Um relatório de um órgão fiscalizador do Departamento de Justiça (DOJ) revelou que não havia agentes do FBI disfarçados presentes no Capitólio dos Estados Unidos durante o tumulto ocorrido em 6 de janeiro de 2021. Essa constatação contraria as especulações alimentadas por aliados do então presidente Donald Trump, que durante anos alegaram que a violência naquele dia foi provocada por agentes federais. Tal revelação é significativa, já que as investigações sobre o ataque têm gerado debates acalorados sobre o papel das autoridades e os eventos que culminaram no que ficou conhecido como a insurreição do Capitólio.
O inspetor geral do DOJ declarou recentemente que, embora não houvesse agentes disfarçados na manifestação, havia 26 fontes humanas confidenciais – ou informantes pagos do FBI – presentes em Washington naquele dia. Todavia, é importante ressaltar que nenhum desses informantes tinha autorização para violar a lei ou incitar outros a fazê-lo, o que deve colocar um freio nas teorias que circulam sobre a manipulação do evento por parte de agentes federais.
As descobertas estão incluídas em um relatório muito aguardado sobre as preparações do FBI antes do ataque, que foi realizado por apoiadores de Trump que tentavam impedir a confirmação da vitória eleitoral de Joe Biden. O evento, que já foi designado como um dos pontos mais críticos na história recente do país, continua a ser analisado em busca de lições que possam ser aprendidas no âmbito da segurança e da inteligência.
Um ponto crucial levantado pelo inspetor geral é a ausência da canvass, uma coleta de informações, em todos os escritórios de campo do FBI relacionados ao evento. O relatório aponta que a falta de uma abordagem mais abrangente prejudicou a capacidade da polícia do Capitólio e de outras agências de aplicação da lei em preparar-se adequadamente para as manifestações. Após o tumulto de 6 de janeiro, a instituição ainda relatou a Congress que havia direcionado os escritórios de campo a coletar informações de seus informantes, uma afirmação que se revelou imprecisa.
Apesar de se descobrir que essa inexactidão não foi intencional, o impacto na confiança pública nas instituições foi imediato, principalmente entre políticos da oposição e aqueles que foram acusados criminalmente por suas ações naquele dia. Especificamente, alguns legisladores do Partido Republicano e aliados de Trump têm afirmado que houve falhas na comunicação de inteligência e até mesmo alegações de que informantes pagos instigaram o aparato de segurança.
Do total de 26 informantes presentes em Washington, três deles receberam instruções específicas do FBI para vigiar certos indivíduos relacionados a investigações de terrorismo doméstico que poderiam comparecer ao protesto de 6 de janeiro. Curiosamente, um desses informantes entrou no Capitólio, enquanto os outros dois permaneceram do lado de fora, fato que levanta novas questões sobre a atuação do FBI e o cuidado que deve ser tomado na coleta de informações sensíveis.
Os outros 23 informantes conhecidos não foram designados para o evento e compareceram por conta própria. Entre eles, três adentraram o Capitólio durante a confusão e mais 11 ficaram nos terrenos ao redor, enquanto os restantes nove não cometeram nenhuma infração. Muitos desses informantes também relataram sobre a presença de grupos extremistas, como os Proud Boys e os Oath Keepers, bem como expressaram preocupações sobre a segurança dos membros do Congresso.
Este informante, assim como outros, forneceu informações que eram coerentes com dados já recebidos pelo FBI e sua sede em Washington sobre o potencial de violência no dia da insurreição. À medida que mais dados e relatos surgem, fica cada vez mais claro que existe uma profunda relação entre as estratégias de inteligência e a segurança nacional no contexto das manifestações nos Estados Unidos.
Nenhum dos informantes foi acusado criminalmente, segundo afirmou o inspetor geral. No entanto, a realidade de que fontes confidenciais do FBI estavam presentes no Capitólio no dia do ataque tornou-se combustível para os legisladores republicanos, que constantemente confrontam autoridades do Departamento de Justiça e do FBI sobre as alegações de que informantes do FBI instigaram o ataque. A argumentação em torno desse incidente sugere que a desconfiança nas autoridades está longe de ser cicatrizada, refletindo a contínua polarização política nos Estados Unidos.
Algumas figuras proeminentes, como o deputado Clay Higgins, de Louisiana, têm promovido teorias infundadas sobre agentes federais que se disfarçaram de apoiadores de Trump para causar tumulto, enquanto outros, como o deputado Thomas Massie, de Kentucky, têm chamado o inspetor geral para incluir detalhes sobre o uso de informantes pagos durante o episódio. Assim, a política é colocada cada vez mais em primeiro plano nas discussões sobre a segurança do Capitólio.
Apesar de o FBI não ter negado a presença de fontes humanas confidenciais naquele dia, o diretor da instituição, Christopher Wray, tem afastado veementemente a alegação de que o escritório orquestrou a violência. Ele reafirmou, em uma audiência, que “se você está perguntando se a violência no Capitólio em 6 de janeiro foi parte de alguma operação orquestrada por fontes e/ou agentes do FBI, a resposta é enfaticamente não.”
Apesar de suas fortes críticas, teorias sobre o papel do FBI no ataque ganham alguma força entre a população. Uma pesquisa recente indicou que 25% dos americanos acreditam que é “provavelmente” ou “definitivamente” verdade que o FBI incitou as ações do dia. Esse tipo de desconfiança ressalta a fragilidade da relação entre os cidadãos e as instituições governamentais, exigindo um exame crítico sobre as repercussões sociais e políticas do evento.
Além disso, Trump prometeu emitir perdões a alguns dos condenados por crimes relacionados ao tumulto que ocorreu no Capitólio, sugerindo, em uma entrevista, que se concentrará naqueles que foram condenados por crimes não violentos, enfatizando a ideia de que tais indivíduos foram “excessivamente punidos”. As questões éticas e jurídicas que surgem a partir do uso do poder de perdão no contexto de ações delituosas associadas ao dia 6 de janeiro continuam a gerar debates acalorados em várias esferas da sociedade.
Recomendações do inspetor geral e resposta do FBI
O inspetor geral recomendou que o FBI avalie seus procedimentos de preparação para possíveis questões de segurança doméstica que não sejam designadas como eventos especiais de segurança nacional pelo Departamento de Segurança Interna. Embora 6 de janeiro de 2025 tenha sido designado como um evento especial de segurança nacional, a necessidade de uma análise prévia mais abrangente continua a ser um tema de discussão crucial em relação à segurança interna dos Estados Unidos.
Em resposta ao relatório, o FBI expressou desacordo com alguns aspectos do documento, mas enfatizou que aceitaria as recomendações do órgão. A instituição ressaltou que antes do 6 de janeiro, “múltiplos escritórios de campo” forneceram informações em resposta a direções do escritório de campo de Washington e da sede do FBI.
O FBI, embora continue a discordar de certos relatos fatuais no relatório, aceitou a necessidade de melhorias processuais para futuros eventos dessa magnitude. O gesto de aceitação, mesmo em meio a discordâncias, é um passo importante na busca por fortalecer os sistemas de proteção e resposta das autoridades federais nos casos de possíveis ameaças à segurança nacional.
Como conclusão, o dia 6 de janeiro permanece como um evento nebuloso no cenário político americano, cujos impactos são profundamente sentidos nas dinâmicas atuais da sociedade. O desdobramento das investigações e as implicações políticas do relatório podem muito bem moldar a maneira como o FBI e outras agências operam em sua luta contínua contra a extremidade e a desinformação, enquanto a nação continua a buscar respostas e justiça.
Esta reportagem teve a contribuição de Holmes Lybrand da CNN.