A atual situação no norte da Síria se tornou preocupante, especialmente em relação à integridade de uma represa vital nas proximidades de Tishreen, que está sob ameaça devido aos conflitos entre grupos curdos e facções apoiadas pela Turquia. Enquanto o restante do país parece experimentar um relativo calmaria, a região norte se transforma em um campo de batalha, que, segundo especialistas, pode ter consequências devastadoras não apenas para a infraestrutura local, mas também para as comunidades que dependem dela.
As hostilidades têm se intensificado entre as Forces Democráticas da Síria (SDF), predominantemente curdas, e grupos da Free Syrian Army (FSA), que são aliados da Turquia. A luta não é apenas uma questão de domínio territorial, mas reflete uma complexa teia de rivalidades políticas e etno-nacionalistas que caracterizam a atual fase do conflito sírio. Embora um cessar-fogo de quatro dias tenha sido anunciado na cidade de Manbij, os combates ao sul da cidade continuam, particularmente em torno da represa de Tishreen, que é um recurso crítico para a região.
Durante os últimos dias, a SDF anunciou a expulsão de ataques de grupos mercenários nas proximidades da represa, alegando ter causado mais de 200 baixas entre os oponentes, enquanto perdeu apenas oito de seus próprios combatentes. No entanto, a situação no terreno permanece nebulosa, uma vez que vídeos divulgados mostram um grupo apoiado pela Turquia controlando a ponte sobre o rio Eufrates, o que levanta dúvidas sobre a veracidade das reivindicações da SDF.
A fragilidade da represa de Tishreen é preocupante. Especialistas alertam que os danos resultantes do conflito podem provocar inundações em mais de 40 aldeias localizadas a montante, colocando milhões de vidas em risco. De acordo com a UNICEF, o risco de um “corte total de água” para mais de três milhões de pessoas na área de Aleppo é real, já que uma estação de tratamento de água nas proximidades está sem energia. Isso jettisonaria as precárias condições humanitárias que já afligem a região, demandando atenção urgente.
Além do combate ao longo do Eufrates, a cidade de Raqqa, sob controle da SDF, vivenciou uma onda de celebrações em resposta à queda do regime de Assad, resultando em confrontos que deixaram ao menos uma pessoa morta e 15 feridos. A grande parte da população de Raqqa é árabe, com a minoria curda, e as tensões aumentam à medida que alguns residentes exigem ao SDF que entregue o controle da cidade à FSA.
As preocupações atuais sobre a segurança na Síria não se limitam apenas aos conflitos entre esses grupos. O cenário se torna ainda mais complicado considerando o papel dos Estados Unidos e suas alianças no combate ao ISIS. Desde 2017, as SDF têm sido um aliado fundamental para os EUA na luta contra o ISIS, que uma vez dominou porções significativas do norte da Síria. No entanto, a Turquia vê os grupos curdos como afiliados do PKK, uma organização que tem vínculos com o terror em seu próprio território.
Neste contexto complexo, a presença de um secretário de Estado dos EUA na Turquia reforça a urgência da situação. Antony Blinken se reuniu com seu colega turco Hakan Fidan para discutir as consequências potenciais do conflito no norte, enfatizando o risco de uma possível revitalização do ISIS, que poderia tirar proveito do vácuo de segurança à medida que a guerra se intensifica.
Com a instabilidade no norte da Síria se intensificando e a disputa por poder e controle territorial em ascensão, analistas preveem um futuro incerto para a região. O Centro de Dados de Conflitos Armados e Eventos (ACLED) observa que os confrontos representam uma luta mais ampla por controle territorial e domínio político, sugerindo que o ISIS está bem posicionado para se beneficiar do ambiente volátil que se forma.
A luta pela represa e as crescentes tensões entre essas facções curdas e turcas podem significar, para a população local, não apenas uma batalha por poder, mas também por serviços essenciais como água e segurança. O mundo observa, apreensivo, os desdobramentos dessa crise no coração da Síria, onde as antigas rivalidades e novas ambições ameaçam agravar ainda mais os sofrimentos que a guerra civil já impôs ao povo sírio.
Fontes: CNN