O filme Kraven the Hunter, dirigido por J.C. Chandor, é mais um capítulo da problemática trajetória do Universo Estendido do Homem-Aranha (Spider-Man Extended Universe) da Sony. Com sua estreia marcada por um vergonhoso 15% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme coloca em evidência as falhas na formulação de suas histórias de vilões, gerando inúmeras críticas advindas de especialistas e do público. Chandor, tentando mitigar as expectativas em torno da obra, pediu aos espectadores que deixassem de lado as frustrações anteriores desse universo cinematográfico. Entretanto, a resposta dos críticos e os indicadores iniciais de bilheteira sugerem que, de fato, a situação é ainda mais grave do que ele imaginava.
No enredo, Aaron Taylor-Johnson vive Sergei Kravinoff, um personagem que luta contra as consequências de um relacionamento conflituoso com seu pai, interpretado por Russell Crowe. Este conflito emocional o conduz a optar por uma vida criminosa, onde desenvolve superpoderes após se ferir gravemente em um ataque de leão, cujos efeitos em sua biologia mudaram sua essência. O desejo de vingança contra seu pai o transforma em uma figura complicada, ao mesmo tempo que o coloca na mira de Spider-Man, um dos heróis mais icônicos da Marvel. No entanto, as tentativas de construir uma narrativa coesa e envolvente falham, resultando em uma das origens mais confusas do cinema de super-heróis.
As críticas, por sua vez, têm sido implacáveis. O crítico Germain Lussier, da Gizmodo, descreve a experiência como um “grave ataque de dor de cabeça”, enquanto David Ehrlich da IndieWire, observa que o filme “termina com um jeito patético”, e a crítica de Molly Freeman na ScreenRant destaca a confusão gerada pela introdução de múltiplas histórias de origem em um único filme, como a de personagens secundários como Rhino e Calypso. Com tantos elementos jogados ao mesmo tempo, como alguém poderia se apegar a uma única narrativa?
A grande questão que paira sobre Kraven the Hunter e, por extensão, sobre o universo da Sony, é se um personagem tão excêntrico e, por vezes, cômico, realmente merece um filme onde se espera sinceridade e profundidade. Na visão de Alison Willmore, do Vulture, a abordagem séria dada ao anti-herói deveria ser questionada. Kraven é apresentado como um personagem que vive em uma cúpula geodésica na missão de provar seu valor, através de cenas que beiram o absurdo, como eliminar inimigos com um dente extraído de um tapete de pele de leopardo, ou conquistando a lealdade de animais selvagens com apenas um olhar. A tentativa de explorar traumas familiares em uma narrativa já cheia de incongruências se revela um movimento trágico que estraga o ritmo do filme.
Historicamente, nenhum dos filmes focados em vilões da Sony teve a chance de ganhar sequências, exceto Venom. O prognóstico de Kraven the Hunter não é promissor, com estimativas de abertura que não chegam a mais de 15 milhões de dólares no fim de semana de estreia, um montante que chega a ser risível diante da necessidade de retorno financeiro para dar vida a novas produções. Escrevendo para o Hollywood Reporter, David Rooney sugere que talvez seja a hora de enterrar de vez a ideia de seguir com essa narrativa, considerando que o filme sem vida parece direcionado apenas a preparar o terreno para possíveis futuras produções.
Ao que parece, a experiência com Kraven the Hunter foi um divertimento, mas o consenso se encaminha para um desfecho melancólico, indicando um possível fim para a ambição da Sony de construir um universo cinematográfico ao redor de vilões do Homem-Aranha. Após tantas tentativas frustradas, talvez seja melhor para a continuação da marca revisar completamente essa empreitada, ou mesmo tentar construir algo novo e mais promissor.
Na hesitação entre o cômico e o trágico, a produção nos faz refletir: até onde um filme pode ir na defesa de seu conceito sem perder a essência que cativou o público? Se o mundo dos super-heróis exige solicitações realistas de seus vilões, talvez seja hora de reavaliar as escolhas da Sony. O que se pode esperar no futuro? Uma nova fase? Ou a eterna repetição dos mesmos erros? O tempo dirá.