Na tarde de terça-feira, funcionários da Cruise foram surpreendidos por uma notícia impactante que começou a circular através de uma mensagem no Slack. Marc Whitten, CEO da Cruise, que assumiu o cargo em junho, compartilhou um comunicado no canal de anúncios da empresa, acompanhando um link para um press release intitulado “GM reorienta desenvolvimento de direção autônoma para veículos pessoais”. A decisão da General Motors (GM), que adquiriu a startup de carros autônomos em 2016, de descontinuar o financiamento da Cruise resultou no fim de um projeto que contou com o esforço de centenas de engenheiros ao longo dos anos.

Durante uma reunião geral realizada logo após a comunicação inicial, os colaboradores da Cruise receberam informações adicionais sobre o futuro da empresa. O plano envolve a absorção da Cruise pela GM e a combinação de seus esforços com os da montadora para o desenvolvimento de recursos de assistência ao motorista e, futuramente, veículos pessoais totalmente autônomos. Contudo, a incerteza sobre a segurança dos empregos dos funcionários paira no ar, criando uma atmosfera tensa e de expectativa.

Conforme relatos de fontes internas, a reunião foi breve e insatisfatória, deixando muitas questões em aberto. A equipe de liderança sênior, que incluía Whitten, o presidente e diretor de tecnologia Mo Elshenawy e o diretor administrativo Craig Glidden, também se mostrou surpreendida com a mudança abrupta de rumo. Funcionários que conversaram com a TechCrunch sob condição de anonimato se mostraram “surpresos” e “desconcertados” pelo anúncio, com alguns deles afirmando que souberam dos planos da GM ao mesmo tempo em que a imprensa estava sendo informada.

Nem mesmo a liderança forneceu detalhes acerca de possíveis demissões. Alguns funcionários expressaram suas expectativas de cortes de empregos, sugerindo que as áreas com maior vulnerabilidade podem incluir funções não ligadas à engenharia e aquelas diretamente relacionadas às operações de robotaxis, como assuntos governamentais, equipes de comunicação e operações em solo nas cidades onde a Cruise recomeçou seus testes, como Phoenix, Houston e Dallas. Um dos colaboradores mencionou que estava seguindo um plano para lançar um serviço de veículos sem motorista em Houston até 2025, o que torna a mudança ainda mais inesperada.

A Cruise enfrenta uma pressão crescente para comercializar seus robotaxis e gerar receitas nos últimos anos. Em um período de grande otimismo, em 2021, a GM projetou que a Cruise teria dezenas de milhares de robotaxis Origin personalizados nas ruas, prevendo uma receita anual de até 50 bilhões de dólares até o final da década. Contudo, como muitas startups de veículos autônomos, a empresa foi obrigada a adiar suas metas ambiciosas.

Após receber, em agosto de 2023, a autorização final necessária dos reguladores da Califórnia para operar comercialmente em São Francisco, a Cruise viu sua situação complicar-se após um incidente envolvendo um pedestre que ficou preso sob um de seus robotaxis. As consequências deste episódio foram severas, resultando na perda das permissões para operar na Califórnia, paralisando toda a frota nos Estados Unidos, e levando à saída de seu cofundador e CEO Kyle Vogt, além de rodadas de demissões. Como uma resposta a esta crise, a GM intensificou seu controle sobre a operação que antes prometia um futuro brilhante na direção autônoma.

Apesar dos esforços da GM para restringir custos, sinais de uma reestruturação estavam à vista. Em junho, a montadora injetou 850 milhões de dólares na Cruise para ajudar no relançamento dos testes de robotaxis em Phoenix, Dallas e Houston. Além disso, a empresa firmou um acordo de parceria com a Uber para lançar seus robotaxis na plataforma da Uber em 2025. Contudo, a decisão anunciada em junho de 2024 de descartar o Origin, um robotaxi projetado sem volante ou pedais, acendeu um alerta sobre a viabilidade dos planos da Cruise. A CEO Mary Barra indicou que a opção de utilizar a próxima geração do Chevrolet Bolt simplificaria a estratégia de expansão da empresa e abordaria as incertezas regulatórias que cercavam o modelo do Origin.

Adicionalmente, a GM havia enviado um pedido à Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário (NHTSA) em 2022 solicitando uma isenção temporária de seis normas federais de segurança veicular para o Origin, a fim de permitir a operação de um veículo sem volante. Entretanto, em 25 de outubro, a GM decidiu retirar esse pedido.

Enquanto a Cruise enfrenta uma reviravolta inesperada, a expectativa agora se concentra em como a transição para a GM será implementada, quais empregos serão afetados e que futuro aguarda os esforços em direção à autonomia que já foram tão promissores. Com o cenário atual, fica a pergunta: o que será do ambicioso sonho da Cruise de transformar a mobilidade urbana através da tecnologia de veículos autônomos?

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