O clássico do terror “O Iluminado”, lançado em 1980 e dirigido por Stanley Kubrick, permanece como uma das obras cinematográficas mais icônicas da história do gênero. A adaptação da obra de Stephen King não apenas se destacou por seu enredo perturbador e pela atuação marcante de Jack Nicholson e da falecida Shelley Duvall, mas também por seu enigmático ambiente de produção, repleto de histórias que se tornaram verdadeiros mitos ao longo do tempo. Recentemente, o autor Lee Unkrich, autor do novo livro “Stanley Kubrick’s The Shining”, desvendou um dos maiores mitos envolvendo a produção do filme, mudando a perspectiva do que se considera verdade sobre o processo criativo de Kubrick.
Durante uma recente entrevista com o ComicBook.com, para promover seu livro de dois volumes, Unkrich abordou um equívoco popularmente aceito sobre o estilo de direção de Kubrick e o número de tomadas em uma das cenas emblemáticas do filme. Comumente, acredita-se que a cena em que Duvall, com um bastão de baseball em mãos, sobe as escadas enquanto Jack avança em sua direção, teve nada menos que 148 tomadas, recebendo a classificação do Guinness Book of World Records como a “maior quantidade de repetições para uma cena com diálogos”. No entanto, Unkrich desmente essa afirmação, afirmando: “Isso simplesmente não é verdade. Eu tenho todos os documentos que provam.”
Para a elaboração do livro, Unkrich não só entrevistou todos os membros da produção que ainda estão vivos, mas também coletou documentos do set, incluindo as anotações da supervisora de roteiro June Randall, que oferecem um relato preciso sobre o número de tomadas feitas para cada cena. Embora os detalhes específicos sejam revelados apenas através da compra do livro, Unkrich menciona que a cena que exigiu mais tomadas foi, na verdade, uma das primeiras do filme, quando Stuart Ullman apresenta Jack e Wendy no Gold Ballroom. Ele observa: “Por algum motivo, Stanley fez muitas repetições dessa tomada. Mas mesmo assim, os números não estão nem próximos do que algumas das afirmações que circulam por aí dizem.”
Unkrich, famoso por ter dirigido “Toy Story 3” (2010) e “Coco” (2017), e por seu extenso trabalho na Pixar nos últimos trinta anos, oferece uma visão fascinante sobre a dinâmica que se formou entre Kubrick e Duvall ao longo das filmagens de “O Iluminado”. Desde sua estreia, a relação entre Kubrick e Duvall tem sido um tópico de intenso debate, especialmente após a divulgação de um documentário de 2012 chamado “Room 237”, que aprofundou ainda mais o mistério por trás do filme. A alegação de que Duvall foi maltratada no set de filmagens causou um impacto duradouro, levando muitos a acreditar que suas performances de terror e exaustão eram resultado direto desse manejo supostamente abusivo por parte do diretor, o que teria resultado em sua desistência de atuar.
Por outro lado, a verdade parece se situar em um meio-termo. Em uma entrevista concedida ao ComingSoon.net, Duvall admitiu ter sofrido com uma “grave crise de ansiedade durante as filmagens”, o que leva à compreensão de que o ambiente de trabalho de Kubrick poderia ter sido, de fato, tóxico. Entretanto, ela também expressou gratidão por ter participado da produção e respeito pela visão de Kubrick. É importante destacar que Duvall não se afastou de Hollywood por causa de “O Iluminado”, e os rumores em torno de sua saída contribuem para entender como as histórias podem ser exageradas com o passar dos anos.
Para aqueles que buscam acompanhar a evolução desta história, um sequela de “O Iluminado” intitulada “Doctor Sleep” foi lançada em 2019, sob a direção de Mike Flanagan, trazendo uma nova perspectiva à narrativa original e reavivando o interesse pelo universo criado por Stephen King. A continuação explora os eventos da vida do protagonista Danny Torrance, agora adulto, lidando com os traumas vividos em sua infância.
A análise de Lee Unkrich sobre os mitos que cercam “O Iluminado” oferece uma nova perspectiva sobre o clássico e revela a importância de distinguir entre ficção e realidade no que toca a produções cinematográficas. As histórias que se formam em torno da criação de filmes podem, por vezes, enriquecer a experiência do espectador, mas também é essencial abordar essas narrativas com um senso crítico. Afinal, a aura de mistério que rodeia Kubrick e sua obra indiscutivelmente eleva a experiência de assistir “O Iluminado”, mas, como Unkrich nos mostra, é um convite a questionar a veracidade das lendas que muitas vezes moldam o legado de grandes filmes.
Para os fãs de cinema e admiradores de histórias bem contadas, o livro de Unkrich não só promete revelar novos aspectos da produção, mas também nos desafia a considerar como a verdade pode ser distorcida enquanto percorremos os corredores da memória coletiva que formam a cultura cinematográfica.