Sudão vive dias de horrores indescritíveis. Nos últimos dois dias, o Sudão foi palco de uma escalada de violência que resultou na morte de pelo menos 127 pessoas, a maioria delas civis. Este trágico evento ocorreu em meio a bombardeios com barris e disparos de foguetes que atingiram as áreas densamente povoadas das cidades de Kabkabiya, no estado de Darfur do Norte, e Omdurman, uma das cidades que compõem a capital, Cartum. As informações foram fornecidas por ativistas de direitos humanos, que enfatizam que a situação no país está se tornando cada vez mais crítica e alarmante.
A guerra que se estende por 20 meses entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido (RSF) tem tomado proporções cada vez mais sangrentas, à medida que as tentativas de cessar-fogo fracassam constantemente. Infelizmente, enquanto a comunidade internacional se vê mergulhada em crises ao redor do mundo, o Sudão parece ter se tornado um caso esquecido, abandonado à própria sorte em meio a combates incessantes.
O Exército sudanês intensificou seus ataques aéreos na metade do país que está sob controle das RSF, enquanto estas realizam incursões em vilarejos e severos bombardeios de artilharia. Ambos os lados têm focado seus ataques em áreas densamente povoadas, resultando em um número de vítimas maior do que o aceitável.
Um momento particularmente trágico ocorreu em Kabkabiya, quando mais de oito bombas de barril atingiram um mercado local na segunda-feira. O comitê de resistência pro-democracia de Al-Fashir relatou que mais de 100 pessoas foram mortas e centenas ficaram feridas durante os ataques. Imediatamente, a comunidade dedicou esforços para atender os feridos, enquanto as imagens do horror começavam a se espalhar nas redes sociais, mostrando corpos cobertos e ruínas de lojas e barracas de frutas consumidas em um incêndio.
A situação em Darfur é ainda mais complicada, com o Exército frequentemente atacando cidades na região em uma luta pelo controle da capital estadual, Al-Fashir, sua última fortaleza na área. A resposta oficial do Exército negou a responsabilização pelos ataques em Kabkabiya, insistindo que tem o direito de atingir qualquer local que a RSF utilize para fins militares. A RSF, por sua vez, não forneceu comentários adicionais sobre os ataques.
Testemunhas descreveram cenas aterrorizantes. Um vídeo verificado mostra corpos ensanguentados espalhados ao redor do mercado, enquanto gritos de desespero ecoam na atmosfera tensa. O sofrimento das pessoas é palpável, com um habitante da região expressando a triste realidade: “As pessoas estão morrendo em massa.”
Em outro cenário, na terça-feira, as RSF dispararam pesadamente contra um setor controlado pelo Exército em Omdurman, levando à morte de pelo menos 20 pessoas, incluindo 14 que estavam em um ônibus atingido por um tiro. Relatos de circulação em mídias sociais mostraram corpos cobertos pelas ruas, enquanto o governo do estado, que está sob controle militar, afirmou que 65 pessoas foram mortas e outros feridos foram levados para o Hospital Al-Naw nas proximidades.
Ademais, a situação humanitária no Sudão é alarmante. A Organização das Nações Unidas (ONU) reportou que mais de 30 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária, com 12 milhões fugindo de suas casas em busca de segurança. A emergência humanitária é exacerbada pelo fato de que a fome foi declarada no campo de Zamzam, no Darfur do Norte, onde a turbulência da guerra se une à crise alimentar que aflige a região. Na terça-feira, o bombardeio em silêncio ceifou a vida de mais sete pessoas naquele acampamento, conforme relatado por Adam Rojal, porta-voz do Comitê Coordenador dos Deslocados.
À medida que o mundo observa a situação no Sudão, emerge a necessidade urgente de atenção e ação global. O que mais devemos esperar para que a solidariedade internacional se manifeste em favor de um povo que clama por ajuda em meio à devastação e ao desespero? Não podemos ficar indiferentes enquanto vidas são perdidas e uma nação se transforma em um campo de batalha, sob uma sombra de insegurança e desamparo.