A história de uma fraude clamorosa que enganou centenas de pessoas por quase uma década

Amanda Riley, uma mulher que nunca teve câncer, conseguiu enganar mais de 300 pessoas ao afirmar que estava lutando contra um câncer de Hodgkin. Durante quase dez anos, ela criou uma narrativa dramática, solicitando doações de amigos e estranhos. A quantidade arrecadada ultrapassou US$ 100.000, que deveriam ser usados para cobrir despesas médicas inexistentes, além de financiar viagens, presentes e serviços como babás. As mentiras de Amanda foram reveladas em um podcast de 2023 intitulado “Scamanda”, que gerou uma cobertura especial pela ABC em outubro de 2024, explorando mais a fundo suas fraudes e a consequente condenação. O caso de Amanda levanta questões sobre como uma pessoa pode enganar tantas pessoas por tanto tempo e quais os efeitos de suas ações na comunidade ao seu redor.

O início da mentira e a construção de uma persona pública

A vida de Amanda começou em 24 de junho de 1985, em San Jose, Califórnia. Na adolescência, Amanda envolveu-se com Cory Riley, que na época estava casado com Aletta. Ela foi contratada para ensinar dança para a filha de Aletta, uma criança que enfrentava sua própria batalha contra o câncer e, por conseguinte, era imunocomprometida. Com o tempo, Cory e Aletta se divorciaram, e Cory eventualmente casou-se com Amanda. Amanda, que sempre usou a narrativa da doença como justificativa para suas ausências no trabalho, criou um blog intitulado “Lymphoma Can Suck It” em 2012. Através dessa plataforma, Amanda começou a documentar sua suposta luta contra o câncer, alegando ter sido diagnosticada com a doença após dar à luz seu primeiro filho. Ao longo de sua trajetória, Amanda ganhou um grande número de seguidores, muitos dos quais foram infelizes vítimas de sua manipulação.

Com o crescimento de seu público, Amanda viu uma oportunidade não apenas de euforia emocional, mas também de ganhos financeiros. Ela começou a convidar os leitores do seu blog a contribuir com doações para cobrir os custos de tratamentos médicos que, na verdade, nunca ocorrera. Amanda, utilizando sua influência nas redes sociais e sua habilidade em criar selfies cuidadosamente alinhadas com sua falsa narrativa, conseguiu se tornar uma espécie de celebridade local em sua igreja. Ela frequentemente falava durante os serviços religiosos e ganhou apoio de palavras e ações de pessoas ao seu redor, muitos dos quais acreditavam sinceramente em sua história.

Enquanto Amanda passava por essa encenação, ela também se tornava mãe de dois filhos, os quais ela frequentemente chamava de “bebês milagrosos”, uma narrativa que ajudava a sustentar sua posição como vítima. Contraditoriamente às suas alegações de estar sofrendo de câncer terminal e de estar em tratamento de quimioterapia, Amanda conseguiu engravidar do seu segundo filho em maio de 2014. O que estava sendo apregoado como uma trajetória de dor e luta era, na verdade, uma pilha de mentiras convincentes, com apoio e cuidados de uma rede de amigos, familiares e membros da comunidade que foram enganados por ela.

Desvendando a fraude: Como Amanda Riley foi desmascarada

No entanto, a farsa de Amanda não durou para sempre. Em junho de 2015, um informante anônimo contatou a produtora do podcast “Scamanda”, iniciando uma investigação que revelaria a verdade. A produtora havia notado inconsistências em seus relatos e decidiu conferir com instituições médicas, bem como coletar informações sobre procedimentos que Amanda afirmava ter realizado. Através de um minucioso trabalho de investigação, foi constatado que muitos dos tratamentos que foram alegados por Amanda não correspondem ao que é normalmente prescrito para pacientes de câncer, levando a questões sobre a veracidade de suas alegações.

As ações de Amanda incluíam não apenas a falsificação de documentos médicos, mas também a fabricação de um vasto sistema de suporte, onde ela constantemente buscava ajuda de hospitais e de amigos para confirmar sua condição. Medindo o impacto de seu engano, estima-se que Amanda tenha conseguido mais de US$ 100.000 apenas com doações na forma de dinheiro e serviços, sem incluir presentes, cartões-presente e outras doações generosas. Finalmente, em 2020, Amanda foi oficialmente acusada de fraude eletrônica pela Receita Federal dos EUA, que constatou que suas ações constituíam fraudes por causa do dinheiro levantado para despesas médicas que não existiam.

A condenação e reflexões sobre a moralidade

Apesar de inicialmente ter se declarado inocente, Amanda acabou mudando sua declaração para culpada em outubro de 2021. Durante a audiência de sentença, realizada em maio de 2022, Amanda se desculpou extensivamente, afirmando que sentia um “horror” por ter causado dor às pessoas. O juiz, no entanto, não se impressionou com suas justificativas, enfatizando a responsabilidade que Amanda tinha na construção de sua percepção pública e em como ela manipulou todos ao seu redor. Ao ser condenada a cinco anos de prisão e três anos de liberdade supervisionada, Amanda e seu comportamento despertaram um intenso debate sobre ética e confiança nas interações humanas, especialmente em uma era em que as redes sociais desempenham um papel tão fundamental na formação de conexões pessoais.

Hoje, Amanda cumpre sua pena no Federal Medical Center Carswell, em Fort Worth, Texas, um estabelecimento geralmente destinado a prisioneiros com condições médicas especiais. O caso de Amanda Riley serve para lembrar a importância da vigilância e do ceticismo em relação a histórias que, à primeira vista, podem parecer bem intencionadas, mas que ocultam enganos profundos que afetam vidas de forma dramática e irreversível. Enquanto isso, o ex-marido de Amanda, Cory, segue sua vida em Austin, Texas, cuidando dos filhos do casal, e a comunidade em que Amanda operou continua a se recuperar do impacto de suas ações decepcionantes. Ao refletir sobre a história de Amanda, é essencial considerar a fragilidade da confiança e como ela pode ser explorada de maneiras que causam danos imensos.

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