Em uma crítica contundente ao reconhecimento da Time, a co-proprietária do Washington Mystics, Sheila Johnson, expressou sua insatisfação com a decisão da revista de eleger Caitlin Clark, estrela do Indiana Fever, como a “Atleta do Ano” de 2024. Johnson, bilionária e defensora da igualdade e diversidade no esporte, acredita que esse tipo de reconhecimento seletivo, que destaca apenas uma jogadora, não representa adequadamente o talento diversificado presente na WNBA.
A escolha de Clark foi anunciada na última terça-feira, e rapidamente se tornou um assunto de aclamação. Ela, que apenas 22 anos, teve um ano incrível, quebrando diversos recordes, tanto no nível universitário quanto na WNBA, e estabelecendo novos padrões de audiência para a liga. No entanto, a diretora ficou em dúvida sobre a decisão de um reconhecimento que poderia inclusivamente ter amado à WNBA como um todo, ao invés de focar apenas na trajetória de Clark.
Durante uma entrevista à CNN, Johnson pediu uma cobertura mais abrangente do campeonato, que, em sua visão, deveria celebrar a variedade de talentos disponíveis em todas as equipes. “Eu só me pergunto: por que a Time não poderia ter colocado toda a WNBA na capa?”, questionou ela. Sua afirmação veio com a ressalva de que o aleatório destaque pode criar descontentamento entre as jogadoras que também merecem reconhecimento por suas performances excepcionais.
“Singularizar uma única atleta nas manchetes pode gerar ressentimentos. Há um vasto leque de talentos na liga, que merece ser reconhecido”, enfatizou Johnson. A co-proprietária de três franquias esportivas em Washington, incluindo os Capitals da NHL e o Wizards da NBA, defende o entendimento de que, enquanto Caitlin Clark é sem dúvida uma jogadora extraordinária, outras atletas, como Angel Reese, também superaram limites e conquistaram o merecido espaço na mídia.
A atuação de Clark em sua temporada de estreia com o Indiana Fever foi aclamada, ao ser premiada como a Novata do Ano e fazendo parte do primeiro time da All-WNBA — sendo a primeira novata a conquistar tal honra desde 2008. Além disso, sua entrada na liga coincidiu com um aumento sem precedentes na cobertura e visualização dos jogos da WNBA, resultando em uma elevação de 48% na presença do público em relação ao ano anterior, uma revolução que alguns têm chamado de “O efeito Caitlin Clark”.
Entretanto, à medida que o reconhecimento de Clark aumenta, também surge o debate sobre questões de justiça e igualdade dentro da liga. Johnson destacou que o sucesso comercial de Clark, que inclui uma negociação de patrocínio de longo prazo com a Nike no valor de 28 milhões de dólares, tem causado certo desconforto entre suas colegas, que se perguntam por que não recebem a mesma visibilidade e oportunidades.
“Elas também desejam reconhecimento. Tudo começou com o patrocínio da Nike que Caitlin conseguiu”, disse Johnson, observando que muitas atletas querem a mesma valorização e retorno financeiro que a estrela novata obteve. Com isso, ela destacou a importância de se reconhecer a construção da liga pelos talentosos jogadores negros que constituem a maior parte do seu sucesso.
O debate sobre a cobertura da mídia e suas consequências está longe de ser simples, especialmente quando se trata de rivalidades em quadra. A histórica rivalidade entre Clark e Reese, mencionada frequentemente, não apenas alavanca o interesse no basquete feminino, mas também levanta questões sobre raça e representatividade. O comissário da WNBA, Cathy Engelbert, descreveu a rivalidade como semelhante à de Magic Johnson e Larry Bird nos anos 70 e 80, o que, embora alimentasse a competição, também trouxe à tona narrativas raciais que podem ser prejudiciais.
Johnson expressou preocupação sobre como a mídia trata essas comparações e seu impacto. “É imprescindível que a cobertura da mídia seja cuidadosa para não transformar isso em uma questão racial, pois isso só afastaria anunciantes”, avaliou. Ela acredita que é fundamental encontrar um equilíbrio que não gere divergências desnecessárias entre as jogadoras e que promova uma imagem coesa e unida da liga.
Caitlin Clark também se mostrou consciente das discussões em torno de sua ascensão e do tratamento preferencial que pode ter recebido. Em uma conversa com a Time, ela ressaltou a sua dedicação e esforço, mas também reconheceu que a sua posição como mulher branca pode ter proporcionado vantagens que outras jogadoras não tiveram. “Eu quero dizer que ganhei cada coisa que tenho, mas como pessoa branca, há privilégio”, afirmou Clark. Ela destacou que a liga foi construída por elas e que um reconhecimento mais igualitário ajuda a fortalecer não apenas a programação, mas a cultura em torno do basquete feminino.
Ainda assim, a importância da união emergiu nas palavras de Johnson. Ela elogiou o patamar que Clark alcançou, mas enfatizou a necessidade de toda a liga se unir, especialmente em um momento em que está a atingir novos patamares. “Estamos numa fase crucial onde precisamos aproveitar a nova onda. Eu não quero perder esse ímpeto”, concluiu Johnson, fazendo ecoar um apelo por cooperação e solidariedade no basquete feminino, seja em quadra, seja fora dela.
O futuro da WNBA dependerá não apenas de estrelas individuais, mas de uma liga que se una em torno de suas jogadoras e celebre a diversidade e inclusão que este esporte deve representar. Após várias décadas de desafios, a liga está em um ponto de virada, e a maneira como aborda questões como reconhecimento e representatividade será crucial para os próximos capítulos de sua história.