Nova Iorque
CNN
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A rede de farmácias Walgreens está, atualmente, no centro de uma crise significativa que reflete um padrão preocupante que permeia o setor farmacêutico nos Estados Unidos. Nos últimos anos, a empresa enfrentou uma queda drástica em suas ações, que despencaram mais de 80%, posicionando-a entre os piores desempenhos do mercado. No intento de contornar essa situação adversa, Walgreens anunciou a **redução de 1.200 lojas**, o que representa aproximadamente 15% de todas as suas unidades. Além disso, a empresa está explorando a possibilidade de **se tornar uma entidade privada**, buscando respaldo junto à **Sycamore Partners**, uma firma de private equity.
A busca da Walgreens por soluções é emblemática das dificuldades enfrentadas por muitas farmácias em território americano. O que poderia ser um alívio para a empresa, no entanto, é uma **não resposta** do setor em geral, que se vê assustado diante das incertezas do mercado. A volatilidade atual pode ser atribuída a uma combinação de fatores, incluindo a dependência excessiva da Walgreens em sua divisão de farmácia, que enfrenta uma concorrência implacável com a CVS, e o aumento da *digitalização das compras*, que fez com que muitos consumidores preferissem adquirir medicamentos e produtos de saúde online.
Desafios enfrentados pelas farmácias atualmente
A Walgreens enfrenta, inegavelmente, uma concorrência severa por parte da CVS, que tem se diversificado em serviços de saúde, tornando-se mais competitiva no mercado. O fato de a Walgreens ser uma rede farmacêutica menor a torna menos capaz de negociar com seguradoras e outros agentes do setor de saúde, o que acarreta em prejuízos financeiros diretos. Com menos poder de negociação, a Walgreens está cada vez mais à mercê das condições impostas pelos gerentes de benefícios farmacêuticos (PBMs), que têm reduzido as taxas de reembolso e, consequentemente, a margem de lucro das farmácias.
A queda a que o setor de farmácias vem se submetendo se estende também ao front-end, onde produtos como lanches e itens essenciais têm perdido espaço para as compras online em plataformas como Amazon e revendedores de grande porte, como Walmart. A Walgreens, que obtém 26% de suas vendas de farmácia no varejo desses produtos, está em desvantagem em relação à CVS, que apresenta uma proporção de 21%.
Fechamento de farmácias e suas consequências para o sistema de saúde
Os desafios enfrentados pela Walgreens não são únicos. Um estudo recente publicado na revista Health Affairs revela que **quase um terço das farmácias nos EUA** fechou suas portas entre **2010 e 2021**. A situação é ainda mais alarmante em comunidades predominantemente Black e Latino, onde a probabilidade de fechamento de farmácias é significativamente maior. Este cenário levanta preocupações sérias sobre o acesso a medicamentos e serviços de saúde essenciais, contribuindo para um aumento das disparidades de saúde no país.
As farmácias independentes frequentemente enfrentam dificuldades ainda maiores do que as grandes redes, sendo mais que o dobro daquelas que fecham as portas, muitas vezes devido à exclusão em redes de reembolso, o que torna seu funcionamento econômico insustentável. Os riscos associados à redução no número de farmácias também se relacionam diretamente com o acesso a serviços básicos de saúde, incluindo vacinas e medicamentos prescritos para condições críticas, como HIV e desordens relacionadas ao uso de opióides.
Jenny Guadamuz, professora assistente da Escola de Saúde Pública da UC Berkeley e co-autora do estudo sobre o fechamento de farmácias, destacou: “Nossos achados sugerem que os fechamentos podem ampliar as disparidades de saúde no acesso a serviços essenciais de farmácia”. O diálogo em torno da saúde pública atinge um ponto crítico, em que a preservação das farmácias locais é imperativa para garantir um acesso equitativo ao cuidado de saúde em todo o território americano. Como consumidores, é essencial que cada um de nós reflita sobre como nossas escolhas de compra podem impactar não apenas o setor farmacêutico, mas, principalmente, a saúde da comunidade em que vivemos.