Nas últimas semanas, a região metropolitana de Nova York tem sido palco de uma série de avistamentos inexplicáveis de drones, que geraram preocupações significativas entre os moradores e a pressão sobre as agências federais para que esclareçam a situação. Os avistamentos não se restringem apenas a Nova York, mas também foram reportados em estados vizinhos como Nova Jersey, Connecticut, Pensilvânia e Virginia. A crescente presença desses veículos aéreos não tripulados em áreas residenciais e próximas a infraestruturas críticas levou a um chamado à ação de políticos locais e cidadãos preocupados.
No último sábado, a governadora de Massachusetts, Maura Healey, anunciou em sua conta no X (anteriormente Twitter) sobre o “crescimento no número de avistamentos de drones” em seu estado. Esse relatório fez de Massachusetts o mais recente estado a se juntar à lista de locais onde drones não identificados foram avistados, contribuindo assim para a crescente preocupação sobre a natureza dessas operações. Durante uma coletiva de imprensa, representantes de agências federais que respondem ao fenômeno deixaram os repórteres mais confusos do que esclarecidos, tanto minimizando quanto legitimando os temores sobre os drones relatados.
Um oficial do Departamento de Defesa informou que pessoal de segurança altamente treinado havia avistado drones em locais estratégicos como o Picatinny Arsenal e a Estação de Armas Navais de Earle, em Nova Jersey. No entanto, a origem e os operadores desses drones permanecem desconhecidos. “Não sabemos se é algo malicioso ou criminoso, mas posso afirmar que é irresponsável”, declarou o oficial, refletindo o sentimento de frustração que permeia as agências envolvidas.
Surpreendentemente, oficiais do FBI e do Departamento de Segurança Interna mencionaram que muitos dos avistamentos podem ser aeronaves tripuladas erroneamente identificadas como drones. Embora a instituição tenha expressado preocupação legítima, um representante do FBI lançou luz sobre o fenômeno, sugerindo que houve uma “ligeira reação exagerada” em relação aos relatórios. Isso leva a um dilema importante: como lidar com uma situação que mistura dúvidas, reações e possíveis falhas nas respostas governamentais.
As autoridades locais estão pressionando as agências federais por mais informações e recursos. “O que está em questão é o seguinte: eles não estão fornecendo informações suficientes ao público, e o público está preocupado”, disse o deputado Josh Gottheimer, um democrata de Nova Jersey que faz parte do Comitê de Inteligência da Câmara, em uma entrevista. A situação chegou a um ponto crítico onde um avistamento de drone levou ao fechamento temporário de pistas no Aeroporto Internacional de Stewart, a cerca de 70 milhas ao norte da cidade de Nova York.
A governadora de Nova York, Kathy Hochul, expressou seu descontentamento sobre a situação, afirmando em uma declaração que, no mês passado, havia solicitado ao Centro de Inteligência do Estado de Nova York que investigasse ativamente os avistamentos de drones e fizesse a coordenação com as agências federais. A preocupação é palpável entre os políticos locais, com a representante republicana de Nova York, Nicole Malliotakis, chamando a resposta à situação de “ultrajante”. Ela questiona por que há operações de drones nas proximidades sem que o governo forneça explicações sobre quem está controlando ou qual é a finalidade dessas atividades.
Os avistamentos de drones têm sido registrados em áreas críticas, como a infraestrutura de Port Liberty, próximo à Ponte Goethals, à Ponte Verrazzano-Narrows e à antiga instalação militar Fort Wadsworth. O presidente da Câmara de Staten Island, Vito Fossella, alertou que muitos dos avistamentos ocorreram à noite, persuadindo a comunidade a mantermos alerta. Informações de oficiais federais que se reuniram com políticos locais em reuniões fechadas indicam que os drones frequentemente voam em padrões coordenados e podem permanecer em voo por até seis horas. Embora os representantes federais tenham assegurado que não há evidência de ameaça à segurança pública, o prefeito de Belleville, Nova Jersey, Michael Melham, deixou claro que foi orientado a chamar a equipe antibombas do condado se encontrasse um drone caído.
Sistema de resposta e desconfiança da administração pública
O que se tem percebido é uma crescente desconfiança em relação à resposta do governo. Um legislador de Nova Jersey, o republicano Erik Peterson, acusou os oficiais federais de mentir sobre a presença e o propósito dos drones enigmáticos. Ele alegou em entrevista que “Eles estão mentindo. Esse é o resumo da situação”. Peterson, assim como outros oficiais, afirmou ter visto os drones pairando sobre sua casa no interior de Nova Jersey, área onde a escuridão noturna e a ausência de vias aéreas permitem uma visibilidade clara.
As perguntas pairam no ar. Por que tanta opacidade? Peterson lembrou da recente resposta do governo ao balão de vigilância chinês que cruzou o espaço aéreo dos EUA, sugerindo que a administração pode estar relutante em revelar informações sensíveis por vergonha ou por questões de segurança nacional. “Por que mentir? Ou porque o motivo é incrivelmente embaraçoso para a administração ou porque é um risco de segurança extremamente alto para o país e não querem nos contar”, ponderou Peterson.
A turbulência política se intensificou, com o presidente eleito Donald Trump exigindo que a administração Biden liberasse qualquer informação relacionada aos avistamentos ou então que abatesse os drones no céu. Ele twittou sobre as “avistamentos misteriosos de drones por todo o país” e a necessidade de esclarecer a situação dele, afirmando, “Não acho que isso possa estar acontecendo sem o conhecimento do nosso governo!”. A preocupação está longe de ser apenas circunstancial.
Por sua vez, o senador Richard Blumenthal, membro do Comitê de Segurança Nacional e de Assuntos Governamentais do Senado, afirmou que as autoridades devem utilizar análises inteligentes para lidar com a situação e garantir que drones não voem sobre aeroportos ou bases militares. Ele ousou até mesmo a sugerir que deveriam ser abatidos, se necessário, pois os drones estão transgredindo áreas sensíveis.
Os cidadãos também estão percebendo o descaso. O governador de Nova York, Kathy Hochul, fez um apelo ao Congresso, solicitando a aprovação da Lei de Reautorização e Segurança da Autoridade Counter-UAS. A governadora argumentou que a legislação proposta conseguiria conferir mais poderes aos estados e autoridades locais na luta contra os sistemas aéreos não tripulados e fortalecer a supervisão da FAA sobre as operações de drones. Até que esses poderes sejam concedidos, Hochul pede que a administração Biden tome medidas concretas, enviando recursos federais adicionais à Nova York e regiões circunvizinhas, a fim de garantir a segurança das infraestruturas críticas e da população local.
Embora as operações de drones sejam legalmente permitidas em ambientes especificados — segundo a FAA, são cerca de 791.597 drones registrados em todo os EUA — o enigma permanece sobre as reais intenções daquelas máquinas voadoras. Até o momento, as autoridades ainda não conseguiram identificar a origem dos voos misteriosos, mas uma investigação ativa do FBI está em andamento para saber mais sobre quem as opera e se houve violações das leis.
Em síntese, este é um momento de incerteza e desconforto coletivo na área metropolitana de Nova York. De um lado, cidadãos que temem pela segurança de sua cidade e, do outro, um governo que luta para apresentar respostas claras em face de um fenômeno que, ao mesmo tempo que é difícil de verificar, se tornou uma realidade inegável e persistente. O pedido à ação é urgentíssimo e ressoa a cada voo avistado no céu resplandecente de luzes misteriosas.