A curiosidade e a inovação estão sempre presentes no mundo da nutrição, e uma descoberta recente está fazendo com que muitos revisitem suas percepções sobre uma humilde leguminosa que foi tipicamente associada a risadas e flatulências. O feijão, que frequentemente é lembrado pela famosa canção infantil “Feijão, feijão, o fruto mágico, quanto mais você come, mais você solta”, agora é reconhecido como uma fonte importante de proteína e um componente necessário para uma alimentação saudável. Essa mudança de perspectiva ocorre à luz do novo relatório do Comitê de Consultoria Alimentar dos EUA para 2025, que lançou diretrizes alimentares que podem transformar a forma como os americanos se alimentam nos próximos anos.
No dia 17 de outubro, o Comitê de Consultoria Alimentar dos EUA revelou uma nova orientação científica, apontando os feijões, as ervilhas e as lentilhas como os protagonistas da seção de proteínas na famosa tabela de orientação alimentar, o “MyPlate”. O membro do comitê, Dr. Christopher Gardner, professor de Medicina na Stanford Prevention Research Center, enfatizou que a prioridade para o grupo de proteínas deve ser dada a essas leguminosas nutritivas, deixando a carne e até mesmo as carnes magras para o final da lista. Essa decisão não é apenas uma questão de preferências alimentares, mas reflete a crescente evidência sobre os benefícios dos alimentos à base de plantas.
As pesquisas demonstram que substituir uma fonte de gordura saturada de origem animal por outra, como a carne magra, não traz grandes benefícios à saúde. “Isso tem a ver com a fibra; não há fibras na carne”, explicou Gardner. Ele reforçou que a transição para feijões, ervilhas, lentilhas, grãos e vegetais não só reduz a gordura saturada, mas também incorpora fibras essenciais para a saúde. Este aspecto é crucial, considerando que as fibras promovem a saciedade, ajudam na digestão e desempenham um papel fundamental na prevenção de doenças crônicas.
Pelos benefícios à saúde e ao planeta
As leguminosas, incluindo feijões, lentilhas e ervilhas, são fontes acessíveis de proteínas, vitaminas, carboidratos complexos e fibras. Além dos atributos nutricionais, esses alimentos oferecem um leque de benefícios ambientais. O Dr. David Katz, especialista em medicina preventiva, destacou que consumir mais feijões é benéfico não apenas para a saúde individual, mas também para a saúde do planeta. Afinal, a produção de carne está entre as principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, com as vacas contribuindo significativamente por meio do metano que liberam pela digestão.
Em contraste, o cultivo de leguminosas gera muito menos impacto ambiental e exige significativamente menos espaço. Um estudo realizado em 2017 pela Universidade Loma Linda sugeriu que se a maioria dos americanos fizesse a troca regular de carne bovina por feijões, a redução nas emissões de gases de efeito estufa alcançaria quase dois terços das metas estipuladas pelo Acordo de Paris. Imagine a diferença que essa mudança poderia fazer: menos flatulências e um clima mais saudável!
Um chamado à ação: por que devemos mudar nossos hábitos alimentares
No relatório divulgado pelo Comitê, também foi recomendado que os americanos, a partir dos dois anos de idade, reduzam a ingestão de carnes vermelhas e processadas, além de sal, açúcar e grãos refinados. Em vez disso, é incentivada a adoção de uma dieta rica em vegetais, frutas, leguminosas, nozes e grãos integrais. “O resumo é simples: coma mais vegetais, equilibre as calorias e evite o excesso de sódio, açúcar e gordura saturada”, disse a Dra. Marion Nestle, cientista de nutrição de renome. Essa simples mensagem se alinha ao que vem sendo falado desde a década de 1980 — e ainda é tão relevante quanto antes.
Uma diferença significativa em relação às recomendações anteriores é a ênfase na equidade na saúde. Por exemplo, os alimentos lácteos desnatados e com baixo teor de gordura foram despriorizados, considerando que muitas culturas ao redor do mundo são intolerantes à lactose. O objetivo é assegurar que a nutrição contemplasse uma variedade de etnias e culturas, além das tradições alimentares ocidentais. Além disso, houve a sugestão de reduzir a ingestão de alimentos ricos em amido, pois muitos alimentos de baixo valor nutricional, como pães brancos e doces, não contribuem adequadamente para uma dieta saudável.
Frente à pressão dos alimentos ultraprocessados
Pela primeira vez, o Comitê também examinou o papel potencial dos alimentos ultraprocessados na epidemia de obesidade nos EUA. Contudo, a análise foi restrita e limitou-se a investigar como esses alimentos afetam o crescimento e o ganho de peso ao longo da vida. Infelizmente, a natureza limitada das pesquisas nessa área dificultou a obtenção de conclusões robustas. Embora tenha sido encontrada “evidência limitada” sobre como os alimentos ultraprocessados podem levar ao ganho de peso, não foram feitas recomendações para ações nessa direção, deixando isso como responsabilidade das futuras diretrizes de 2030 a 2035.
A nova abordagem do Comitê e a espera dos próximos cinco anos é uma oportunidade valiosa para que a pesquisa sobre esses alimentos evolua. Estudos futuros serão fundamentais para que a questão dos alimentos ultraprocessados não seja esquecida e se torne uma prioridade na saúde pública. O que restará para ser visto é como as diretrizes alimentares de 2025-2030 deverão evoluir a partir desta base da ciência e das preocupações soberanas sobre a alimentação na saúde humana e planetária.
Consolidando-se como protagonistas do futuro da nutrição, os feijões e suas leguminosas irmãs estão prontos para selecionar o caminho da saúde e sustentabilidade que muitos nutrição têm buscado. Então, da próxima vez que você se sentar à mesa, considere adicionar um pouco mais de feijão ao seu prato. Além da saúde do seu corpo, você poderá contribuir para a saúde do planeta. Ah, e quem sabe, você pode até acabar em uma nova e otimizada versão da canção infantil!