países.
Raagulan Pathy, um dos cofundadores da KAST e ex-líder das operações da Circle na Ásia-Pacífico, destacou a deficiência do sistema bancário em muitas nações, que carecem de capacidades eficazes para transações internacionais. A KAST tem como meta principal diminuição da fricção nas transferências internacionais, ao contornar os tradicionais sistemas bancários. Isso representa uma mudança significativa no suporte a um contingente populacional considerável do mercado offshore, que se vê forçado a navegar por uma série de dificuldades financeiras devido ao contexto econômico e às barreiras regulatórias.
A movimentação para o lançamento da KAST surge em um contexto de rápida adoção de stablecoins. Com mais de 20 milhões de pessoas utilizando stablecoins a cada mês no mundo, a concentração deste uso está fortemente presente nos mercados emergentes. Um indicativo claro do crescente interesse corporativo mainstream na nova tecnologia pode ser visto na recente aquisição da infraestrutura de stablecoins pela Stripe, avaliada em 1,1 bilhão de dólares ao adquirir a Bridge, colocando ainda mais holofotes sobre a KAST e suas operações.
No entanto, o cenário não está livre de desafios. A KAST está enfrentando uma concorrência acirrada de empresas nativas de criptomoedas e também de empresas fintech tradicionais que estão se aventurando no mundo das stablecoins. Gigantes como PayPal já entraram na corrida com seu próprio token atrelado ao dólar, enquanto players como Revolut e Ripple anunciam planos de emissão de stablecoins. Essa dinâmica torna o setor bastante concentrado, com a Tether dominando aproximadamente três quartos da oferta de stablecoins no mercado.
Daniel Bertoli, cofundador da KAST que tem experiência como parceiro na Quona Capital, destacou a dificuldade enfrentada por neobancos tradicionais na integração com blockchain. Ele argumenta que “a próxima geração de bancos digitais será, por definição, global e construída a partir de stablecoins”. O raciocínio de Bertoli é reforçado por investidas recentes de investidores relevantes, como DST Global e Goodwater Capital, que também participaram da rodada de investimentos, embora a KAST tenha optado por não divulgar números de usuários ou sua avaliação, afirmando que o crescimento projetado superou as expectativas em seus primeiros quatro meses de operação.
O futuro da KAST parece promissor, com planos de lançar produtos de poupança e expandir seus serviços de remessa, mantendo sempre um foco no uso de infraestrutura baseada em stablecoins. Um dos cofundadores da KAST, Alex Svanevik, que também é CEO da plataforma de análise Nansen.ai, enfatizou a importância do serviço que a KAST oferece, destacando como ele funciona como um “porto seguro para a renda arduamente conquistada de clientes que enfrentam a desvalorização de suas moedas locais”.
À medida que o número de nômades digitais que recebem seus salários em stablecoins cresce, a KAST está eliminando a burocracia das transferências internacionais, que antes levavam semanas para serem concluídas, e agora podem ser feitas instantaneamente com custo praticamente zero, conforme ressalta Svanevik. Este novo modelo não só moderniza as transações financeiras, mas também traz novas possibilidades econômicas para aqueles que, até pouco tempo, estavam limitados pelas restrições de um sistema bancário antiquado.
Para Peak XV e HongShan, esta representou a primeira negociação conjunta desde a separação da Sequoia em junho de 2023. Com um olhar cada vez mais além das barreiras geográficas tradicionais, a HongShan avançou em direção à Europa e Ásia do Norte, buscando alocar seu pool de capital de 9 bilhões de dólares, enquanto a Peak XV também expandiu sua atuação para os Estados Unidos. A Sequoia, por sua vez, está avaliando se apoia fintechs como a Vance, o que marcaria sua primeira movimentação de investimento na Índia após a separação.