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Masnaa, fronteira do Líbano com a Síria
CNN
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Em meio a incertezas e emoções intensas, muitos refugiados sírios começam a retornar para a sua terra natal após a recente queda do regime de Bashar al-Assad. Na fronteira entre a Síria e o Líbano, histórias de reencontro e separação se entrelaçam, refletindo o duríssimo legado da guerra que devastou o país por mais de uma década. Nadia, uma refugiada que cruzou a fronteira, particulariza este fluxo humano: emocionada, estava ansiosa para reencontrar seu filho, agora com 22 anos e vivendo na Alemanha. O adeus ao lar aconteceu em 2013, em meio a uma escalada do conflito armado.
Nadia e seus familiares, que permaneceram em Hasaka, nunca imaginaram que o reencontro seria adiado por tanto tempo. Agora, com suas malas em mãos, eles seguiram para o Líbano, com destino a Beirute, de onde partirão para a Europa. O movimento de retorno de muitos sírios para suas casas se intensificou após a queda do regime, provocando agitações simultâneas e um clima de incerteza em relação ao futuro da Síria.
Com a queda de Assad, a inabilidade de governos para conter o surgimento de grupos armados insurgentes começa a gerar novas preocupações quanto à segurança. A velocidade com que a insurgência tomou conta de áreas essenciais da Síria, exacerbada pelos ataques israelenses, adicionou uma nova camada de complexidade ao cenário. Na fronteira, multidões de pessoas se movem em ambas as direções, divididas entre a esperança e o medo.
Na travessia de Masnaa, os refugiados se deparavam com um caos visível. Carros buzinando, táxis tentando atravessar a multidão, cada um buscando seu canto em meio ao clamor. Histórias diferentes, cada uma cheia de tensão, estavam sendo vivenciadas ali, do lado de fora e dentro das filas de pessoas que aguardavam para cruzar a fronteira. Para muitos, esse era o primeiro passo em direção a um futuro incerto.
Retornos e desapontamentos na fronteira
Mohammed e sua esposa estavam entre os que retornavam, radiantes com a ideia de finalmente voltar para casa após 11 anos longe. Com quatro filhos pequenos, ele disse que seus filhos estavam animados, apesar de não conhecerem a terra de seus pais. O retorno, no entanto, não foi simples: ao tentarem cruzar a fronteira, descobriram que seus filhos não possuíam a documentação necessária. A euforia rapidamente deu lugar ao desespero.
As complicações burocráticas têm sido um dos principais obstáculos enfrentados por aqueles que desejam retornar. Muitos sírios que deixaram o país sob situações de risco, especialmente as famílias com filhos nascidos em exílio, não têm os documentos adequados. Essa realidade intensifica a angústia e o custo emocional do retorno.
Enquanto alguns decidem voltar, outros, como Diaa, fazem o caminho inverso em busca de segurança. Diaa e sua família cruzavam a fronteira de volta para o Líbano após serem forçados a deixar a Síria. O clima de incerteza gerado por bombardeios intensos no Líbano os fez optar pelo retorno a um lugar que também enfrenta seus próprios desafios.
“Não posso arriscar a vida dos meus filhos”, desabafou Diaa, refletindo sobre o impacto do medo e da violência que assolavam a sua família. O desejo de proteger seus filhos de um ambiente cada vez mais hostil o forçou a decisão de deixar a Síria novamente, mesmo que isso significasse retornar a um Líbano também marcado pela violência.
Entre o outro e o mesmo: dilemas dos retornos
Com a insatisfação crescente entre setores da sociedade, a ansiedade em relação ao futuro não se restringe apenas aos que deixaram o país, mas também atinge aqueles que permaneceram. Temores sobre retorno ao regime de Assad e os possíveis massacres contra minorias se tornaram temas recorrentes em conversas de refugiados e cidadãos no exílio. O improvável ascenso de uma nova ordem política direcionada por grupos radicais, que misturam militares e ativistas insurgentes, alimenta a instabilidade no cenário.
O caos na fronteira entre o Líbano e a Síria, onde milhares de pessoas estão esperando para cruzar, evidencia a magnitude da crise humana. Cenas de desespero são comuns, com muitos tentando atravessar sem a documentação necessária, aguardando meses por uma permissão oficial que nunca chega.
“A vida aqui é insuportável. Temos que aguentar o frio, não temos para onde ir. E temos crianças”, relatou Fatima, uma jovem tentando cruzar para o Líbano. Para muitos, o desejo de retornar para casa é ofuscado pela falta de perspectiva e um futuro cada vez mais incerto.
O peso de um passado recente e suas consequências
A cena em Masnaa é uma representação clara das consequências do que acontece quando um regime opressor cai. Se, por um lado, muitos estão comemorando a queda de Assad, por outro, a insegurança, o deslocamento e a incerteza se tornaram os novos desafios que precisam ser enfrentados. A divisão que permeia a sociedade síria faz com que muitos temam por suas vidas em um país que já é seu, ainda que agora liberado de um regime de terror.
O clamor pela segurança, a luta para voltar a sentir-se em casa e as memórias de um passado recente ainda presente nas mentes dos sírios indicam que o caminho para a estabilidade pode ser ainda mais longo do que se imagina. “Nós queremos apenas uma chance de viver em paz”, finalizou um dos refugiados, revelando o apelo universal por segurança e estabilidade no oriente médio.
CNN, com informações de Sarah El Sirgany.
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