um estudo sobre a estrutura emocional e a ação de ‘Jigra’
A obra cinematográfica ‘Jigra’, produzida pela Dharma Productions e lançada em 11 de outubro de 2023, apresenta uma narrativa multifacetada que envolve tanto drama emocional quanto ação intensa, enquanto oferece uma análise reveladora da relação entre irmãos diante de adversidades extraordinárias. Sob a direção de Vasan Bala, que também é co-roteirista do projeto, o filme aborda temas de coragem e resiliência através da figura central de Satya, interpretada com maestria pela talentosa Alia Bhatt. Desde o início, o longa-metragem se apresenta como uma tentativa de mesclar emoção com suspense, resultando em uma experiência que, embora sedutora, carece de uma coesão narrativa robusta.
No cerne da história, Satya e seu irmão mais novo, Ankur, são orfãos que enfrentam uma vida marcada pela indiferença e pela crueldade da família que os acolhe. A trama se intensifica quando Ankur é encarcerado em um país fictício chamado Hanshi Dao, uma localidade que, segundo a narrativa, se encontra nas proximidades da Malásia. A partir desse ponto, o filme evolui para uma jornada frenética, com Satya se transformando numa figura heroica, determinada a resgatar seu irmão a qualquer custo. A interpretação de Alia Bhatt é exemplar, transmitindo uma força que transcende sua estatura física, com momentos que a consagram como uma verdadeira estrela de ação. Em um dos diálogos, uma figura admiradora se refere a ela como uma “gundi”, termo que, dentro do contexto, é um elogio, sublinhando a robustez de sua personagem.
aspectos de produção e a dimensão estética de ‘Jigra’
Vasan Bala, ao lado do co-roteirista Debashish Irengbam e da editora Prerna Saigal, estabelece uma ambientação rica e complexa, introduzindo os personagens e suas relações antes mesmo dos créditos iniciais. A opulência e crueldade que cercam a família dos protagonistas são elementos que servem para justificar a trajetória trágica de Satya e Ankur, cuja vida é marcada pelo desprezo. O trabalho do diretor de fotografia, Swapnil Suhas Sonawane, se destaca pela habilidade em criar uma atmosfera visual que reflete a dualidade do ambiente em que a ação se desenrola: por vezes belo, por vezes ameaçador. Embora haja momentos em que a estética pareça forçada, como a utilização de quadros em preto e branco sem um propósito claro, a maior parte do filme consegue capturar a essência da batalha emocional de Satya.
Um dos pontos culminantes do enredo ocorre durante o encontro de Satya e Ankur na prisão, onde a performance de Vedang Raina se destaca, demonstrando um equilíbrio entre talento dramático e carisma genuíno. A música composta por Achint Thakkar complementa a narrativa, elevando os momentos de tensão e desespero com notas que ressoam profundamente. No entanto, à medida que a trama avança e se transforma em uma tentativa de jailbreak, seus alicerces começam a desmoronar, tornando a narrativa cada vez mais distante da realidade e acreditável.
Outro aspecto que compromete o enredo é a caracterização de Hansraj Landa, o carcereiro sádico interpretado por Vivek Gomber, que se torna um clichê cinematográfico. Sua figura, que busca prazer no sofrimento dos detentos, remete a personagens similares em obras anteriores, mas sua representação não possui a profundidade necessária para cativar o público. A conexão entre Satya e os aliados que a acompanham na busca por Ankur também carece de desenvolvimento eficaz, com personagens secundários que parecem ser inseridos apenas para trazer um apelo massivo à narrativa.
A intertextualidade e as referências a clássicos do cinema indiano, como as canções de Kaifi Azmi e diálogos de Amitabh Bachchan, poderiam adicionar uma camada de nostalgia, mas também se revelam um recurso excessivamente utilizado que, em alguns momentos, dilui a urgência da história. Enquanto tentativas de entrelaçar uma resistência política e social em Hanshi Dao via movimentos de liberdade não são suficientemente exploradas, a conclusão apoteótica do filme com uma onda de ação frenética parece desconexa e reduz o impacto emocional desejado.
Em suma, ‘Jigra’ se revela uma obra interessante, repleta de potencial e interpretações memoráveis, especialmente a de Alia Bhatt, que brilha em um papel exigente e profundamente emocional. No entanto, a falta de rigor na trama e o desenvolvimento dos personagens subaproveitam o grande esforço criativo envolvido. Encontrar um equilíbrio entre a emoção genuína e os elementos de ação tem sido um desafio interessante na cinematografia contemporânea, e ‘Jigra’ serve como um exemplo patente de como essa colagem de gêneros pode resultar em um produto cinematográfico ambicioso, mas, por fim, irregular.