Londres
CNN
A gigante industrial alemã Bosch, com seus 138 anos de história, anunciou que planejados cortes significativos de pessoal vão impactar sua operação global. Com mais de 8.250 postos de trabalho ameaçados, a decisão representa um golpe importante na já tensa economia da Alemanha. O setor de mobilidade da empresa, que fornece componentes para montadoras em todo o mundo, é o principal foco dessa redução, enfrentando desafios como a queda na demanda, altas despesas e uma concorrência cada vez mais acirrada.
Em um comunicado à CNN, um porta-voz da Bosch afirmou que os cortes são uma resposta necessária às dificuldades econômicas atuais e à transformação que o setor automotivo está atravessando. “O ambiente econômico desafiador e a transformação contínua na indústria automotiva estão nos apresentando — como a outros — grandes desafios. É importante que nos mantenhamos competitivos nessas condições”, disse a empresa.
Com quase 2% da força de trabalho global da Bosch em risco, essa demissão de uma parte significativa dos colaboradores ocorre em um momento bastante complicado, considerando que a empresa emprega mais de 429.000 pessoas em todo o mundo. O atual clima de incerteza também poderá trazer repercussões substantivas em regiões dependentes das atividades da Bosch, que vão desde a produção de eletrodomésticos como geladeiras e máquinas de café até maquinários para outras indústrias.
Indo além dos impactos diretos nas famílias dos trabalhadores, os cortes de empregos da Bosch refletem um padrão preocupante dentro da economia alemã. O país enfrenta uma tempestade perfeita de pressões, incluindo a concorrência feroz das indústrias chinesas, desvantagens tradicionais como altos custos de mão de obra e impostos elevados, além de custos energéticos crescentes em decorrência da invasão em larga escala da Rússia na Ucrânia em 2022. Essa combinação de fatores tem deixado as tradicionais potências industriais da Alemanha em uma posição vulnerável.
Recentemente, a situação se agravou com os protestos de centenas de milhares de trabalhadores da Volkswagen, a maior fabricante da Alemanha, que paralisaram fábricas em todo o país. Esses grevistas se mobilizaram após semanas de negociação coletiva, diante da incerteza que paira sobre o futuro de seus postos de trabalho, com a Volkswagen não descartando a possibilidade de demissões em massa e fechamento de plantas.
Situações similares estão acontecendo em outros grandes nomes da indústria alemã. No mês passado, a Thyssenkrupp, maior fabricante de aço da Alemanha, anunciou planos de cortar até 11.000 empregos até o final da década, o que representa cerca de 40% de sua força de trabalho, citando, em parte, o aumento de importações baratas da Ásia. E como se isso não bastasse, a economia da Alemanha encolheu no ano passado pela primeira vez desde o início da pandemia de coronavírus e as previsões dos analistas indicam que a recessão econômica poderá piorar ainda mais em 2024.
A situação da economia alemã, conforme os últimos dados da Comissão Europeia, aponta para uma contração contínua, evidenciando não apenas as dificuldades de grandes fabricantes como a Bosch e a Volkswagen, mas um cenário que pode ter repercussões sérias não apenas no mercado de trabalho, mas também na estabilidade econômica da Europa como um todo.
Olesya Dmitracova contribuiu com o relatório.