Na última quarta-feira, um juiz decidiu declarar um mistrial no processo judicial relacionado ao assassinato de Jimmy “Jay” Lee, um jovem reconhecido no movimento LGBTQ+ da Universidade do Mississippi, em 2022. O acusado, Sheldon “Timothy” Herrington Jr., enfrentava acusações graves pelo apego de Lee, que desapareceu sem deixar vestígios. Embora o corpo de Lee nunca tenha sido encontrado, o juiz determinou que ele fosse considerado legalmente morto.

Após mais de nove horas de deliberação, o júri indicou sua incapacidade de chegar a um veredicto unânime. Os jurados foram orientados a considerar a culpa de Herrington em diferentes graus: assassinato capital, assassinato em primeiro grau, assassinato em segundo grau, ou homicídio culposo por negligência. Além disso, o juiz mencionou a possibilidade de que um novo local possa ser designado para o futuro julgamento de Herrington, refletindo a sensibilidade e a complexidade do processo, conforme relatado pela afiliada da CBS, WREG.

Com 24 anos, Herrington demonstrou pouca reação ao deixar o tribunal com seus advogados e familiares. Ele permanece em liberdade mediante fiança e enfrenta ainda a mesma acusação de homicídio capital, a qual, de acordo com a legislação do Mississippi, refere-se a um assassinato cometido conjuntamente com outro crime, neste caso, o sequestro. Os promotores informaram que não buscariam a pena de morte, mas, se a condenação ocorrer em um futuro julgamento, Herrington poderá ser sentenciado à prisão perpétua.

Durante o julgamento, o juiz Kelly Luther esclareceu que os jurados poderiam também avaliar acusações menores, tais como homicídio em primeiro grau, com pena de prisão perpétua, homicídio em segundo grau, com pena de 20 anos a prisão perpétua, ou homicídio culposo, com pena de até 20 anos.


Sheldon Herrington no tribunal
Sheldon “Timothy” Herrington Jr., ao centro, deixou o tribunal após a declaração de mistrial no caso do assassinato do estudante Jimmie “Jay” Lee, no Tribunal do Condado de Lafayette em Oxford, Miss., na quarta-feira, 11 de dezembro de 2024.
Bruce Newman/The Northeast Mississippi Daily Journal, via AP, Pool

Ambos, Herrington e Lee, eram graduados da Universidade do Mississippi, onde Lee, aos 20 anos, estava cursando um mestrado. Lee era conhecido por sua expressividade criativa através da moda e da maquiagem e frequentemente se apresentava em shows de drag em Oxford, conforme informações do grupo de apoio denominado “Justiça para Jay Lee”. Seu desaparecimento ocorreu em 8 de julho de 2022, logo após o qual as autoridades prenderam Herrington duas semanas depois.

As investigações revelaram a utilização de mandados para acessar registros eletrônicos que incluíam mensagens explícitas entre as contas de mídia social dos dois homens, além de buscas online realizadas por Herrington, como uma que questionava quanto tempo leva para estrangular alguém. Durante os argumentos finais, os promotores afirmaram que um encontro sexual entre Herrington e Lee terminou de forma tensa, levando Lee a deixar o apartamento de Herrington. Contudo, segundo os promotores, Lee retornou após receber garantias da parte de Herrington de que haveria mais sexo.

“Tim Herrington viveu uma mentira — mentiu para sua família”, afirmou o promotor Ben Creekmore. “Ele mentiu para Jay Lee ao persuadi-lo a ir até lá, prometendo fazer algo com ele.”

O advogado de Defesa de Herrington, Kevin Horan, se posicionou contra os argumentos da promotoria, enfatizando que não é possível comprovar que Lee está morto sem a presença do corpo. Segundo Horan, as mensagens trocadas mostram que Lee não havia sido seduzido para ir ao apartamento de Herrington. Em uma defesa elaborada, Horan descreveu Jay Lee como dominador na conversa final.

A partir do dia em que Lee desapareceu, testemunhas afirmaram que ele não contatou amigos ou familiares, e suas transações financeiras e postagens em redes sociais cessaram completamente. Durante o processo, ficou evidente que, antes da entrevista com Herrington, a polícia já tinha obtido dados de mensagens explícitas, ocorridas nas horas finais conhecidas de vida de Lee.

Documentos obtidos através de um mandado mostraram que, na manhã do desaparecimento, Herrington fez uma busca por “quanto tempo leva para estrangular alguém”, às 5h56. A última mensagem enviada do telefone de Lee foi registrada às 6h03 em uma conta de rede social de Herrington, próximo ao seu apartamento, segundo o chefe da polícia local. Após esse momento, o telefone de Lee foi rastreado pela última vez por uma torre de telefonia antes das 7h30. Imagens de câmeras de segurança mostraram Herrington saindo rapidamente de um estacionamento onde estava o carro de Lee abandonado.

Na mesma manhã do desaparecimento, Herrington foi flagrado comprando fita adesiva em Oxford e dirigindo-se à sua cidade natal, Grenada, que fica cerca de uma hora ao sul de Oxford.

As famílias de ambos os envolvidos estavam presentes no tribunal, divididas entre os lados durante o julgamento. Com a declaração do mistrial feita pelo juiz Luther, ele solicitou que os dois grupos deixassem o local separadamente. Os jurados foram selecionados em um condado a cerca de 400 quilômetros ao sul e ouviram argumentos e depoimentos por um período de oito dias. O juiz, em duas ocasiões, pediu que os jurados continuassem a deliberação quando eles mencionaram estarem em impasse. Após o terceiro aviso, o juiz declarou o mistrial, agradecendo aos jurados pela participação e ressaltando: “Eu pedi muito de vocês.”

Enquanto o caso avança, a comunidade de Oxford e o público em geral observam atentamente os desdobramentos deste trágico acontecimento, que não apenas toca aspectos legais, mas também questões sociais relevantes, como aceitação, amor e as consequências de ações impulsivas.

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