A compositora islandesa Hildur Guðnadóttir, reconhecida por sua trilha sonora indicada ao Oscar em Joker, passou por uma transformação significativa em sua carreira desde que conquistou a estatueta de Melhor Trilha Sonora Original. “É como se eu tivesse me casado com isso, porque agora tenho esse prefixo”, brinca a artista ao se referir à sua nova identidade como “vencedora do Oscar”. “É difícil ver meu nome escrito em qualquer lugar sem esse prefixo”, comenta sobre a notoriedade que o prêmio trouxe para sua carreira.
Com 42 anos, Hildur retorna como a compositora da sequência do aclamado filme, Joker: Folie à Deux. Ela enfatiza que sua participação no projeto foi imediata. “Era uma decisão óbvia participar da sequência, pois a música foi uma parte tão crucial do primeiro filme”, explica, destacando sua preocupação em manter a sonoridade consistente. Segundo Hildur, o som do segundo filme vem da “mesma fonte” que o original, pois a estrutura do material sonoro estava profundamente conectada ao personagem de Joaquin Phoenix.
No entanto, esta nova produção se distingue da anterior, já que Joker: Folie à Deux se apresenta como um musical, onde o protagonista Fleck, interpretado por Phoenix, e Harleen Quinzel, trazida à vida por Lady Gaga, quebram em canções que representam os desafios internos e a dinâmica complicada entre os personagens. Embora Hildur não tenha feito os arranjos para os números musicais do longa, ela descreve a junção entre a trilha sonora e as canções como um “grande quebra-cabeça musical”, que exigiu um trabalho intenso de provas e erros para ser concretizado.
Ela explica que as músicas foram cantadas ao vivo no set, sem composições orquestrais, para que cada cena tivesse as canções como parte do desempenho. “Depois que terminaram as filmagens, o processo de arranjo começou, que é um pouco inverso ao que normalmente acontece”, afirma Hildur. A gravação foi realizada com um pianista ao vivo, que os atores podiam ouvir através de fones de ouvido, o que por si só apresenta um desafio, já que as performances variavam em cada take, obrigando Hildur a manter um arranjo adaptável.
A compositora se dedicou a criar uma nova “vocabulariedade” dos instrumentos de corda do primeiro filme, centrando sua composição no violoncelo. A maior parte da sequência ocorre durante o período em que o Joker está preso no Hospital Estadual de Arkham. Sua solução inovadora foi desenvolver um novo instrumento, que intuitivamente se tornaria parte do próprio arco da narrativa.
“Eu estava realmente curiosa sobre como fazer um instrumento que funcionasse como uma prisão”, revela Hildur. Essa curiosidade levou-a a pedir a um amigo, Úlfur Hansson, que projetasse um novo instrumento que ela chamou de “string prison” (prisão de cordas). O conceito era que esta nova criação se assemelhasse a uma cerca elétrica e, paralelamente, Hildur colaborou com o pai de Hansson, o luthier Hans Jóhannsson, para fabricar um “trench cello” (violoncelo de trincheira), um objeto utilizado por soldados da Primeira Guerra Mundial, que frequentemente carregavam balas dentro da caixa do instrumento.
O que torna essa história ainda mais interessante é o fato de que, durante a guerra, músicos usavam o trench cello para proporcionar um alívio ao horror das trincheiras. Em suas palavras, Hildur comenta: “O que estava descrito nas escritas históricas é que esse instrumento foi projetado para trazer alegria à situação mais horrenda imaginável. E achei que isso se alinhava perfeitamente com a forma como a mãe de Arthur sempre falava sobre ele.” Essa interligação entre a criação e a narrativa do filme traz um novo peso emocional à trilha sonora.
Contudo, a experimentação com o novo instrumento trouxe desafios inesperados. “As cordas ficaram extremamente quentes”, explica Hildur. “Você poderia realmente se queimar nelas, pois são muito amplificadas.” Apesar disso, Hildur valoriza sua colaboração com o diretor Todd Phillips, ressaltando: “A parte criativa de compor para esses filmes foi tão bela e incrivelmente aberta. Todd tinha tanta confiança no que eu estava fazendo desde o começo.”
Em suma, a jornada musical de Hildur Guðnadóttir em Joker: Folie à Deux representa não apenas um desafio artístico envolvente, mas também um profunda conexão com a narrativa e os personagens. Para mais histórias reveladoras sobre como os filmes são produzidos, acesse THR.com/behindthescreen.
Esta história apareceu pela primeira vez em uma edição independente de dezembro da revista The Hollywood Reporter. Para assinar a revista, clique aqui.